Notícia na Folha de São Paulo:
“Igreja transfere padre que defende uso da camisinha.
Abrigo de jovens contaminados pelo HIV, mantido por religioso, pode fechar.
Igreja não comenta transferência para a Itália nem a solicitação para retirada de um abrigo da paróquia.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0304201105.htm“
Mais um exemplo do adágio: pessoas boas farão coisas boas, independente de religião, pessoas más farão coisas más, independente de religião, mas para que pessoas boas façam coisas más, é preciso religião.
Não duvido que a arquidiocese e os bispos que estão transferindo o padre pensem estar agindo para o “bem”, mas o efeito é daninho, cruel, mesquinho.
Homero
Abaixo o artigo completo, para quem não tem acesso a Folha:
Igreja transfere padre que defende uso da camisinha
Abrigo de jovens contaminados pelo HIV, mantido por religioso, pode fechar
Igreja não comenta transferência para a Itália nem a solicitação para retirada de um abrigo da paróquia
Rivaldo Gomes/Folhapress |
Pe. Valeriano e uma das crianças atendidas na Casa Siloé
FABIANA CAMBRICOLI
DO “AGORA”
Defensor público do uso da camisinha, o padre Valeriano Paitoni, 61, está sendo obrigado a voltar para Itália após receber ordem de seus superiores na Igreja Católica.
Há 33 anos na zona norte de São Paulo, o padre ganhou notoriedade em 2000 quando passou a defender a utilização de preservativos como forma de combater o vírus da Aids -opondo-se às orientações do Vaticano.
Esse posicionamento público -que ainda defende- causou irritação em parte da cúpula da igreja em SP.
A transferência ameaça parte da obra mantida por ele: três abrigos para crianças e jovens contaminados com o vírus da Aids.
No início do ano, o religioso diz ter sido comunicado por sua congregação -Instituto Missões Consolata- de que havia sido designado para uma missão na Itália.
Após reações negativas da comunidade, o coordenador do Instituto no Brasil convocou uma reunião para a última quinta-feira com a comunidade. No encontro, porém, a decisão foi reafirmada.
Quase simultaneamente, a Arquidiocese de São Paulo, dona do imóvel onde estão a paróquia Nossa Senhora de Fátima do Imirim (Paitoni é padre ajudante) e de um dos abrigos (a Casa Siloé), anunciou que este teria de deixar o local, conforme contrato.
“Não me deram motivos válidos [para que a casa saia do espaço]. Se eles tivessem uma finalidade para o local, eu seria o primeiro a procurar outro espaço”, afirma.
Segundo fiéis, a arquidiocese argumenta que um projeto social mantido por uma entidade não pode ocupar o espaço da paróquia.
Os motivos dados pela igreja, porém, não convencem o padre e os fiéis.
Para eles, as decisões seriam uma espécie de retaliação da instituição.
“A maioria já perdeu os pais. Sei que a norma do instituto prevê transferências, mas a Igreja não pode colocar a regra acima da pessoa e do diálogo”, diz o religioso.
CRIANÇAS
Os irmãos Paula e Tiago (nomes fictícios), de 11 e 13 anos, chegaram na Casa Siloé quando ainda eram bebês. Contaminados na gestação, perderam a mãe e foram abandonados pelo pai.
Na casa de apoio, dizem ter encontrado uma família. O local mal parece um abrigo. Tem quartos para no máximo três crianças. Há videogame, TV e computador. “São as tias que cuidam da gente e o padre [que a gente mais gosta]. É como se fosse um pai para mim”, diz Tiago.