Ensaio sobre a humildade

www.penselivre.blog.com/

 

Ensaio sobre a humildade

 

Humanos, arrependa-vos de vossa arrogância e incompetência,

Vós que julgais ser o espelho do arquiteto, uma caricatura fiel,

Vós que entregais aos outros toda a ganância e incoerência,

Vós que olham aos céus, esperando sublime reverência,

Vós que se consideram um desenho perfeito, argila sobre papel.

 

Humanos, arrependa-vos de vossa inércia e parcialidade,

Vós que julgais ser o meão entre pó e éden, água e metal,

Vós que doutrinaram as leis em alusão a vossa personalidade,

Vós que ajoelham em migalhas, sorvendo a santidade,

Vós que julgam e condenam, presumindo estar acima do mal.

 

Uma raça que aprendeu, talvez precocemente a olhar o céu,

Sentindo-se escudado pelo manto azul, protegido pelo véu,

Que inquietam-se quando o negror esconde a constelação,

Mas que presume entender as leis que governam a escuridão,

E que desta forma dominam as teorias, sendo seu único réu.

 

Uma raça que se auto intitula soberana sobre a terra,

Sentindo-se depositária dos inferiores seres irracionais,

Que adoece quando em contato com certos tipos virais,

Mas que vislumbra o topo da cadeia, pressupondo que não erra,

E que desta forma, classifica as perdas como eventos pontuais.

 

A força suprema da natureza, perfeita no ato da criação,

O ápice do livro da vida, o capítulo de maior emoção,

Com régua e compasso medidos, projetados no máximo esmero,

Ainda sim falho, para que não soberbas na imensidão,

Para que não confundas o certo, e não profane o vero.

 

A máxima expressão do peito do poeta, o verso perfeito,

O apogeu do universo, a conjunção de todas as leis,

Com pecado e suor moldados, aliciados pelos falsos reis,

Ainda sim confiante, para que não pereças sem ser eleito,

Para que não profanes o justo e seja imune ao pleito.

 

Esta visão dos seres de design infalível enobrece a maioria,

Minorando as causalidades, encaixando-as à sua sinfonia,

Afinal, os herdeiros têm o direito sobre seu legado,

Hereditário, o poder sobre a terra é teu falso eterno reinado,

Aos opoentes, a ação é de causa e efeito, sem ardor, fria.

 

Esta visão dos seres de design duvidoso enobrece o acaso,

Minorando as certezas, encaixando-as à sua teoria, mesmo que com atraso,

Afinal, estes herdeiros sabem dos processos lentos e imperfeitos,

Hereditário, o poder sobre a terra é ocasião da explosão de estrelas em seus leitos,

Somos como poeira, que balança ao vento, um mero sopro do espaço.

 

Thiago Tonello – 10/07/2012

You may also like