Dia dos Namorados e das Namoradas

 
Santo Antônio anda ocupado. O que tem de gente choramingando atrás do santo, não é brincadeira. E o motivo é o mesmo: arrumar marido. As mulheres são campeãs nisso – a maioria, heterossexual. Deve haver alguma parcela de homens heterossexuais que também fazem suas mandingas com o santo para arrumar mulher, mas são bem mais raros. Acredito que alguns homossexuais também façam suas rezas e simpatias em torno de Toninho, mas não são a maioria, provavelmente. Tem gente que jura que sua receita funciona. 
 
No meu caso, a única simpatia que sempre funcionou foi a minha – a do sorriso, do papo legal, da estratégia. 🙂 Foi assim que comecei a namorar Emanuel cinco anos atrás. Porém, não posso dizer que eu fui o único responsável pelo encontro e desenrolar do namoro. Não. Emanuel também tinha lá sua simpatia nada ‘supersticiosa’ – apenas aquela do sorriso, do jeito agradável de manter uma prosa. Ah, minha gente… perfume! Na medida certa, alguma fragrância é fundamental. E foi o pretexto de sentir o perfume mais perto que desencadeou a aproximação dos corpos e o primeiro ‘cheiro’ no pescoço. Estratégia. 😉
 
Deixando o romance um pouco de lado, decidi escrever esse post no dia dos namorados pensando em algumas coisas.
 
Primeiro, celebrada no domingo passado (3 dias atrás), a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo deve ter promovido muitos encontros. Fico pensando em quantos desses encontros acabaram sendo marcados de novo, telefones compartilhados, um novo relacionamento iniciado. Seria interessante saber, mas talvez seja impossível. Quem sabe um dia o pessoal da Parada faça uma enquete no site oficial e as pessoas comecem a contar suas histórias de amor. 
 
Muita gente reflete pouco e critica muito. Isso também acontece com a Parada do Orgulho LGBT. A maioria das pessoas não percebe o poder da alegria, da afirmação positiva, da celebração do orgulho de ser quem se é. Nem só de discursos e gritos de ordem se faz política. E a Parada do Orgulho LGBT, com sua descontração e quebra de paradigmas, está aí para demonstrar isso. Nada irrita mais os fundamentalistas do que a alegria dos ‘pecadores’. hehehe Mas, nossa alegria não é para eles, nem mesmo para apenas irrita-los. Nossa alegria é pela vida! É alegria de viver, de ser, de gozar o que a vida oferece e conquistar o que ela nega.
 
Eu e Emanuel, por exemplo, quando trocamos alianças no estilo ‘noivado’, fizemos isso durante a Parada do Orgulho LGBT do Rio (Copacabana). Um pequeno grupo de amigos participou do momento, inclusive jantando conosco num restaurante na orla de Copa, pouco antes do final da Parada. Isso aconteceu há quatro anos. Foi um dia muito especial.
 
Temos ainda mais motivos para celebrar, porque há pouco mais de um ano o STF aprovou a isonomia das uniões estáveis, independentemente do sexo dos contratantes. Isso foi uma vitória para a cidadania, especialmente para os LGBT, pois reconheceu igualdade onde a diversidade anteriormente era motivo para a exclusão. Muitos casais homoafetivos, porém, têm enfrentado dificuldades para converter a união civil em casamento civil. Isso precisa ser resolvido urgentemente. Felizmente, alguns casais têm obtido o reconhecimento de seus casamentos, com tudo o que isso significa do ponto de vista legal.
 
Uma das coisas, porém, que mais me irritam quando se fala de casamento igualitário é que tem muita gente – novamente por falar muito e pensar pouco – que acha que casamento igualitário significa que o casal homoafetivo poderá obrigar o pastor ou o padre a casa-los em suas respectivas igrejas. Isso é de uma ignorância ou má-fé injustificáveis. Explico por quê:
 
1. Casamento igualitário é civil, essencialmente jurídico. Nada tem a ver com casamento religioso.
 
2. A igreja católica e muitas de suas filhas protestantes gostam de arrogar a si o direito de casar apenas as pessoas que elas consideram dignas. O Estado ignora isso. O Estado reconhece o direito de todos – o que não significa que essas igrejas farão a mesma coisa, mas isso não faz a mínima diferença juridicamente. O casamento religioso tem a força de um ritual, e ponto. Por isso mesmo, só tem valor para os que acreditam no que aquela comunidade de fé prega, porque o que vale de fato é o casamento civil. Até hoje a igreja católica não faz segundo casamento. Já o Estado reconhece quantos casamentos o indivíduo realizar nos moldes da lei. A mesma coisa vale para os casais homoafetivos. Quando o Estado reconhecer plenamente o casamento homoafetivo, o direito civil estará garantido, mas as cerimônias religiosas continuarão sendo realizadas e acordo com as crenças das agremiações religiosas. Algumas farão, outras não – conforme decisão de cada uma.
 
3. Da mesma maneira que uma sinagoga só casa judeus, a igreja católica só casa católicos, as igrejas evangélicas só casam evangélicos (algumas nem fazem o casamento de um membro da comunidade com um membro do Candomblé, por exemplo), as agremiações religiosas poderão continuar não celebrando cerimônias matrimoniais para casais homoafetivos, a menos que o desejem. Isso não tem nada a ver com casamento civil igualitário. 
 
4. Além disso, já existem terreiros inclusivos, igrejas inclusivas, etc., que celebram todas as sexualidades e fazem cerimônias de casamento, antes mesmo do Estado reconhecer esse direito. Casais homoafetivos já têm celebrado seus casamentos – sem valor legal, exatamente como os de qualquer agremiação religiosa, uma vez que o único casamento que tem valor jurídico é o civil, ou seja, o do cartório. As pessoas podem assinar o contrato de casamento onde for, mas ele tem que proceder de um cartório. Portanto, cerimônia religiosa de matrimônio e casamento civil são duas coisas distintas e que não precisam se misturar.
 
5. Casais homoafetivos que não são religiosos ou que são ateus (como é o meu caso) não dão a mínima para sacramentos, ordenanças e preceitos religiosos. Nem passa pela nossa cabeça ficar diante de um altar e cumprir este ou aquele ritual. A única coisa que nos interessa é o reconhecimento jurídico de uma direito que é nosso como seres humanos. Se não houvesse um templo no mundo, ainda haveria casamento, porque é da natureza do ser humano querer viver em sociedade. O casamento é uma sociedade na qual as relações sexuais desempenham um papel importante, mas não exclusivo. Há muito mais envolvido nisso do que apenas sexo. Aliás, para transar, ninguém precisa casar. 😉
 
Portanto, quando você ouvir alguém dizer “sou a favor da união civil, mas não do casamento igualitário”, lembre-se que essa pessoa nunca pensou nessas coisas ou está simplesmente agindo com má-fé para criar cismas onde não existem conflitos de fato. E se você é uma pessoa sensata que entende tudo isso e até muito mais do que isso, não vai se deixar levar pela intriga da oposição. 
 
Agora, uma coisa é certa: só case quem quiser! Quem não quiser casar, não case! E se quiser montar um harém em casa, monte – seja de machos, de fêmeas ou dos dois. Ninguém tem nada a ver com isso. Além disso, não é de uniformização de costumes que estamos falando, mas de direitos civis. Quem quiser viver de modo totalmente diferente, pode! A única condição é que não se faça nada que viole o direito do outro e que as partes envolvidas sejam legalmente responsáveis por si mesmas e estejam de acordo por livre e espontânea vontade. Se as pessoas não envolvidas concordam ou discordam, só tenho um imperativo para elas: F-dam-se! 😉
 
Abaixo a carolice!
 
Viva o casamento igualitário!
 
Viva o sexo livre!
 
Viva a fidelidade conjugal!


Viva a relação aberta!
 
Viva a monogamia!
 
Viva a poligamia!
 
Viva a heterossexualidade!
 
Viva a homossexualidade!
 
Viva a bissexualidade!
 
E um viva especial para todas as identidades de gênero!
 
Tudo isso é valido. E a base é uma só: Você decide o que faz com seu corpo e com seus afetos. O único limite: Não violar o direito dos outros. 
 
E quem quiser viver no estilo papai, mamãe e prole, que viva. Isso não afeta o meu direito, assim como a minha vivência da afetividade não afeta o deles. Basta que cada um cuide de sua própria vida… isso já elimina um bocado de problemas.


Sergio Viula – post primeiro publica no blog Fora do Armário


 
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