A bancada das trevas

A bancada evangélica finalmente mostrou a que veio: acabar, no longo prazo, com o Estado laico brasileiro. O tenebroso grupo está executando um perigoso projeto de poder, em nome de seus financiadores eleitorais (as igrejas neopentecostais), que, se consolidado, poderá levar o Brasil a seguir os rumos do fundamentalismo e da teocracia.

Hoje, a bancada da escuridão conta com 63 deputados e 3 senadores, alocados nos mais diversos partidos de situação e de oposição. Por mais que estejam em siglas diferentes, o grupo é um dos mais coesos do Congresso Nacional.

Mas de onde vem essa força deles? Quem eles representam? Senhores, o “poder de fogo” deles vem de um exército de fiéis, que, em regra, obedece integralmente às ordens de suas lideranças, sem maiores críticas ou questionamentos. Esse exército é composto por 15,4% da população brasileira, que no último censo se declarou evangélica.

O número de evangélicos cresceu muito nos últimos anos, graças à competente gestão empresarial das igrejas neopentecostais, entre as quais se destacam a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus e a Igreja Mundial. Essas igrejas, principalmente por causa de campanhas agressivas de arrecadação de dízimos e ofertas, conseguiram fundos para pôr em prática o seu ousado e bem sucedido plano de expansão.

Ora, mas qual o problema da existência de uma bancada evangélica no Congresso, afinal, o Brasil é um país democrático e os evangélicos podem eleger os seus representantes?! Claro, não há problema quanto a isso, afinal, os evangélicos têm todo o direito de votar em quem eles quiserem.

O problema não é o voto dos evangélicos em si, nem a presença de uma ala parlamentar que os represente. O x da questão é o projeto de poder traçado pelas lideranças que sustentam a bancada evangélica, que, se não for monitorado pelo restante da sociedade, poderá culminar com o fim do já fraco Estado laico brasileiro.

Isso talvez possa soar um tanto alarmista, mas não o é! Para as lideranças evangélicas, vale tudo para a conversão das pessoas à sua doutrina: do bombardeio televisivo de cultos à conversão agressiva de índios, conforme denúncias veiculadas na internet; da destruição de terreiros onde se praticam religiões africanas à demonização de qualquer crítica, afinal, como diz a Bíblia, “feliz é a nação cujo Deus é o senhor”, mesmo que à custa do Estado laico, da democracia e dos direitos à igualdade e à liberdade religiosa.

Esses líderes veem a Constituição e o Estado laico como a lei dos “homens”, portanto hierarquicamente inferiores à lei de Deus, por eles interpretada e aplicada. Por isso, não haveria problema algum em acabar com a separação entre a igreja e o Estado, pois essa seria a maneira mais efetiva de tornar o Brasil a “Terra do Senhor”, administrada, por sua vez, por seus “representantes” terráqueos.

Por mais que eu conheça evangélicos esclarecidos, que defendem o Estado laico, os membros da bancada das trevas e os líderes das principais igrejas neopentecostais têm sede de poder e sonham com uma teocracia, com um país oficialmente cristão, para não dizer somente evangélico.

É suficiente ver um desses cultos na TV para entender o que eles realmente almejam com a política. Pastores, bispos e até apóstolos dizem com certa frequência às suas “ovelhas”: “Por que a gente não cria um partido para cuidar só das coisas de Deus?”; “O nosso objetivo é evangelizar o Brasil!”.

Portanto, por mais que possam desmentir os seus verdadeiros objetivos com a política, assim que puderem, mesmo que isso leve muito tempo, a bancada das trevas tornará o Brasil um Irã evangélico, com “aiatolás” e tudo mais.

Como contraponto a essa avançada da bancada evangélica, os secularistas, mesmo religiosos, devem pressionar os seus representantes para que defendam o Estado laico e que, pelos meios democráticos, consigam impedir a execução desse perigoso projeto de poder evangélico.

O Poder Judiciário e o Ministério Público devem ter todo o apoio da sociedade para que possam defender plenamente a Constituição e o Estado laico. Qualquer projeto de lei que lhes diminua a independência e o poder deve ser prontamente rechaçado por todos os secularistas.

Com o tempo, deve ser criada e consolidada uma frente secularista parlamentar, que deve se pautar na defesa do Estado laico. Vale ressaltar que essa frente não deve ter uma abordagem antirreligiosa, mas servirá apenas e tão somente para reforçar o saudável muro que separa o Estado da igreja.

Agindo assim, talvez a avançada da bancada evangélica tenha um freio e o seu projeto de poder seja, finalmente, paralisado. Caso contrário, o Brasil poderá se tornar oficialmente o “país do Senhor”, e não mais o país de todos. Portanto, alerta secularistas!

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