Como somos enganados (por nós mesmos)

Nosso cérebro tem alguns “bugs“, e constantemente somos enganados por ele. Podemos ver ou ouvir coisas que não existem. Podemos ter a impressão errada sobre uma forma ou um barulho. Podemos crer em curas milagrosas, astrologia, homeopatia, numerologia. E podemos acreditar que determinado produto é melhor do que outro unicamente pela sugestão de que assim o seja. E o trecho, retirado do livro de Leonard Mlodinow, “O Andar do Bêbado – como o acaso determina nossas vidas“, fala um pouco sobre esse último exemplo de uma forma leve e interessante. Eis o post:

 

http://alexrnbr.wordpress.com/2011/07/12/como-somos-enganados-por-nos-mesmos/

O homem deveria adotar o sobrenome da mulher?(Leonardo Sakamoto)

Achei interessante, pois toca num tema que deveria ser igualitário, mas somente vejo mulheres que adotam o sobrenome dos maridos, por desconhecimento ou opressão patriarcal. O Sakamoto é ateu?

Gostei desse trecho:

“Se não me falha a memória, desde a Constituição de 1988 é possível optar pela não-colocação do nome do parceiro, o que foi ratificado com as mudanças no Código Civil, em 2002. Tem gente que desconhece isso e cita livros que fazem parte do ordenamento jurídico brasileiro, como a Bíblia, para justificar a mudança de alcunha. Como se Deus fosse dono de cartório.

Na época em que tratei deste tema pela primeira vez neste blog, houve comentaristas que defenderam que a mulher deveria ser obrigada a receber o nome do marido por uma questão de defesa da honra do casal (ah, esses maravilhosos homens inseguros…), por uma questão de comodidade (pois, como todos sabemos, é super prático ser conhecida por um nome antes e – plim! – de repente, não mais) ou porque sempre foi assim (isso! legalizemos a corrupção, pois é mais fácil aceitá-la que combatê-la).”

 

http://blogdosakamoto.com.br/2011/07/10/o-homem-deveria-adotar-o-sobrenome-da-mulher/

 

OBS:

Os comentários da matéria também valem a pena de ser lidos.

Edzard Ernst: “A homeopatia não tem efeito algum”

Olá pessoal

 

Já sabemos que a homeopatia não funciona, mas é sempre interessante quando essa conclusão chega também a quem está disposto a acreditar que ela é real. Esta entrevista com um dos mais famosos e importantes pesquisadores de terapias alternativas da Inglaterra (e do mundo) é muito interessante. Deveria ser leitura obrigatória para os defensores da homeopatia, e de outras crenças sem base:

 

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,ERT247227-15257-247227-3934,00.html

 

Um trecho:

 

ÉPOCA – Como o senhor recebeu esses resultados, sendo homeopata? 
Ernst – 
Teria adorado provar que homeopatia funciona, porque eu ganharia o Prêmio Nobel de Medicina e seria muito rico. Mas fico triste em dizer que a evidência mostra exatamente o contrário. Atualmente, há cerca de 200 testes clínicos em andamento e a maioria dos resultados não é favorável à prática. É preciso dizer que os fundamentos do tratamento homeopático são implausíveis. Diluir remédios não os torna mais poderosos, mas os faz menos eficazes. Esse assunto é o mais polêmico em minha área porque as pessoas que acreditam na homeopatia o fazem quase com fervor religioso.”

 

Um abraço.

 

Homero

A Sopa de Pedra ou: Uma Metáfora Sobre o “Poder da Oração”

“Um frade pobre, que andava em peregrinação, chegou a uma casa e, orgulhoso demais para simplesmente pedir comida, pediu aos donos da casa que lhe emprestassem uma panela para ele preparar uma sopa – de pedra… E tirou do seu bornal uma bela pedra lisa e bem lavada. Os donos da casa ficaram curiosos e, de imediato, deixaram entrar o frade para a cozinha e deram-lhe a panela. O frade colocou a panela ao lume só com a pedra, mas logo disse que era preciso temperar a sopa… A dona da casa deu-lhe o sal, mas ele sugeriu que era melhor se fosse um bocado de chouriço ou toucinho. E lá foi o unto para junto da pedra. Então, o frade perguntou se não tinham qualquer coisa para engrossar a sopa , como batatas ou feijão que tivessem restado da refeição anterior… Assim se engrossou a sopa “de pedra”. Juntaram-se cenouras, mais a carne que estava junta com o feijão e, evidentemente, resultou numa excelente sopa. Comeram juntos a sopa e, no final, o frade retirou cuidadosamente a pedra da panela, lavou-a e voltou a guardá-la no seu bornal… para a sopa seguinte!” [1]

Essa fábula me foi apresentada durante o período em que vivi em Portugal, há cerca de dois anos. Imediatamente me veio à cabeça que ela pode servir de maneira muito propícia como uma metáfora para explicar parte do fenômeno sócio-cultural da religião. O fato de seu personagem principal ser um frei foi apenas uma fortuita coincidência.

É fácil perceber que a tal sopa tranquilamente poderia ter sido preparada sem o uso da pedra, tendo esta servido apenas como a desculpa do sacerdote para ter acesso aos verdadeiros ingredientes. Da mesma forma, o indivíduo religioso, quando confrontado com um problema, tem como primeiro instinto recorrer ao “poder da oração”. Se perdeu algum item de valor, por exemplo, recita o responsório de Santo Antônio. Se o problema é urgente, a solução é a oração de Santo Expedito. Se há doença na família, basta clamar pela intervenção da Virgem Maria, em alguma de suas formas místicas. E assim sucessivamente. E não são poucas as vezes em que as adversidades são efetivamente superadas. Mas a grande questão é a seguinte: sem essas iniciativas, seria o desfecho semelhante? Sem a pedra, seria possível fazer a sopa?

O fato é que na vida de qualquer pessoa os eventos não podem ser sempre favoráveis; não são muitos, porém, os percalços que tem a capacidade de ser devastadores a longo prazo. Superamos a maioria deles por meio de nossas próprias ações, ou seja, de maneira natural. Não conheço nenhuma pessoa, religiosa ou não, que tenha encontrado um objeto perdido sem tê-lo procurado (ou sem que um terceiro o tenha feito). Aquelas que rezaram enquanto trabalhavam na resolução de seus problemas tenderão a interpretá-la como graça divina. E esses “pequenos milagres”, penso eu, muitas vezes ajudam justificar as crenças em poderes sobrenaturais. Os “grandes milagres”, como pessoas que sobrevivem a doenças incuráveis, por exemplo, ficam apenas na imaginação, pois muito poucas pessoas – muito provavelmente nenhuma – realmente os presenciou. 

E quando tudo realmente vai mal e a adversidade persiste? A religião, para esses casos, tem uma explicação bastante conveniente (e, no mínimo, desumana): falta de fé. Nesse caso, lemos nas entrelinhas: culpa tua. Mesmo que tenha acreditado com todas as suas forças (e não entenda por que as orações não funcionaram), a pessoa fica com toda a responsabilidade em suas próprias mãos. No fim das contas as coisas acontecem da maneira como iriam acontecer de qualquer maneira, dependendo do acaso e, obviamente, das ações dos indivíduos envolvidos. E a religião tem respostas prontas para qualquer um dos desfechos…

Assim, as pessoas permanecem confiando nessas jaculatórias sobrenaturais. E parecem temer o efeito que haveria em suas vidas caso as deixassem de lado. É a sempre lembrada “aposta de Pascal”: na dúvida sobre a existência de um ser onipotente que controla os eventos de seu trono invisível, melhor ter a certeza de não desagradá-lo caso ele seja real. Mesmo que isso signifique passar o resto da vida toda tomando uma sopa preparada com uma pedra em seu interior.

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Sopa_de_pedra