Contradições divinas

Na única cruzada contra cristãos que se deu na história temos um fato (ou boato) bastante curioso. Trata-se da cruzada Albigense, liderada por Arnaldo Amauri, abade de Cister, contra a seita cátara que se propagava no sul da França. Nesta famigerada guerra contra os hereges , que pregavam a volta ao cristianismo primitivo, diante da necessidade de decidir quem era cristão e quem era herege, e consequentemente decidir quem teria sua cabeça arrancada, acabaram optando por um assassinato em massa. A justifica para tal atitude, na época, estava no fato de que deus, do alto do seu incomensurável poder saberia separar o joio do trigo, ou seja, separar os cristãos verdadeiros dos hereges ali mortos. Uma frase tornou-se famosa: “Deus reconhecerá os seus”

Pois bem. Em uma dessas madrugadas em que não conseguimos dormir, por motivos que fogem ao nosso controle, estava eu na sala. A televisão ligada e eu zapeava de um canal para outro sem nenhum objetivo. Até que, coincidência ou não, me deparei com um daqueles programas que tentam obter um comprovação cientifica para fatos citados no grandioso manual de sobrevivência cristão.

Um apresentador vestido a La Indiana Jhones falava de todos os indícios e provas que embasaria as verdades históricas por trás do já citado manual. Até nesse ponto estava interessante, afinal, como todo bom ateu, eu também aprecio assistir tais programas e ler o manual cristão para saber como me defender de lunáticos fundamentalistas.

O problema foi quando começou uma espécie de encenação, para provar todas as peripécias do povo de deus no Egito, especificamente todos aqueles milagres conhecidos como as 10 pragas do Egito.

Vamos a elas, mais por questão de relembrar quais foram, já que me prenderei apenas à última que tem ligação direta com o que quero discutir neste texto: águas se transformaram em sangue; infestações de rãs; mosquitos atormentam homens e animais; moscas escurecem o ar e atacam os animais; uma peste atinge os animais ; pústulas cobrem homens e animais; fogo no céu; nuvem de gafanhotos; escuridão por três dias e finalmente A morte dos primogênitos.

Essa última praga foi o ápice do programa. Um pequeno filme mostrava os judeus sacrificando os cordeiros para sinalizarem as portas de suas casas com uma voz, vindo sei lá de onde, dizendo que os anjos de deus precisavam saber quem assassinar, afinal não poderiam correr o risco de aniquilar os primogênitos do seu próprio povo.

Eis a questão! As conveniências ditam as regras das ações. Em um momento deus sabe exatamente o que fazer, mas em outros é necessário a ajuda das suas próprias criações pra que nada saia do roteiro. Onde está todo o seu poder? Deus deveria reconhecer os seus.

Imagem eurocêntrica, mídia e representação do negro nas telenovelas brasileiras

É preciso compreender as construções dos estereótipos modernos para além do senso comum habitual, onde não há a emersão da problemática inicial. Há a necessidade de entender os fundamentos do eurocentrismo como alguns dos pilares justificadores dos abusos colonialistas europeus. Tais abusos, que contribuíram para a solidificação dos discursos em torno da imagem do negro e negra, se pautam na negação do outro, pela diferença, como justificativa para a auto-afirmação da superioridade européia.

Dessa forma, temos alguns discursos que conceituam o racismo como prática possível, partindo do pressuposto da necessidade de civilização de povos não brancos, sem cultura e desprovidos de inteligência. Essa prática parte do princípio exatamente contrário de superioridade dos povos europeus.

Nas várias definições para racismo, a que melhor se relaciona com o tema desse trabalho, está em: o racismo constitui um sistema hierárquico complexo, um conjunto estruturado de práticas e discursos sociais e institucionais…

A sedimentação de conceitos, fundamentais para a formação de pré-conceitos, em um contexto de longa duração, se dá com a gradativa repetição de situações em que o homem e a mulher negra são representados sempre em condições de desvantagens com relação aos brancos. A subalternidade está presente na grande maioria das peças publicitárias e telenovelas brasileiras, onde com raras exceções, os afro-descendentes conseguem romper as barreiras de submissão que lhes são impostas através do velado racismo brasileiro (muitas vezes nem tão velado assim).

A idéia de super dotação física, sensualidade, inerentes aos africanos e afro-descendentes vem sempre acompanhada com a construção imagética de sua bestialidade e incapacidade mental. A construção desses esteriótipos tem por principio os discursos fundadores como os iniciados a partir da Vênus de Hotentote, que colocam todas as mulheres negras com os mesmos atributos físicos.

No filme A Negação do Brasil, a representação do negro e negra nas telenovelas mostradas, além de apresentar alguns exemplos clássicos, como os que demonstram a sensualidade e a beleza da mulata, apresentam e reafirmam mais casos de subalternidade e bestialidade. A estratégias discursivas, segundo Borges, veiculadas através dos meios de comunicação, podem contribuir para a superação desses estereótipos tão enraizados nas práticas dos produtores de peças publicitárias e de telenovelas.

Se faz necessário apresentar os afro-descendentes, que são 50% da população brasileira, de forma a valorizar a diferença e as contribuições dessa etnia, de forma a diminuir paulatinamente a rotulação feita pelos meios de comunicação, que ainda obedecem à significação racista, imposta pelos valores advindos do eurocentrismo. Porém, a mídia perpetua a repetição dos padrões “exigidos” para atingir a maioria do público.

Assim, os modelos e estilos de vida a serem seguidos são apresentados à população como possíveis de se atingir. O ideal de vida que jamais vai ser alcançado, mas que é escancarado como objetivo a ser atingido.

As novelas brasileiras, em especial as da rede globo, contribuem para a perpetuação da condição de subalternidade dos afro-descendentes brasileiros.  No documentário fica claro a influência eurocêntrica na construção da imagens cânones dos afro-brasileiros. São sempre representados por empregadas domésticas, jagunços, mulatas “gostosonas”, bons de samba e capoeira, bandidos, submissos, favelados, mães pretas, moleques e etc. Com essas representações, segundo Sodré, constrói-se as imagens desejadas e consequentemente a decisão sobre quem pode frequentar determinados lugares e possuir determinados objetos, e, segundo Borges, “instalam linhas divisórias que constituem o estatuto do Outro, o fora de padrão”. Ou ainda, as prisões de imagens, segundo Alice Walker.

A necessidade de desconstrução desse pernicioso sistema de representação é premente e passa obrigatoriamente pela revisão de alguns conceitos por parte dos meios de comunicação. Há algumas iniciativas nesse sentido, mas é publico o saber de que ainda estamos muito aquém do ideal. Iniciativas isoladas podem ser exemplificadas, mas ainda constituem um esforço solitário.

As telenovelas brasileiras, pela grande visibilidade que tem, poderiam dar uma contribuição maior nesse sentido. Mas percebe-se que ainda estamos longe de ver o afro-descendente ser representado de forma igualitária nas telenovelas. Em doses homeopáticas, os meios de comunicação atribuem ao negro e negra seu verdadeiro papel. Na grande maioria das vezes, a televisão brasileira e especificamente as telenovelas contribuem incisivamente para dicotomia entre a supremacia branca e a inferioridade dos povos afro-descendentes, numa invariável repetição da lógica eurocêntrica. Nesse contexto, ainda há a problemática do sentimento de não pertencimento que os papéis dos negros e negras nas telenovelas, provocam na grande população afro-descendente brasileira.

Divindade

O que é Deus? Onde está Deus? Segundo alguns autores, Deus está morto. O matamos. Outros grandes pensadores dizem que foram nós, homens, quem fizemos Deus. Mas Deus está no pensamento humano. O pensamento é Deus. Se o pensamento é Deus, e isso é condição pra nossa existência, então somos deuses. Se a condição de nossa existência não é o pensamento, se nossa existência condiciona o pensamento, então continuamos a ser deuses. Considerar que nascemos com idéias que representam verdades absolutas pode ser arriscado.

A razão nos leva exatamente a um local onde Deus é e está. Está em nós e em nenhum outro lugar. Deus sou eu e você e nenhuma outra pessoa ou ente. Eu fiz Deus à minha imagem e semelhança e não ao contrário. O homem pode se libertar dos grilhões onde ele mesmo se prendeu. A compreensão de liberdade tem que avançar até o ponto em que Deus não mais seja um ente externo ao homem e sim o próprio homem. O mesmo homem que cria é o que destrói. O mesmo homem que ama é o que odeia. O homem é o réu e o juiz. Segundo os conceitos próprios de cada um, o homem deve ser capaz de perceber seus limites e os do outro. 

O conhecimento sobre o as coisas deste e de outros mundos não pode torná-lo escravo de seus medos. O medo nesse processo se auto extinguirá, pois o desconhecido obscurece mentes e corações humanos. Será que nosso Deus não quer que conheçamos? Estamos proibidos de investigar o que nos intriga? Não podemos buscar soluções para nossos problemas porque Deus não permite? Deus!!! Deus quer que busquemos sim. Porque somos deuses. Porque nos permitimos viver conforme nossas próprias leis.

E que leis são essas? 

Leis que não nos privem de nada. Leis que não escravizem mentes. Leis que libertem, finalmente, o homem da servidão imposta por ele mesmo, e sempre creditada a Deus. O céu e o inferno está longe e perto, sutil e saliente, dentro e fora, animado e inanimado. Céu e inferno são extremos da mesma coisa que se juntam ao final. Céu e inferno são justificativas humanas para culpar o homem de um crime que é divino e também para imputar aos “puros de coração” todas as virtudes sub-divinas que o homem não “possui”.

Extingamos tais conceitos de nossa vida, pois eles apenas nos seguram num estágio que obrigatoriamente temos que ultrapassar. Temos que sair das trevas. Temos que nos tornar deuses. Ao encontrarmos Deus em nós mesmos, estaremos finalmente alcançando o objetivo de todas as religiões. Saberemos quem somos.

Ousaremos nos permitir viver sem culpas. Colocaremos nós mesmos como prioridade da vida, sabendo que nós não somos mais indivíduo. A preocupação comigo já não terá validade se ao meu lado alguém sofrer. Se ao meu redor alguém ainda não tiver alcançado tal estagio de compreensão, também eu não terei chegado. Assim, caminhemos rumo ao desconhecido sem medos e superstições. Sem trégua. Sem pausa. A vida nos reserva grandes surpresas e vamos estar preparados. Nossa existência será justificada pelos nosso atos e julgadas pelo grandioso juiz: nossa própria consciência. Se permitirmos, podemos voar. Podemos ser. E sendo, fazemos com que nosso pensamento se volte para o que somos. É um caminho sem volta. Talvez ainda tenhamos que passar por muito fogo e este é o elemento que tudo pode. Destrói, mas de suas cinzas brotam vidas novas. Novo homem. Novo Deus. Realidade diferente.

Holanda: Reanimação priva idosos de uma morte tranquila

Enquanto estamos indo, os holandeses já estão é voltando em vários assuntos éticos e morais. Nunca imaginei o assunto na forma como está a notícia:

 

Com a reanimação pode-se salvar vidas. É o que se vê nas séries de TV sobre médicos e hospitais, e nas campanhas de fundações do coração. Mesmo assim, médicos e enfermeiros acreditam que a ressuscitação de pacientes idosos e doentes muitas vezes não deveria ser feita. Quando o paciente sobrevive, com frequência há muitas outras complicações. E acima de tudo é preciso saber se o paciente realmente quer ser reanimado.

Erik van Engelen é paramédico de ambulância. Faz este trabalho há doze anos e já salvou muitas vidas. Também com reanimação. No entanto, ele cada vez mais tem dúvidas sobre a utilidade do procedimento, especialmente porque ele tira de idosos a chance de uma morte tranquila.

“Por exemplo, se temos que fazer uma reanimação em alguém com 88, 89 anos que teve a sorte de ter uma parada cardíaca. Nestes casos eu às vezes penso: seria bom que este senhor ou senhora pudesse ter dado seu último suspiro aqui, se nós não tivéssemos nos intrometido.”

Grito de angústia
Van Engelen escreveu recentemente um artigo para uma revista médica como um grito de angústia: ‘Permita ao paciente o seu fim’. Ele foi apoiado por profissionais de saúde que frequentemente lidam com pacientes idosos. Como paramédico de ambulância, Van Engelen sabe o quão drástica uma reanimação pode ser, especialmente em idosos.

“Os pacientes, por sua idade avançada, têm ossos frágeis. Você vai pressionar o peito, mas pode também quebrar um osso. Se quebra uma costela, isso pode causar um problema em um ou nos dois pulmões. As membranas dos pulmões podem ser perfuradas. E assim vai de mau a pior.”

Dilema
Paramédicos de ambulância são, pelas regras, obrigados a fazer reanimação quando reagem a um chamado. Mesmo que a chance de sobrevivência seja muito pequena. Só um médico pode se abster da ressuscitação. Piet Postema é clínico geral em Amsterdã há 35 anos. Ele compreende muito bem o dilema de Van Engelen. Em seu consultório, todos os anos morrem entre 20 e 30 pacientes.

“São quase todos idosos. Nós tentamos garantir que eles tenham uma boa morte. Isso é importante para eles, mas também para os parentes e amigos. Você tem que ter muita certeza para decidir que não vai ressuscitar. Esta pode ser uma decisão muito difícil.”

Por isso ele aconselha filhos e parceiros de seus pacientes idosos a pensar bem antes de chamar uma ambulância.

Imagem mágica
Segundo o sociólogo Hugo van der Wedden, pesquisas demonstram que a reanimação tem uma reputação quase mágica. Os holandeses acreditam que na metade dos casos ela é bem sucedida. Mas na verdade, na Holanda, apenas 15% dos pacientes sobrevivem com uma reanimação.

Por causa da imagem criada, existe um enorme tabu em relação à ideia de não reanimar as pessoas. Isso afeta particularmente os profissionais de saúde, afirma Van der Wedden.

“Acontece com frequência de enfermeiros estarem junto à cama de alguém que, no seu entender, está morto. Eles gostariam de retirar os tubos, com respeito pela morte. Mas a sociedade exige deles que saltem em cima do paciente e ainda usem um bom tanto de violência contra o corpo, quando eles na verdade não acreditam nisso.”

Morrer dignamente
Por isso ainda acontece, segundo Van de Wedden, que profissionais de saúde reanimem pacientes contra o que pede sua consciência, e assim privem a pessoa da chance de morrer dignamente.

A associação holandesa de geriatria defende que médicos e paramédicos que atendem situações de emergência se informem se o idoso quer ou não ser reanimado. Para obter esta informação, eles precisam se comunicar melhor com asilos e lares de idosos.

 

http://www.rnw.nl/portugues/article/reanima%C3%A7%C3%A3o-priva-idosos-de-uma-morte-tranquila