Crer na inexistência ou não crer na existência?

Alguns crentes dizem que os ateus têm que “ter fé” para “crer na inexistência de deus”. Dai eu respondo:

Sendo ateu eu não estou “crendo na inexistência de deus”, eu estou “não crendo na existência” (a diferença é sutil). Eu estou abdicando de usar o verbo crer (que, quando se usa sem provas, significa ter fé). Eu não estou exercendo a ação de crer.
Eu não preciso fazer força (ter fé) para “não acreditar”. Se não tem provas, eu passo ao largo. Acreditar sem provas é ter fé, é fazer um esforço para crer sem ter as evidências, mas “não acreditar” é algo que se faz justamente por não ter provas, não é preciso esforço, é natural não acreditar quando não se tem provas. Seria como eu dizer que tenho que fazer um esforço para ser um “não-colecionador de selos”, enquanto na verdade o “colecionador de selos” é que precisa fazer o esforço de colecionar.

Ateísmo não é modismo

Dizer que uma pessoa se declara ateia “só para estar na moda” é dizer que a pessoa, na verdade, é crente, mas se diz ateia só para estar na moda. Portanto esses volúveis são crentes.

Correndo o risco de ser simplista, eu diria que só existem 3 posicionamentos diante desta questão teológica: ser crente, ser ateu e ser agnóstico. Esta última posição eu subdividiria em duas: ser agnóstico por conhecer as dificuldades de tomar uma posição e ser agnóstico por completa ignorância (como é o caso das crianças pequenas). 

Agora, a pessoa que resolve dizer que é ateia “por modismo” estaria originalmente em qual categoria?
Não seria o ateu, certamente, pois já é ateu.
Acho difícil que seja um crente, pois haveria um choque muito grande entre suas convicções e sua pretensa fachada de ateu.
Sobram os agnósticos. Um agnóstico que reconhece a insuficiência de provas e razões para se posicionar, talvez não queira se posicionar só por moda.
Resta o agnóstico por pura ignorância, aquele que só não se posicionou diante das questões teológicas porque nunca pensou sobre elas, aquele que tem dificuldade de pensar ou pura preguiça. Esse eu acho que seja o mais provável candidato a se passar por ateu para “estar na moda”.

Cá entre nós, moda que não existe. O que existe é uma confusão dos crentes entre o que é moda e o que é estar em evidência (no caso, ateus que resolveram sair do armário e por isso aparecem mais).

Minha consciência é o meu deus.

Minha consciência é o meu deus.

Ela é onisciente (enquanto eu estiver consciente).
Ela é onipresente, esteja eu onde estiver (desde que eu esteja consciente).
Ela controla tudo o que eu faço.
Ela me premia quando faço coisas boas.
Ela me castiga (e até me tortura) quando faço coisas erradas.
Ela fica pesada quando não lhe dou muita atenção.
Ela fica leve quando estou de bem com ela.
E quando eu estiver morrendo, ela estará ao meu lado, morrendo solidariamente comigo.

(José Agustoni – Zeca)

Uma criança nasce neutra

Uma criança nasce neutra, nem crente, nem ateia, mas agnóstica no estado mais puro, pois ela simplesmente não tem opinião formada sobre nada. Se os pais se acham no direito de dizer qual será a religião de uma criança, também deveriam dizer qual será a profissão dela, qual o time de futebol, com quem ela vai se casar e tudo mais que, de fato e de direito, deveria ser decidido por esta criança quando ela tivesse capacidade para tal. Se os pais tomam estas decisões pelos seus filhos, eles estarão sequestrando um direito inalienável. É a castração psicológica de uma criança indefesa.