Aforismos – A Dialética da Vida

A vida contrai-se e expande-se proporcionalmente à coragem do indivíduo.”  – Anais Nin

À coragem, sobretudo, do indivíduo conspurcar-se. Uso essa palavra no sentido de eliminar o pudor que temos quando pousamos o olhar sobre nós mesmos. Ou seja; ter a capacidade de nos macular, de ver defeitos em nós. Não limpar nem fingir que não vemos nossas pestilências, pus, máculas e desordens… Eis que assumindo o de mais cru, animalesco e vil que nos constitui é que encaramos a medusa sem nos petrificar. É no encontro do outro que nos defrontamos com o que há de mais hipócrita em nós e revelamos a nós mesmo nossos autoenganos.

 

Fazendo parte de nossa constituição como indivíduos nossa relação com o outro, por mais boa vontade que tenhamos de nos conspurcar, sempre haverá uma camada intransponível circunstancialmente. Ela poderá ser ultrapassada em algum momento futuro através de um exercício de honestidade altamente agressivo, porém sempre nos delimitará no agora. A nossa própria noção de identidade e de EU é algo que nos preserva e dificilmente nos destituiremos dela. Embora eu postule, como Lacan e Sartre, a ficção do EU, postulo a partir do que entendo como Mim. Não é um paradoxo?

 

Talvez o que nos resta é termos consciência de que algumas máculas jamais serão limpas, pois são necessárias para nossa relação com o mundo. O problema, e é isso que busco para mim, é diminuir cada vez mais as máculas que eu não sei sequer que existem, que estão fora de minha consciência e que constituem o “piloto automático” que me guia sem que eu saiba. Ao menos tendo consciência delas eu possa ter a opção de escolher me enganar dizendo que as escolhi para me guiar. Ao menos quero aceitá-las a partir da consciência de sua necessidade, assumindo meu próprio non sense.

 

Portanto é preciso ter coragem para agüentar essa expansão e contração constante da dialética sobre si mesmo que chamamos de vida…

 

Gilberto Miranda Junior

Filosofando na Penumbra

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