Debra W. Soh é uma neurocientista especializada em sexualidade humana da Universidade York, em Toronto (Canadá) e também trabalha com divulgação científica e jornalismo, escrevendo para a grande mídia como em “The Globe and Mail” e na “Scientific American“. Ela também é bastante ativa no Twitter e escreve em uma coluna para a Playboy. Abaixo, a entrevista realizada com ela no dia 23/08/2017, tratando sobre o entendimento neurocientífico da sexualidade humana, pornografia, pedofilia e o que a ciência pode dizer acerca das diferenças entre homens e mulheres.

LiHS Antes de mais nada, obrigado pela entrevista e nos diga: quem é você, o que você faz e o que te fascina em sua área de pesquisa?

Debra — Eu sou doutora em neurociência sexual e trabalho com jornalismo científico. Sexologia, ou o estudo científico do sexo, é criticamente importante porque o entendimento da sexualidade humana nos ajuda a entender melhor uma parte crucial de quem somos. O campo da neurociência também avançou enormemente nos últimos anos e hoje nós podemos investigar o cérebro de maneiras que antes não podíamos.

 LiHSAtualmente a sexualidade feminina se tornou um campo de batalha ideológico para a opinião pública, embora pouco sobre o assunto seja conhecido pelo público em geral e muita ignorância se alastre pelas câmaras-de-eco ideológicas. O que a neurociência nos diz a respeito?

Debra — Sistemas femininos e masculinos são diferentes e os estudos de imageamento cerebral oferecem evidências disso; por exemplo, quando olhamos para o modo como o cérebro responde à excitação sexual. Já escrevi antes sobre como eu não considero que as diferenças entre os sexos sejam inerentemente sexistas e que nós não deveríamos fingir que homens e mulheres são idênticos para obter paridade entre os gêneros. Ao negar tais diferenças nós dificultamos nossa habilidade de, de uma perspectiva científica, entender verdadeiramente por que somos como somos.

 LiHSTrabalho sexual é notadamente polêmico. Acerca da pornografia, o que se pode dizer das mulheres que a consomem e das que a produzem? E sobre prostituição, ela é invariavelmente ruim?

Debra — Como em qualquer questão, especialmente quando envolvemos política, deve-se ter uma abordagem baseada em evidências. A respeito de pornografia e de trabalho sexual, enquanto elas trabalhares de maneira ética e consensual, ok, são os fatores que eu acredito que determinam o resultado.

LiHSEstudos recentes sugerem um vínculo entre pedofilia e estruturas e funções cerebrais. Como este conhecimento pode nos ajudar a prevenir abusos sexuais infantis e tratar pessoas sofrendo de compulsões pedófilas?

Debra — É importante diferenciar pedofilia de abuso sexual infantil. Pedofilia se refere ao interesse sexual por crianças pré-púberes (crianças abaixo de 11 anos). Abuso sexual infantil é o que o nome diz. Nem todos os pedófilos são molestadores de crianças, bem como nem todos os molestadores de crianças são pedófilos.

As pesquisas mais atuais, incluindo estudos cerebrais nos quais eu trabalhei, sugerem que a pedofilia (o interesse sexual por crianças) é um fenômeno biológico e, como tal, não é uma escolha ou algo que possa ser mudado. Alguns pedófilos são comprometidos em viver sem realizar seus desejos (incluindo não consumir pornografia infantil) e nós devemos oferecer tratamento e apoio a eles desde o primeiro instante, pois isso previne que ocorram abusos sexuais infantis.

LiHSExistem diferenças objetivas entre homens e mulheres, ao menos em nível de tendências? As diferenças funcionais e de estrutura cerebral explicam ao menos parcialmente as diferenças de comportamento e de preferência entre homens e mulheres?

DebraSim. Estudos com neuroimagem mostram diferenças, em média, das funções e estruturas cerebrais (das massas branca e cinzenta) entre homens e mulheres. Elas são associadas às diferenças que observamos entre os sexos, correspondendo a diferenças de interesse e de comportamento. Isso não significa que a influências sociais não tem papel, mas não é correto dizer que gênero é construção social ou que todas as diferenças que vemos entre os sexos são aprendidas.

LiHSQuais os danos em potencial de ignorar diferenças entre homens e mulheres?

Debra — Alguns negam a ciência acerca das diferenças sexuais porque temem que ela será usada para justificar sexismo ou opressão sobre as mulheres. Entretanto eu defendo que negar fatos não os ajuda em seu propósito, porque isso não desafia as crenças subjacentes que servem de base às idéias sexistas, ou seja, que características e comportamentos tipicamente femininos sejam vistos como inferiores aos masculinos.
Negar tais diferenças também provoca impactos em nossa saúde. Por exemplo, homens e mulheres tem diferentes predisposições para certas condições médicas e riscos de saúde.
Infelizmente, quanto mais politizada se torna uma área de pesquisa, menos provável que ela atraia pesquisadores, pois eles sabem que haverá uma resposta pública negativa se o que eles descobrirem não apoiar idéias politicamente corretas. Agora a ideologia está interferindo em nossa habilidade de obter conhecimento e verdades científicas.
***
A versão original em inglês desta entrevista pode ser acessada aqui.

You may also like