Recentemente eu fiz um aborto.
Enfileirados na frente da clínica havia cerca de uma dúzia de manifestantes. Seguravam cartazes enormes com slogans antiaborto, iconografias religiosas e imagens de bebês mortos.
Ao passar pelas portas à prova de balas, a natureza gráfica daquelas fotos me assombrava na sala de espera. Que cara teria o meu aborto? Decidi documentar secretamente meu aborto com meu celular.
Minha intenção ao documentar e compartilhar o meu aborto é desmistificar as imagens sensacionalistas propagadas pela direita religiosa e política sobre essa questão. O uso perverso de fotografias de fetos mortos são uma arma de propaganda do debate pró-vida/pró-escolha no qual as mulheres e seus corpos são usados como peões para favorecer interesses culturais, políticos e religiosos nos Estados Unidos.
Às 6 semanas de gestação, meu aborto teve uma aparência bem diferente das imagens que vi quando entrei na clínica naquele dia.
Este é meu aborto.

Para saber mais sobre este projeto, por favor leia minha carta aberta ao jornal The Guardian.
Essa foi minha experiência. Não sou uma especialista médica. Encorajo todas e todos a se educarem sobre o aborto com as informações mais diversas que estiverem acessíveis. Através da educação, você pode tomar uma decisão informada sobre o que é o melhor para o seu corpo.

Se quiser escrever pessoalmente para mim, faça-o em inglês para jane@thisismyabortion.com.

***

O Conselho Feminista da Liga Humanista Secular do Brasil, responsável por esta versão, também está aberto para comunicação através do email cofem@ligahumanista.org.br.
ATENÇÃO: Este site é a tradução livre do site ThisIsMyAbortion.com, de autoria de Jane, uma americana que prefere manter-se anônima. O conteúdo desse site, de teor educacional, não reflete, necessariamente, a opinião da Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS). Embora a LiHS defenda o direito ao aborto, não recomenda o procedimento já que é considerado crime no Brasil. Salvo em condições muito específicas (quando há risco de vida para a mulher causado pela gravidez, quando a gravidez é resultante de um estupro ou se o feto for anencefálico), infelizmente o aborto ainda é crime no Brasil (Art. 124. Código Penal Brasileiro).

Intolerância religiosa contra ex-padres, ex-pastores, ex-obreiros, ex-fiéis? De onde ela vem?

Recentemente, um ex-pastor presbiteriano, colega daqui e também membro da rede Irreligiosos, relatou as pressões psicológicas, perseguições e discriminações que sofreu ao resolver tornar pública a sua mudança de convicções religiosas, deixando de ser pastor e convertendo-se em agnóstico irreligioso. O curioso é que,  ao contrário do que muitos podem inicialmente ter pensado, isto se deu dentro do próprio meio evangélico. A mim, isto causou apenas indignação, mas não surpresa, porque a reação dos crentes e ex-companheiros de denominação era previsível e o caso, um clássico várias vezes acontecido, sempre teve o mesmo desfecho. A história completa, para quem quiser conhecer, pode ser acessada neste link.  Vamos às constatações:

Intolerância religiosa contra antirreligiosos e ex-membros de comunidades religiosas

Após alguns anos analisando o comportamento e as reações dos religiosos contra aqueles que nunca compartilharam da sua fé ou que resolveram abandonar suas denominações e/ou renunciar às suas convicções, pode-se dizer que as reações preconceituosas e até mesmo agressivas são comuns, quase uma constante, principalmente entre as comunidades evangélicas. Você pode trocar de time de futebol e ainda assim manter suas antigas amizades e sentarem-se todos em torno de uma mesma mesa de bar; na política, onde a mentira e a hipocrisia são comuns, você pode trocar de partido político e continuar amigo de seus antigos companheiros de bancada (escondido dos eleitores, é claro); você pode separar-se, partir para um segundo casamento e continuar amigo(a) de seu ex-cônjuge, filhos e demais parentes, talvez até com alguns ressentimentos, mas num convívio harmonioso. No entanto, se você resolver deixar de ser religioso, abandonar ou trocar de denominação religiosa, você será discriminado e perseguido. Por que existem tantos desses casos?

Abaixo, um exemplo, colhido nas páginas do Livro de Visitas da rede “Irreligiosos”:

Sacerdotes religiosos têm de pregar e convencer, sem terem o direito de discordar

Quando comentávamos, na rede Irreligiosos, o livro “Onde a Religião Termina?“, de Marcelo da Luz , um outro ex-religioso, um padre católico que abandonou o sacerdócio depois de 20 anos, escrevíamos:

“…Por outro lado, há que se destacar também – e isso é explicado no livro – o drama que vivem os sacerdotes católicos tendo que pregar, sem terem eles próprios liberdade de opinião. Não podem falar sobre o que querem, sem se afastar da programação e dos cânones católicos, que os obrigam a pregar para uma plateia passiva que, por sua vez, só pode ouvir, mas não manifestar-se ou inquirir. Suas dúvidas e discordâncias aos textos bíblicos ou em relação àquilo que são obrigados a repassar para os fiéis, não podem jamais ser externadas publicamente”.

Terror, chantagens psicológicas e opressão mantêm os fiéis cativos

As religiões são tiranas, escravizantes, opressoras e não se contentam apenas com o proselitismo: querem, a todo custo, manter o fiel cativo de suas denominações (“perder fiel é perder dinheiro“). Não importa que isso seja feito à custa de enganações, mentiras, chantagens emocionais, terror ou charlatanismo. Por isso, quando um membro resolve se rebelar e revelar as verdades e falcatruas, tentam impedi-lo. Se não conseguem, tentam desacreditá-lo e é aí que começam as perseguições. Um caso muito conhecido foi o de um ex-pastor da IURD que resolveu abandonar a denominação, contando a verdade no livro “Nos Bastidores do Reino“. Sofreu horrores, foi perseguido, processado e o livro retirado de circulação, com o “bispo” Edir Macedo tendo mandado comprar todos os exemplares. Hoje, somente com muita sorte, você conseguirá comprar, assim mesmo só em sebos, algum exemplar desse livro.

No evangelismo, ex-pastores e ex-obreiros são estigmatizados quando abandonam a fé ou a denominação

Dezenas de relatos, livros e vídeos comprovam essa conclusão. Em alguns vídeos é relatado que caravanas de crentes assediam o ex-crente, até mesmo em sua própria casa. Não basta o assédio e, em seguida, a discriminação e a perseguição. Os evangélicos parecem regozijar-se quando um ex-pastor ou ex-obreiro cai em desgraça. Divulgam o fato na net, nas revistas, nos templos e citam-no como exemplo do que acontece quando alguém resolve abandonar a denominação ou converter-se em ateu.

Depois de tudo isso, é compreensível que o fiel fique com medo de abandonar a sua denominação e, muito mais ainda, de mudar sus convicções para antirreligiosas.

AIDS: DE UMA POLÊMICA, NASCE UM POST.


AIDS: DE UMA POLÊMICA, NASCE UM POST.
 

Originalmente publicado em: Fora do Armário

 

Camisinha sempre!

 

Graças a uma polêmica gerada por um post meu no Facebook hoje, acabei aprendendo muito hoje. Lendo os comentários de dois amigos, um conhecido há mais tempo, outro mais recente, cheguei à conclusão de que muita coisa pode ser mal entendida ou até mal explicada quando a gente se aventura na arte do diálogo. Não é fácil fazer-se entender, tanto quanto não é fácil entender o que o outro quer dizer. Se isso já é complicado quando ambos conseguem se colocar empaticamente no lugar do interlocutor, imagine quando tudo o que ambos querem é ganhar a discussão! Aliás, basta que um dos interlocutores tenha esse tipo de atitude para que qualquer tentativa de consenso naufrague. O consenso também é relativo. Consenso não garante a validade das premissas ou das conclusões. De qualquer, modo a gente sempre aprende, mesmo que não chegue a consenso algum. 

 

O tema da discussão era a prevenção ao contágio por HIV e o tratamento das pessoas que já são portadoras do vírus. Aparentemente, nada novo, mas graças a essa polêmica, eu revistei algumas ideias, aprimorei outras e pensei algumas novas.

 

O DIREITO À INFORMAÇÃO 

 

Todas as pessoas têm o direito de ser informadas sobre o que é HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e sobre o que é AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Todas as pessoas têm o direito de saber como se prevenir e o que fazer em caso de contágio. Mas, se as pessoas têm direito à informação, de quem será o dever de informa-las? Das autoridades governamentais, logicamente, assim como da mídia, da escola, e da família. Essa gama de informações deveria espalhar-se por toda a sociedade num movimento de cascata (de cima para baixo) e num movimento centrípeto (do centro para as extremidades). 

 

Brasil pode melhorar muito nesse sentido, mas certamente está a frente da maioria dos países do mundo.

 

O DIREITO À PROTEÇÃO 

 

Preservativos (camisinhas) deveriam estar disponíveis para todos e todas a qualquer momento. Espaços de entretenimento deveriam ter ‘displays’ oferecendo preservativos grátis, custeados pelo próprio Estado, de modo que ninguém deixasse de usar preservativo por falta de dinheiro. Isso deveria se aplicar a todos os estabelecimentos – de bares a boates. Além destes, eventos de massa deveriam ter ‘stands’ com preservativos e informações estrategicamente localizados. Os postos de saúde geralmente têm camisinhas disponíveis, mas deveriam coloca-los ao alcance do seu público sem que este precisasse requisitar. Rodoviárias, aeroportos, estações de trens e de metrô deveriam ter seus próprios ‘displays’ franqueados aos passageiros com camisinhas grátis. O acesso deveria ser igualitário em todos esses ambientes, independente da orientação sexual, gênero, idade, etc. 

 

Entretanto, ninguém pode ser coagido a usar camisinha. Ninguém pode ser obrigado a transar com camisinha, assim como ninguém pode ser obrigado a tomar banho, escovar os dentes ou executar qualquer outra ação de cuidado com o corpo. Apesar das atribuições do Estado, da mídia, dos estabelecimentos comerciais, das instituições educacionais, e do espaço familiar quanto à facilitação de acesso à informação e aos preservativos, a decisão será sempre do indivíduo, ou seja, é responsabilidade dele ou dela, faz parte da esfera individual. E por isso mesmo não se pode ter certeza de que as melhores práticas de conscientização, informação e apoio por parte do Estado e da sociedade civil, em público, resultarão na decisão pessoal e intransferível do indivíduo de usar ou não a camisinha em privado. 

 

O TRATAMENTO PARA QUEM É SOROPOSITVO 

 

O Brasil tem um programa de assistência à pessoa soropositva que – em tese – é avançadíssimo, porém na prática não tem funcionado tão bem assim. O RJTV de hoje (03/07/2012) denunciou a falta de leitos e remédios para pacientes de AIDS na rede pública – o que viola um direito garantido por lei. Devemos cobrar das autoridades, pressionar os governos, denunciar a omissão do poder público. 

 

O que não podemos, todavia, é usar essa omissão injustificável do governo como desculpa para agirmos de modo inconsequente. E nesse ponto eu posso soar um tanto insensível, mas o que tenho em mente é o seguinte: o uso de uma simples camisinha pode poupar muito sofrimento em longas filas de espera num hospital público, assim como muitas outras dores físicas e emocionais, além da interrupção da rotina pessoal por causa de consultas e internações. Quem gosta de hospital? Ninguém. Então, a melhor maneira de se prevenir ainda é o uso do preservativo. Não entram aqui juízos de valor sobre quem já se contagiou. O que as pessoas soropositivas precisam é de apoio, respeito e oportunidades para continuar vivendo de modo produtivo, satisfatório, buscando a realização de seus sonhos. Porém, é preciso procurar evitar que outras pessoas se contagiem. Do mesmo modo, é preciso evitar que as pessoas soropositvas peguem doenças oportunistas a partir de relações sexuais sem proteção. Vale lembrar que o HPV e o vírus da Hepatite C não têm remédio ainda, e se uma pessoa com HIV adquirir estes também, ela vai se colocar numa situação muito mais complicada. Então, preservativo é bom para todo mundo – soropositivo ou soronegativo. 

 

CONDIÇÃO SOROLÓGICA DOS CASAIS 

 

Casais variam de muitas maneiras. No que se refere ao HIV também. Existem casais soropositvos, ou seja, aqueles em que ambos os parceiros são portadores do vírus HIV. Existem os casais soronegativos, ou seja, aqueles em que nenhum dos dois tem o HIV. E existem os casais sorodiscordantes, ou seja, aqueles em que um parceiro tem e o outro não. Atualmente, sou casado com um cara que não tem o HIV e eu também não. Isso quer dizer que somos soronegativos. Porém, já tive dois relacionamentos em que eu sabia que o meu parceiro era soropositivo, ou seja, ele tinha o vírus HIV e eu não. Éramos sorodiscordantes. 

 

– Que diferença faz? – alguém poderia perguntar. 

– Nenhuma, na prática.

 

Se a camisinha é um hábito, não fará diferença se ele(a) tem ou não o vírus. Não usar camisinha, sim, poderia ser uma fonte de problemas no caso de parceiros sorodiscordantes. E não estou me referindo só à possibilidade de que o outro contraia o HIV, porque o parceiro que tem poderia contrair alguma oportunista por via sexual, e isso poderia colocar sua saúde em apuros.

 

Entretanto, as pessoas são livres para decidir. Algumas consideram uma prova de amor contrair o vírus do parceiro. Outras adoram a adrenalina das relações de ‘barebacking’, ou seja, fazer sexo sem camisinha, com um ou mais parceiros. Isso é uma decisão pessoal, mas não altera em nada o fato de que – para quem quer viver sem AIDS – a camisinha ainda é a melhor prevenção. E para quem tem o HIV, e quer viver muito, e sem sintomas, a camisinha será grande aliada. Até para quem já desenvolveu a síndrome, a camisinha é útil, porque pode poupa-lo(a) de outras doenças e evitar o aumento da carga viral – o que geralmente acontece quando ele mantém relações com outro parceiro também soropositivo. 

 

GRAVIDEZ 

 

Hoje em dia é possível – com assistência médica especializada – gerar filhos sem HIV, mesmo que o pai ou a mãe sejam HIV positivo. Essa decisão, porém, deve ser muito bem pensada. Eu tive dois amigos heterossexuais casados que deixaram duas filhas órfãs, porque o pai faleceu de complicações causadas pela AIDS, e a mãe também poucos meses depois. As crianças já eram nascidas quando eles contraíram o vírus. Casais que já têm HIV podem ser excelentes pais, mas devem pensar bem nos custos dessa paternidade/maternidade. ENTRETANTO, é importante que se diga que NENHUM casal, mesmo o mais saudável do mundo, poderá ter certeza de que viverá para criar os filhos ou que os filhos viverão para vê-los envelhecer. E a razão é simples: Não temos o controle do mundo ao nosso redor e nem mesmo de nossas vidas. Não é necessário estar doente para morrer, basta estar vivo. 

 

ESTATÍSTICAS 

Aids e o comportamento dos jovens 

(Extraído do Boletim Epidemiológico AIDS-DST – Ano VIII número 1)

 

O conhecimento da população jovem sobre as formas de infecção pelo HIV é alto, conforme os dois estudos realizados pelo Ministério da Saúde em 2007 e 2008, que abordam o comportamento da população brasileira em relação à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis.

 

No ultimo estudo realizado em conscritos, foram entrevistados cerca de 36 mil jovens do sexo masculino, entre 17 e 22 anos de idade, e os resultados apontam que cerca de 97% sabem que o uso do preservativo é a melhor maneira de se evitar a infecção pelo HIV. 

 

 

Com relação ao comportamento sexual dos jovens, comparando os resultados dos dois estudos em conscritos, realizados respectivamente em 2002 e 2007, observa-se que em torno de 20% dos jovens entrevistados em 2002 tiveram a primeira relação sexual antes dos 14 anos de idade, enquanto que, em 2007, esse percentual foi de 17,2%. Com relação ao numero de parceiros sexuais, em 2002, verificou-se que 19,1% tiveram mais de 10 parceiros na vida, enquanto que, em 2007, esse percentual passou para 26,2%. Além disso, segundo a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas (PCAP) na População Brasileira, realizada em 2008, a população jovem de 15 a 24 anos é a que mais tem parcerias casuais comparando com as demais faixas etárias.

 

Com relação ao uso de preservativo, a PCAP aponta que a população jovem de 15 a 24 anos, comparando com as demais faixas etárias, é a que mais usa em todas as situações, seja com parceiro casual ou fixo, e a que mais obtém o preservativo de graça (41,4%, comparando com a faixa etária de 25 a 49 anos, 28,6%). Cabe destacar que a escola é o segundo lugar de maior acesso ao insumo, sendo o primeiro o serviço de saúde. Das escolas brasileiras, 63% já trabalham com o tema DST e aids e cerca de 50 mil participam do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas – SPE.

 

Entretanto, apesar do grande conhecimento sobre a importância do preservativo, do seu alto uso na última relação sexual, respectivamente 67,8% e 55,0% com parceiro casual ou com qualquer parceiro, e do seu maior uso em relação às demais faixas etárias em todas as situações, comparando os resultados das PCAP de 2004 e 2008, o uso regular do insumo tem se reduzido. O uso do preservativo com parceiros casuais nos últimos 12 meses diminuiu de 58,4% (2004) para 49,6% (2008) e o seu uso com qualquer parceiro caiu de 39% para 32,6%.

 

Com relação aos jovens HSH, um dado positivo é que tendem a usar 2,2 vezes mais o preservativo do que os jovens heterossexuais. Em pesquisa realizada apenas com homossexuais, o uso do preservativo na última relação sexual com parceiro casual na população de jovens foi de 70,8%. Entretanto, quando se avalia o uso do insumo em todas as relações sexuais nos últimos 12 meses com parceiro casual, esse percentual diminui para 54,3%.

 

O Ministério da Saúde mantém estatísticas muito detalhadas sobre HIV/AIDS no Brasil. Quem desejar poderá ver adiante o site onde se encontram. Vou destacar aqui alguns pontos importantes do relatório de 2011.

 

De acordo com o referido relatório do Ministério da Saúde:

 

A prevalência de infecção pelo HIV na população de jovens gay, 1,2% em conscritos do Exercito em 2007, apresenta tendência de aumento no Brasil.

 

Nos últimos 12 anos, considerando os casos de aids notificados entre homens na faixa etária de 15 a 24 anos, houve um aumento de 45,9% na proporção de casos com categoria de exposição HSH (Nota: homens que fazem sexo com homens), 46,4% em 2010.

 

De 1980 a junho de 2011, no Brasil, foram notificados 608.230 casos de aids. Em 2010 foram notificados 34.218 novos casos (…). Ao longo dos últimos 12 anos observa-se uma estabilização da taxa de incidência no Brasil, mas segundo as regiões a taxa diminuiu na Região Sudeste e aumentou nas demais regiões.

 

 De 1980 a junho de 2011, no Brasil, foram notificados 14.127 casos de aids em menores de cinco anos. Em 2010 foram notificados 482 novos casos, com taxa de incidência de 3,5/100.000 habitantes. No Brasil, a taxa de incidência em menores de cinco anos é utilizada como indicador de monitoramento da transmissão vertical (Nota: de mãe para filho), e ao longo dos últimos 12 anos observa-se uma redução de 40,7%, mas segundo as regiões a incidência aumentou no Norte e Nordeste, e diminuiu nas demais regiões.

 

 De 1980 a 2010, no Brasil, ocorreram 241.469 óbitos tendo como causa básica a aids. Em 2010 ocorreram 11.965 óbitos, com coeficiente bruto de mortalidade de 6,3/100.000 habitantes. Considerando o coeficiente de mortalidade padronizado (População brasileira de 2000, IBGE), nos últimos 10 anos observa-se redução de 11,1% na mortalidade por aids no Brasil, mas segundo as regiões a mortalidade aumentou no Norte, Nordeste e Sul, diminuiu no Sudeste, e estabilizou no Centro-Oeste.

 

A população de jovens gays apresenta uma particular vulnerabilidade ao HIV/aids. Segundo a tendência observada nas ultimas pesquisas em conscritos, jovens do sexo masculino de 17 a 22 anos de idade, a prevalência de infecção pelo HIV na população HSH jovem aumentou entre 2002 e 2007, passando de 0,56% para 1,2%. Cabe destacar que a prevalência observada nos conscritos HSH é superior à prevalência observada na população total de conscritos (0,09% em 2002; 0,12% em 2007).

 

Com relação à categoria de exposição dos casos de aids notificados no Sinan em indivíduos do sexo masculino de 13 anos e mais de idade, observa-se que 30,4% dos casos notificados em 1998 ocorreram entre heterossexuais, sendo que em 2010 esse percentual passa para 42,4%.

 

 

Entretanto, entre homens na faixa etária de 15 a 24 anos, no mesmo período, houve aumento proporcional da categoria de exposição HSH, passando de 31,8% em 1998 para 46,4% em 2010.

 

De 1981 a 2011, a distribuição percentual de casos de AIDS no Brasil era a seguinte:

 

Sudeste: 56,4%

Sul: 20,2%

Nordeste: 12,9%

Centro-Oeste: 5,8%

Norte: 4,5%

 

Fonte:http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2011/50652/boletim_aids_2011_final_m_pdf_26659.pdf

 

REMÉDIOS E VACINAS SENDO TESTADOS 

 

Cientistas têm trabalhado incansavelmente na busca por uma vacina contra o HIV ou de uma cura para a AIDS. Todos aguardamos ansiosamente por esse momento em que teremos meios de acabar definitivamente com essa epidemia e proporcionar às pessoas mais felicidade e liberdade nesse sentido. 

 

Sobre isso, recomendo muito essa entrevista com o Dr. Drauzio Varella. Ele fala de modo claro e muito rico sobre HIV, AIDS, vacinas, etc.:http://drauziovarella.com.br/sexualidade/vacina-contra-aids/

 

Uma das perguntas que as pessoas mais fazem é onde podem fazer o teste e buscar aconselhamento. Aqui você poderá ter todas essas e outras informações úteis. Confira:http://www.aids.gov.br/pagina/aconselhamento

 

Enquanto eu escrevia esse post, o Jornal da Globo noticiou que os EUA liberou o uso de um teste caseiro para o HIV – o que vai garantir ainda mais privacidade na testagem. Porém, o teste não é 100% seguro. O ideal é, caso de positivo, confirmar com o teste tradicional num hospital.

 

PROFILAXIA PÓS-HIV 

 

Profilaxia pós-HIV é um procedimento que se faz depois que a pessoa se expôs ao vírus HIV, como forma de prevenção da infecção utilizando-se os medicamentos que fazem parte do coquetel para tratamento da Aids. Esse procedimento é indicado para pessoas que possam ter entrado em contato com o vírus recentemente, por meio de relação sexual desprotegida, ou seja, sem camisinha. Todavia, levando-se em consideração que o ideal é começar a tomar a medicação duas horas depois da exposição ao vírus, e no máximo em 72 horas, não vale a pena se arriscar confiando nisso. A melhor prevenção ainda é a camisinha. Além disso, os medicamentos precisam ser tomados por 28 dias, sem interrupção, e devem ser receitados por um médico. 

 

Essa forma de prevenção já é usada com sucesso em casos de violência sexual e de profissionais da área da saúde que se acidentam com agulhas e outros objetos cortantes contaminados. 

 

O governo de São Paulo disponibilizou um site com endereços de mais de 300 serviços cadastrados onde a profilaxia encontra-se disponível e também as dúvidas mais frequentes. As informações podem ser obtidas também por meio do Disque DST/Aids: 0800 16 25 50.

 

(com informações de Solange Spigliatti no site Jornal da Tarde)

 

O PRECONCEITO CONTRA O HIV POSITIVO 

 

Ainda existe muito preconceito contra pessoas HIV+. Eu mesmo (junto com uma assistente social amiga minha) já dei assistência a um adolescente que era rejeitado pelos pais por ser soropositivo. A mãe separava tudo dele: toalha, talheres, pratos, etc. Ninguém queria ficar perto dele por preconceito e ignorância. Estivemos na casa desse adolescente. Conversamos com a família, mas nada mudou. Acabamos tendo que arrumar abrigo para ele, a fim de evitar o pior. 

 

O preconceito é injustificável e destrutivo. Há pessoas que, diante disso, pensam em suicídio por desespero. Conheço pessoas que são soropostivas e não falam com a família por medo de serem discriminadas. Imagino a dor que é viver todo dia pensando que pode ser internado, e o médico revelar aos familiares sua condição. Imagino como deve ser ter que tomar remédio escondido ou dizer que é para enxaqueca, a fim de despistar os olhares dentro da própria casa. Quem nunca teve contato com pessoas soropositivas, mas já assistiu “Filadélfia”, com Tom Hanks, não consegue ficar insensível a tudo isso. Se ficar, só pode haver algo errado com tal pessoa. O filme mostra onde pode chegar o preconceito, mas também mostra como a dignidade e o orgulho pessoal pode conquistar direitos. 

 

Portadores do vírus HIV não oferecem risco algum às pessoas ao seu redor. Além, disso uma pessoa com HIV pode fazer tudo que outras pessoas fazem, seja no trabalho, nos estudos, no lazer, etc. Elas podem casar e até mesmo ter filhos, como eu disse anteriormente, desde que sejam observados alguns procedimentos definidos pelos médicos. 

 

Vale lembrar que morre mais gente de doenças do aparelho circulatório e de câncer (primeira e segunda maiores causas de morte no Brasil) do que de AIDS. O câncer de próstata pode ser curado se for identificado precocemente, porém mata mais de 32 mil homens por ano. As razões principais são a desinformação e o preconceito contra o exame de toque retal. Dizer isso não é tripudiar sobre eles, mas alertar os que são igualmente preconceituosos e desinformados, e que ainda têm chances de tratamento. O mesmo vale para o HIV: alertar quem não tem não é o mesmo que discriminar quem tem. 

 

O RESSENTIMENTO DE ALGUMAS PESSOAS HIV+ 

 

Graças ao sofrimento que o preconceito impinge sobre as pessoas HIV+, muitos revelam ressentimentos a qualquer sinal de alerta sobre o contágio ou qualquer comentário sobre sexo seguro. Isso é humano, demasiadamente humano, mas não constrói. Fico feliz em ver a coragem, sinceridade, simplicidade e paixão pela vida que gente como Fabrício é capaz de demonstrar ao falar sobre HIV, proteção, contágio, tratamento e até mesmo sobre sua própria condição. Ele não demonstra qualquer ressentimento contra quem não tem HIV. Afinal, ninguém é melhor ou pior porque tem ou deixa de ter. Seria uma estupidez gloriar-se de ser soropositivo, assim como também seria uma estupidez gloriar-se de ser soronegativo. Agora, uma coisa é certa: Todo mundo sente um frio na espinha quando vai fazer um teste HIV. E todo soropositivo festeja quando a taxa de CD4 está normal. E por quê? Porque todo mundo quer ser saudável. 

 

E quem disse que portador de HIV não é saudável? Todo mundo é saudável enquanto não manifesta alguma desordem, dor, etc. É possível viver anos com saúde, mesmo sendo HIV+. Agora, se alguém não tem o vírus, e pode evita-lo, por que ficar ressentido de que se diga tudo o que deve ser dito a respeito disso?

 

Para quem deseja informação bem embasada e em linguagem clara e acessível, sugiro o site do Grupo PelaVidda.

 

A INSTABILIDADE DA CONDIÇÃO HIV NEGATIVO 

 

Não existe estabilidade na condição de soronegativo. O HIV pode ser contraído de diversas formas: transfusão, agulhas compartilhadas, relação sexual, etc. Nem mesmo quem fez exame há três meses, seis meses ou um ano tem desculpa para não usar camisinha, porque não pode estar absolutamente seguro de que não se infectou depois disso. Fazer exame toda hora também não é garantia, porque existem as chamadas janelas imunológicas (período em que o corpo ainda não tem anticorpos que indiquem a presença do HIV no organismo através do exame de sangue). 

 

Ninguém deve se descuidar. Pensar que se, apesar de todo o cuidado, a pessoa pode se infectar em algum momento, não é preciso se preocupar com prevenção, é um absurdo, assim como seria um absurdo não tomar cuidado ao atravessar uma rua porque eventualmente alguém pode ser atropelado, mesmo estando na calçada.

 

Por outro lado, viver com medo é um desperdício de energia que cobra seu próprio preço. Portanto, não vale a pena viver com medo. Sexo é para ser desfrutado. O corpo de quem a gente quer ou de quem a gente realmente ama deve ser degustado com tesão e liberdade, na medida em que ambos estejam de acordo. Usar camisinha é sempre ótimo para os dois, mas nunca obrigatório. Com criatividade e tesão, qualquer um pode transformar a camisinha em fetiche. Por que não? 

 

Volto a dizer que, se duas ou mais pessoas decidirem transar sem camisinha, nada pode (e nem deve) ser feito para coibi-las ou para constrangê-las. Isso não está na esfera do público, mas do privado, mas as consequências dificilmente serão mantidas no privado para sempre. Essas pessoas não podem ignorar os riscos e nem os meios para reduzi-los. Mas, pelo que se vê a partir do relatório do Ministério da Saúde, citado no parágrafo sobre estatísticas, as pessoas nunca estiveram tão bem informadas. Pode melhorar, mas já não se pode dizer que maioria ignora os riscos e os meios de prevenção. Além disso, se numa extremidade da corda está o Estado, na outra está o indivíduo. Se numa extremidade está a disponibilização de informação, prevenção e tratamento, na outra está a decisão individual sobre o que fazer do próprio corpo. 

 

Cabe a cada um fazer de si o que bem entender, seja aceitando ou rejeitando a possibilidade de fazer sexo seguro ou sexo de risco, porque afinal – como canta Caetano Velloso – “cada um sabe a dor e alegria de ser o que é.” 

 

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A imprensa brasileira e a negação do racismo

Paula Borges

Fiquei sabendo do caso através de um amigo estrangeiro. Assustado, desnorteado com a realidade que fez com que todas as suas crenças sobre o Brasil caíssem por terra, ele me mandou um link da imprensa angolana que noticiava o assassinato de Zulmira de Souza Borges Cardoso, uma estudante de 26 anos que foi morta em São Paulo simplesmente por ser africana. Um Golf parou na frente de um bar, na região do Brás, e atirou contra um grupo de estudantes angolanos, ferindo três amigos de Zulmira, uma delas grávida. Uma série de veículos africanos e portugueses publicaram notas sobre o caso. Todos eles mencionavam a motivação racista do crime, e o fato que as testemunhas afirmavam terem presenciado agressões verbais de cunho racista por parte do atirador.

Ainda não querendo acreditar que era verdade, fiz uma busca pelas notícias locais. Nada encontrei de início, o que me deixou muito intrigada. O fato é que eu havia incluído o termo “racismo” na minha busca, e nenhum veículo da imprensa brasileira tinha esta palavra em seu texto. Mais de meia hora procurando, toda a grande mídia pesquisada, e nenhuma menção ao racismo em nenhuma das notícias. Embora as testemunhas e a imprensa internacional fizessem questão de explicitar a motivação do crime, a nossa imprensa preferiu se referir ao caso como uma “discussão de bar que terminou em morte”.

A notícia foi tratada pelas autoridades e todas as outras publicações estrangeiras em língua portuguesa com a devida seriedade. Todo o trâmite diplomático foi acompanhado de perto. Aqui, não vimos esta notícia em sequer uma capa de jornal. Para nossa mídia, o motivo é “desconhecido”, o atirador “foragido” e o caso todo, já esquecido.

Os veículos estrangeiros noticiam também a falta de assistência médica e psicológica às outras vítimas, o descaso da polícia nas investigações, e utilizam termos como “tentativa de massacre” e “xenofobia”. Nas páginas brasileiras, no entanto, o caso não passa de um mero desentendimento entre estudantes.

O que poderia explicar esta omissão daqueles que têm o dever de nos informar? Como entender a relutância – e por que não? – censura da palavra “racismo”? Por que a imprensa brasileira está tão engajada na construção de uma imagem positiva, iludida e equivocada da sociedade? Será que o racismo destas instituições e da sociedade brasileira está tão enraizado que pode causar tamanha negligência e conivência? Enquanto as manifestações racistas e xenófobas crescem em ritmo alarmante, a população permanece desinformada por uma imprensa irresponsável e antiética.

Ao passo que os países mais desenvolvidos tratam as manifestações de racismo com toda a seriedade, e nós aqui, enchendo as contas bancárias de “comediantes” que, tristemente, fazem exatamente o mesmo comentário que o assassino fez antes de atirar e chamam de “piada inofensiva”.

Para evoluir de verdade, precisamos de uma imprensa que reflita a sociedade brasileira como um espelho, sem photoshop.

Para comparar as diferenças:

Veículo angolano: http://angola24horas.com/index.php?option=com_content&view=article&id=6283:quem-viu-ai-o-caso-da-jovem-zulmira-morta-no-brasil&catid=14:opiniao&Itemid=24

Veículo português: http://asemana.sapo.cv/spip.php?article76630&ak=1

Veículo brasileiro: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/05/universitaria-angolana-e-morta-em-bar-na-regiao-central-de-sp.html