Humanismo não faz mal a ninguém

A igualdade de direitos civis fortalece o Estado de direito e faz bem a todos

Felizmente, um número cada vez maior de líderes religiosos desperta para o fato de que o avanço dos direitos da população LGBTI1 é uma questão de direitos humanos e de preservação e amadurecimento da democracia. Isso é alentador, especialmente quando se leva em consideração o arrefecimento da homofobia2 em alguns círculos dominados por fundamentalismos reacionários, baseados em projetos mesquinhos de segregação e dominação.
O uso dos meios de comunicação para reforçar o preconceito e promover a discriminação, seja ela qual for, especialmente contra uma minoria que se encontra socialmente vulnerável em muitos ambientes do território nacional, contraria os preceitos constitucionais expressos nos artigos 3º e 19 da Carta Magna:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (…):IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.


Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.

Com isso em mente, e levando em consideração o uso difamatório das concessões públicas de mídia por parte de religiosos fundamentalistas, consideramos absolutamente apropriado que a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais – no uso de suas prerrogativas estatutárias – solicite às autoridades competentes a tomada de medidas juridicamente cabíveis quando a organizações midiáticas que veiculem conteúdo de ódio, seja por meio de produção própria ou de horário/espaço vendido a terceiros, desde que frustradas quaisquer tentativas de diálogo com os responsáveis.
Ateus e agnósticos, bem como religiosos de todas as possíveis denominações, devem primar pela manutenção da liberdade de expressão e da liberdade de crer ou não crer. Estes são princípios essenciais à manutenção da democracia porque constituem direitos fundamentais. Todavia, tais princípios estão subordinados a outro: o da dignidade humana. Por isso, não podemos aceitar manifestações notadamente discriminatórias contra indivíduos ou grupos auto-determinados, sejam eles sexuais, identitários, culturais, étnicos, ou outros quaisquer. Pronunciamentos que induzem ou legitimam o ódio, ou que igualam a homossexualidade à doença não estão sintonizados com os pensamentos ou sentimentos mais nobres de líderes civis ou religiosos que se prezem. Uma frase atribuída a Jesus Cristo – modelo máximo de virtude para os cristãos – diz: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.”  (Mateus 7:12). Portanto, se os cristãos querem ter liberdade e respeito, precisam fazer o mesmo, para início de conversa.



Ademais, levando em consideração que o Brasil é signatário da Declaração Universal de Direitos Humanos (DDH), promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), após a 2ª Guerra Mundial, e que nossa Constituição está em consonância com a mesma em seus princípios, vale relembrar que DDH claramente estabelece que:

Artigo I    Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão  e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Este artigo, por si só, já ordena o fim de qualquer tipo de discriminação. Ele também apresenta um dever do qual ninguém está isento: agir com espírito de fraternidade para com todos. Isso vale para todo e qualquer grupo ou indivíduo e, obviamente, inclui tanto as igrejas como os homossexuais, seja no direito de serem respeitados como no dever de respeitarem. Os homossexuais, de per si, geralmente respeitam os heterossexuais como tais. Nenhum heterossexual jamais foi morto por discriminação sexual. Enquanto isso, 250 pessoas das minorias homoafetivas foram assassinadas em 2010, segundo informou o Grupo Gay da Bahia (GGB) em seu relatório anual. Portanto, uma lei que tipifique o crime de homofobia faz-se absolutamente necessária no Brasil, assim como já foi promulgada em vários outros países, inclusive no Chile recentemente (abril/2012), depois que um jovem gay foi assassinado por neonazistas. Enquanto isso, no Brasil, uma bancada evangélica viciada em preconceito por orientação sexual e identidade de gênero continua tentando impedir o avanço de legislação que demonstre, na prática, que o Brasil é um Estado de direito realmente e que, por isso mesmo, não compactua com essa crueldade.

Artigo II      Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,  religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 

Este artigo deixa muito claro que os direitos humanos são aplicáveis a todos os seres humanos, independe de qualquer condição. Uma pessoa não pode ser privada de nenhum direito por qualquer característica aparentemente distintiva – o que inclui a sua orientação sexual e identidade de gênero. Todavia, para que isso se efetive na prática, é necessário que haja legislação específica que efetive juridicamente os direitos desses seres humanos, indesculpavelmente ignorados pelo Estado. Isso não é privilégio; é justiça.

Artigo III            Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

De acordo com as mais recentes estatísticas, os casos de homossexuais assassinados no Brasil são quase seis vezes mais numerosos que no México e quase oito vezes mais que nos EUA. No mês de outubro de 2011, um cidadão homoafetivo foi morto a cada dia no Brasil, pura e simplesmente por homofobia. Logicamente, não estão computados aqui crimes com outras motivações.
Não há dúvida de que as pessoas LGBTI – como quaisquer outras – têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Portanto, não há razão justificável para se tolerar a promoção de ódio, uma vez que este gera a violência que vemos computada em estatísticas. É necessário lembrar que a biografia de cada LGBTI que é vítima de violência é afetada permanentemente, mesmo quando não resulta em morte. Violência verbal fere profundamente o indivíduo LGBTI, especialmente quando é muito jovem ou muito idoso, e estimula outros tipos de agressão por parte de pessoas que já carregam algum preconceito e pouca racionalidade. O Estado precisa proteger o cidadão quando este se encontra em situação de vulnerabilidade. É isso o que diz o Artigo VII:
“Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, à igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.”
Ou seja, o governo e a sociedade precisam coibir qualquer cidadão ou instituição de incitar outras pessoas a discriminar ou agredir, física ou verbalmente, quem quer que seja, inclusive os cidadãos homoafetivos.

Artigo XII      Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Desnecessário dizer que quando alguém calunia o amor entre pessoas iguais, está interferindo na vida privada de milhões de brasileiros. A difamação da homoafetividade, especialmente por motivação religiosa fundamentalista, afeta casais homossexuais, famílias homoparentais,  e constitui uma violação clara e gratuita contra o artigo XII, citado acima. Ninguém – mesmo que sob o pretexto da liberdade religiosa – tem o direito de interferir na vida privada das pessoas e de suas famílias e nem de transtornar suas interações públicas.
Vale relembrar que a Constituição Brasileira em seu artigo 3º diz o seguinte:

Art. 3º: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (…):IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Infelizmente, depois de centenas de anos de propaganda anti-gay promovida por igrejas preconceituosas, por políticos apenas interessados em manter o status quo, e por famílias viciadas em preconceitos perpetuados por tradições mantidas sem o menor questionamento, os cidadãos LGBTI têm despertado para a luta democrática pela garantia de seus direitos civis.
Esforços corajosos de pessoas que não suportam mais a privação de seus direitos e liberdades, porque simplesmente amam alguém do mesmo sexo, têm conquistado avanços nos campos político e jurídico, desenvolvendo políticas de inclusão e de reparação de injustiças. 
Além disso, uma parcela cada vez maior da sociedade tem visto que não existem “fantasmas atrás do armário” e tem apoiado os homossexuais em sua luta pelo reconhecimento de seus direitos civis, a despeito das estratégias de manipulação de alguns reacionários políticos e religiosos.
Uma sociedade justa é uma sociedade comprometida com a garantia de direitos básicos iguais para todos.  Por isso, entendemos que o Estado democrático de direito nunca poderá ser considerado como uma coisa acabada, pronta, finalizada. Ele estará sempre em processo. 
É inaceitável que se admita qualquer tipo de ação ou pregação que ameace os cidadãos ou o próprio Estado de Direito  –  o que não impede de modo algum o funcionamento de qualquer agremiação religiosa. Pelo contrário, inúmeras igrejas e associações religiosas já se abriram para a isonomia dos cidadãos LGBTI, sem qualquer prejuízo para seu bom funcionamento e para o bem-estar de suas comunidades. Seria estranho se ocorresse o contrário, uma vez que isso só deporia contra o próprio cristianismo, ficando estabelecida uma relação entre preconceito e subsistência. Entretanto, se o cristianismo realmente tem no amor sua essência, ele naturalmente se alinhará a todas as formas de combate à injustiça, inclusive aquelas praticadas contra os cidadãos homoafetivos.
Por isso, outras formas de injustiça supostamente baseadas na fé foram abolidas (ou tem sido) na sociedade, apesar de não se ter mudado um til das escrituras cristãs, e sem que isso impedisse o funcionamento das igrejas.  Vale lembrar que práticas como a escravidão, a xenofobia, e a dominação da mulher foram abolidas, graças a ideais humanistas, mesmo sob protestos por parte de alguns setores do cristianismo. O mesmo ocorre atualmente com relação aos direitos civis dos indivíduos LGBTI.
Felizmente, muitas denominações e outras organizações cristãs têm revisto os conteúdos homofóbicos de suas prédicas e práticas. Entre elas, citamos os seguites:

Episcopais Americanos

Em março de 2010, a igreja Episcopal aprovou a eleição de uma bispa-assistente lésbica na Diocese de Los Angeles. Ela é, portanto, o segundo bispo homossexual assumido na comunhão anglicana global. O primeiro foi o bispo Gene Robinson, episcopal americano.

Anglicanos Ingleses

Em fevereiro de 2010, a Igreja da Inglaterra tomou uma atitude progressista: votou por estender os mesmos direitos previdenciários aos parceiros gays do clero assim como são garantidos a esposas e maridos heterossexuais.
Essa atitude da Igreja da Inglaterra deve inspirar outras da mesma comunhão em diversos países do mundo.

Presbiterianos Americanos

Em outubro de 2010, a Igreja Presbiteriana dos EUA ordenou ao pastorado Scott Anderson, primeiro ministro abertamente gay daquela denominação. Ele havia servido como ministro em Sacramento, na Califórnia, de 1983 a 1990, quando teve de se afastar da igreja por causa de chantagem de um casal da congregação que ameaçou revelar sua orientação sexual. Ele, porém, reuniu a igreja e falou abertamente sobre sua orientação sexual, renunciando o ministério, porque a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos não permitia que homossexuais servissem como pastores. Isso mudou em outubro desse ano, e o pastor que pregou na cerimônia de ordenação dele foi, em outros tempos, um dos mais ferrenhos perseguidores dos homossexuais. Tudo isso só foi possível, porque em 2009, uma assembleia nacional da igreja votou pela revogação da regra, permitindo da ordenação de Anderson.

Santos dos Últimos Dias

A Igreja dos Santos dos Últimos Dias (ISUD) ou igreja dos mórmons, como alguns a conhecem, é considerada ultraconservadora, no que diz respeito às suas doutrinas e práticas, mas em 2010, pela primeira vez em sua história, mostrou apoio à causa gay ao defender uma série de textos contra a discriminação aos homossexuais que tramitaram no conselho municipal de Salt Lake City, no estado de Utah, nos Estados Unidos.


A ISUD considerou a lei “justa, razoável e não violenta a instituição do matrimônio”, conforme disse seu porta-voz.  Utah é onde fica a sede da Igreja Mórmon, que possui cerca de 14 milhões de fiéis em todo o mundo.


Igrejas no Brasil

Além das diversas igrejas chamadas inclusivas (um movimento recente no país que abraça e celebra a diversidade sexual), um fato chamou a atenção. A Aliança de Batistas do Brasil aplaudiu a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que concede direitos civis a pessoas do mesmo sexo vivendo em união estável.
No entanto, o casamento gay não é uma questão religiosa, diga-se de passagem. É um direito civil, efetivado em cartório, envolvendo o sistema jurídico do país. As cerimônias nesta ou naquela comunidade de fé, dependem da crença dos nubentes e da abertura de seus sacerdotes e/ou associações religiosas. O propósito da citação das igrejas acima é apenas o de demonstrar que celebrar a diversidade sexual não depõe em nada contra a espiritualidade dessas comunidades religiosas.
É necessário que os reacionários a esses avanços no campo do direito e contra seus desdobramentos políticos, sociais e econômicos abandonem palavras e expressões que incitem o ódio e o medo. Basta de violência física e verbal.
Neste mês (abril/04), a Igreja Anglicana do Brasil, na pessoa de seu Arcebispo Primaz Dom Ricardo Loritte de Lima, manifestou seu apoio à ABGLT quanto ao processo em andamento no judiciário, por causa da insistente difamação contra as pessoas homoafetivas em programa de TV mantido por um pastor evangélico do Rio de Janeiro. Ele diz literalmente o seguinte: “Querido Toni, receba o apoio integral da Igreja Anglicana do Brasil, que fiel ao ensinamento do Mestre Jesus, ama e acolhe a todos, sem distinção nenhuma! (…) Os líderes religiosos devem estar a serviço dos direitos humanos e não da discriminação e ódio.” O pensamento e o sentimento de Dom Loritte estão em perfeita consonância com qualquer humanismo mínimo.
Desejamos ver outros líderes e comunidades fazendo o mesmo, pois já existe muita violência em andamento. Tudo o que mais precisamos no momento é de paz e esta não pode ser promovida por meio de pregações acachapantes contra os homossexuais. Não temos dúvida de que o ofício pastoral ou sacerdotal pode ter sua utilidade quando seus representantes usam seu poder de comunicação e mobilização para combater o que mina o progresso do nosso país: questões como as drogas, a violência urbana e doméstica, a corrupção, a desigualdade social, o tráfico de mulheres e crianças, enfim, temas que prejudicam a população brasileira como um todo, porque também violam os direitos individuais e colocam em risco o bem-estar social. Por outro lado, prestam um desserviço quando promovem injustiças e acentuam discriminações. Para realizar seu trabalho, nenhuma igreja ou sacerdote/pastor precisa falar dos homossexuais, nem para bem nem para mal. Basta deixar essas pessoas em paz. Certamente, o ofício pastoral vai muito além dessa estranha e obstinada preocupação com “quem ama quem”.
Sergio Viula
Presidente do Conselho LGBT da LiHS
1 – A sigla LGBTI designa lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e intersexuais.
2 – Homofobia: 

“Um conjunto de emoções negativas (tais como aversão, desprezo, ódio, desconfiança, desconforto ou medo), que costumam produzir ou vincular-se a preconceitos e mecanismos de discriminação e violência contra pessoas homossexuais, bissexuais e transgêneros (em especial, travestis e transexuais) e, mais genericamente, contra pessoas cuja expressão de gênero não se enquadra nos modelos hegemônicos de masculinidade e feminilidade. A homofobia, portanto, transcende a hostilidade e a violência contra LGBT e associa-se a pensamentos e estruturas hierarquizantes relativas a padrões relacionais e identitários de gênero, a um só tempo sexistas e heteronormativos” (JUNQUEIRA, Roberto Diniz. O Reconhecimento da Diversidade Sexual e a Problematização da Homofobia no Contexto Escolar. Rio Grande do Sul. Editora da FURG, 2007, p. 60-61.)

O que é Humanismo? Declaração de Amsterdã 2002

Em 1952, no 1º Congresso Humanista Internacional, os fundadores da IHEU convergiram para uma declaração dos princípios fundamentais do humanismo moderno. Eles a chamaram de “Declaração de Amsterdã“. Esta declaração foi um fruto de seu tempo: situada no mundo da política de grandes poderes da Guerra Fria.
O Congresso Humanista Internacional marcando seu aniversário de 50 anos, em 2002, novamente realizado na Holanda, unanimemente homologou uma resolução atualizando a declaração: a “Declaração de Amsterdã 2002”. Em seguida ao Congresso, a declaração atualizada foi adotada por unanimidade pela Assembleia Geral da IHEU, e assim se tornou a declaração oficial de definição do humanismo global.

Declaração de Amsterdã 2002

O humanismo é o resultado de uma longa tradição de livre pensamento que foi inspirada por muitos dos grandes pensadores e artistas criativos do mundo, e deu origem à própria ciência.



Os fundamentos do humanismo moderno são os seguintes:


  1. O humanismo é ético. Ele afirma o valor, a dignidade e a autonomia do indivíduo e o direito de todo ser humano à maior liberdade possível compatível com os direitos dos outros. Humanistas têm um dever de cuidado para com toda a humanidade, incluindo gerações futuras. Humanistas acreditam que a moralidade é uma parte intrínseca da natureza humana, baseada no entendimento e na preocupação para com os outros, não necessitando de sanção externa.
  2. O humanismo é racional. Busca usar a ciência criativamente, não de forma destrutiva. Humanistas acreditam que as soluções para os problemas do mundo estão no pensamento e ação humanos em vez de na intervenção divina. O humanismo defende a aplicação de métodos de ciência e livre investigação para os problemas de bem-estar humano. Mas humanistas também acreditam que a aplicação da ciência de da tecnologia deve ser moderada por valores humanos. A ciência nos dá os meios mas valores humanos devem propor os fins. 
  3. O humanismo apoia a democracia e os direitos humanos. O humanismo visa ao mais pleno desenvolvimento possível para cada ser humano. Defende que a democracia e o desenvolvimento humano são questões de direito. Os princípios da democracia e dos direitos humanos podem ser aplicados a muitas relações humanas e não se restringem aos métodos de governo.
  4. O humanismo insiste que a liberdade pessoal deve ser combinada à responsabilidade social. O humanismo ousa construir um mundo sobre a ideia da pessoa livre responsável pela sociedade, e reconhece nossa dependência do mundo natural e nossa responsabilidade por ele. O humanismo é não-dogmático, e não impõe um credo a seus aderentes. É, assim, comprometido com a educação livre de doutrinação.
  5. O humanismo é uma resposta à demanda generalizada por uma alternativa à religião dogmática. As religiões majoritárias do mundo alegam ser baseadas em revelações fixas para todo o tempo, e muitas buscam impor suas mundivisões a toda a humanidade. O humanismo reconhece que o conhecimento confiável sobre o mundo e nós mesmos emerge através de um processo contínuo de observação, avaliação e revisão.
  6. O humanismo valoriza a criatividade artística e a imaginação e reconhece o poder transformador da arte. O humanismo afirma a importância da literatura, da música, e das artes visuais e performáticas para o desenvolvimento e plenitude pessoais.
  7. O humanismo é uma postura de vida com meta na máxima plenitude possível através do cultivo de um viver ético e criativo e oferece meios éticos e racionais de atentar-se para os desafios de nossos tempos. O humanismo pode ser um modo de vida para todos em todo lugar.
Nossa tarefa primária é conscientizar os seres humanos nos termos mais simples do que o humanismo pode significar para eles e de que comprometimentos ele implica. Ao utilizar a livre investigação, o poder da ciência e da imaginação criativa para o avanço da paz e a serviço da compaixão, temos confiança de que temos os meios de solucionar os problemas que confrontam a todos nós. Chamamos a todos que compartilham dessa convicção para se associarem a nós nesse esforço.
— Congresso da IHEU, 2002.

Sobre neo-ateísmo e religião

Eu fiz este post no meu blog pessoal (historikaos) explicando o porquê de eu ter me tornado ateu, comentei que fiquei feliz de ver vários ateus saindo do armário e etcetera.

Li este texto aqui do Renan: Por que não sou um neo-ateu, e ele aponta uma série de pontos que eu mesmo vinha questionando há um tempo atrás, principalmente quando comecei a me deparar com algumas idiotices que ateus e religiosos escreviam pelo twitter.

Enfim, concordo com algumas coisas e discordo de outras que ele disse, mas este post não é bem uma resposta, vou desenvolver alguns pensamentos não-lineares aqui.

A internet

A internet virou uma realidade, e até uma necessidade nos dias atuais, cada vez mais pessoas estão na rede.  Uma das coisas que mais agrada é a liberdade que você tem de poder escrever, falar e gravar aquilo que você quiser _ claro, existem as indicações informativas de conteúdo impróprio e talz, mas quase nada te impede de acessar.

Este instrumento vem sendo usado por várias pessoas para disseminarem suas opiniões acerca dos assuntos que mais lhe agradam.

Não só ateus, mas gente de todos os credos e gostos vem disseminando suas opiniões por aí. No youtube por exemplo, você encontra canais de todos os gostos. Tem muita gente talentosa ao passo que também tem gente que diz muita bobagem, mas faz parte, não se pode esperar coerência ou tolerância de todo mundo _ me incluo nisto vez e outra.

Religião e Ciência.


A religião faz mais mal do que bem, na minha opinião. Estudos mostram que acreditar em deus pode fazer bem para saúde, mas outros estudos apontam que não faz bem para o intelecto.

Crer em algo pode te dar forças para superar algumas adversidades, aquelas em que o fator psicológico é fundamental _ tipo um placebo. É bom para o agrupamento em sociedade _ pessoas que tem os mesmos interesses _ e nas religiões onde de fato se prega a bondade, a tolerância, as pessoas tendem a ser mais tranquilas.

O problema mora nas doutrinas. A religião impõe procedimentos para que as pessoas possam alcançar a salvação, o divino ou livrar-se das reencarnações. Estas práticas refletem na sociedade indubitavelmente.

Por exemplo, a igreja católica é contra a união homoafetiva, ela vai pregar isso dentro de seu templo como uma espécie de regra e espera que seus fiéis cumpram estas regras _ sejam contra e se manifestem desta maneira. Ou seja, em nome de uma posição religiosa as pessoas se colocarão contra, porque a igreja, que prega a palavra do seu deus, ordenou. 

Se você for Testemunha de Jeová e precisar de transfusão de sangue para viver, você vai morrer! Por que a religião não permite! Ao menos que você coloque sua vida acima da crença _ que é o mais inteligente de se fazer. Mas se você for criança vai depender que a justiça decida o caso.

O papa foi para África dizer para as pessoas não usarem camisinha, pregou a abstinência e o sexo só após o casamento. Em que mundo ele vive? As pessoas não vão parar de fazer sexo só porque a igreja pediu, aquele povo está na miséria, eles sabem o quanto o mundo se importa com eles. Agora pedir que não usem camisinha é um desserviço, eu diria um crime, contra a saúde destas pessoas.

Estes são apenas alguns exemplos de como a imposição religiosa faz mal sim. E a religião sem sua imposição, sem seus dogmas perde muito de seu propósito.

A maioria das pessoas acham que precisam acreditar em algo maior para que sua vida tenha sentido. A história mostra esta necessidade de um porquê em várias civilizações, inclusive os gregos a quem tanto os admiramos por suas ideias.

Tales de Mileto (624 AC – 546 AC) é considerado o primeiro filósofo ocidental, o primeiro que sabemos que olhou para os acontecimentos da natureza e pensou algo como “Isto não é coisa dos deuses, é natural”. 

Esta forma desafiadora de duvidar das divindades, do sobrenatural, dos mitos, e tentar explicar a natureza é a base do pensamento científico, e ele é sem dúvida essencial para o desenvolvimento humano.

Reação neo-ateísta

Eu vejo o neo-ateísmo como um movimento de reação aos abusos religiosos que permeiam nossa sociedade há anos. Eles estavam em silêncio e agora, graças a internet não vão se calar nunca mais _ assim espero!

Considero o movimento válido e que coloca o dedo na ferida de todos os religiosos, colocando a prova suas crenças e ritos, além de questionar sua posição na sociedade.

Os estados laicos vem sofrendo tentativas seguidas de serem transformados aos poucos em estados teocráticos. Parecem não entender que o estado tem que ser separado da religião para que ele atenda de forma justa, toda a pluralidade de crenças existente.

Outra reclamação é a tentativa incansável dos criacionistas de tentarem colocar deus no centro da ciência. Já se tornou ridículo inclusive, eles até mudaram de nome para design inteligente _ que é a mesma porcaria _ para tentar uma nova abordagem.

Por estas e outras a reação neo-ateísta é válida. Ninguém tem que se calar diante dos absurdos que são ditos por aí, acho que já chegou a hora de dizer, chega!

Divergências

Agora, será que criar esta polarização ateísmo x teísmo é bom?

Será que dessa rusga não podem sair coisas feias?

Costumamos ver homossexuais sendo agredidos, países de diferentes credos se borbardeando e torcidas rivais se enfrentando nas ruas. Não será que talvez as coisas cheguem a um patamar parecido?

É ridículo pensar em pessoas brigando porque uma acredita em deus e outra não, mas, brigar por times de futebol não é igualmente ridículo?

A cada novo video, post, tweet ou algo parecido sempre mais pessoas além de não concordar, se irritam ao ver suas crenças sendo questionadas _ masoquismo intelectual _ e podem internalizar esta raiva aos poucos, criando uma pré-indisposição com o outro lado. Esta pré-indisposição pode se tornar discriminação com o passar do tempo, ou seja, reflexo negativo no convívio social.

Pode… é uma suposição, espero que não.

Tao

Qual será o caminho?

Evitar o ataque?

Deixar que a religião continue tentando sua cruzada de conversão mundial e se calar?

Deixar que a religião continue perdendo sua credibilidade até ela se reduzir a sua insignificância?

Incentivar mais ainda o debate?

Fortalecer a educação e o pensamento crítico?

Espalhar a ciência e a vontade pelo conhecimento?

Ficam aí as dúvidas…

Apresentação

O I Congresso Humanista Secular do Brasil (CHS2012) acontecerá nos dias 8 e 9 de setembro de 2012 em Porto Alegre.

Um resumo da programação:


1º dia – tema geral “humanismo”: palestras e mesas redondas de questões de gênero, direitos LGBT, minorias étnicas e racismo, desarquivamento dos arquivos da ditadura, ciência e humanismo, e mais.


2º dia – tema geral “secularismo”: palestras e mesas redondas sobre ceticismo, ciência, ateísmo, liberdade de crença, coexistência e tolerância entre fés e crenças, Estado laico, medicina baseada em evidências, sentido da vida na perspectiva racionalista, e muito mais.
A Liga Humanista Secular do Brasil foi fundada em Porto Alegre, onde residem muitos de seus diretores e membros. Ficamos felizes por sediar este evento nesta cidade, especialmente por ser o berço de uma grande mudança que está começando no Brasil quanto ao simbolismo da laicidade do Estado dentro dos tribunais e, é claro, também chama nossa atenção que Porto Alegre tenha abrigado tantos eventos relevantes para o humanismo anteriormente, como o Fórum Social Mundial.
Os membros cadastrados como contribuintes periódicos terão isenção na taxa de inscrição. Os valores da inscrição para demais membros e para não-membros, bem como a lista de palestrantes e debatedores, estão na página de inscrições.
Todo trabalho voluntário que puder ser oferecido pelos membros será muito bem-vindo. Se você deseja ajudar, fale com Stíphanie da Silva, diretora de eventos.
Esperamos recebê-las(os) em setembro e que todas(os) cresçamos juntos debatendo o avanço do humanismo secular no Brasil.
Calorosamente,
Eli Vieira e Åsa Heuser

presidente e vice-presidente
Liga Humanista Secular do Brasil