Ensaio sobre a humildade
Ensaio sobre a humildade
Humanos, arrependa-vos de vossa arrogância e incompetência,
Vós que julgais ser o espelho do arquiteto, uma caricatura fiel,
Vós que entregais aos outros toda a ganância e incoerência,
Vós que olham aos céus, esperando sublime reverência,
Vós que se consideram um desenho perfeito, argila sobre papel.
Humanos, arrependa-vos de vossa inércia e parcialidade,
Vós que julgais ser o meão entre pó e éden, água e metal,
Vós que doutrinaram as leis em alusão a vossa personalidade,
Vós que ajoelham em migalhas, sorvendo a santidade,
Vós que julgam e condenam, presumindo estar acima do mal.
Uma raça que aprendeu, talvez precocemente a olhar o céu,
Sentindo-se escudado pelo manto azul, protegido pelo véu,
Que inquietam-se quando o negror esconde a constelação,
Mas que presume entender as leis que governam a escuridão,
E que desta forma dominam as teorias, sendo seu único réu.
Uma raça que se auto intitula soberana sobre a terra,
Sentindo-se depositária dos inferiores seres irracionais,
Que adoece quando em contato com certos tipos virais,
Mas que vislumbra o topo da cadeia, pressupondo que não erra,
E que desta forma, classifica as perdas como eventos pontuais.
A força suprema da natureza, perfeita no ato da criação,
O ápice do livro da vida, o capítulo de maior emoção,
Com régua e compasso medidos, projetados no máximo esmero,
Ainda sim falho, para que não soberbas na imensidão,
Para que não confundas o certo, e não profane o vero.
A máxima expressão do peito do poeta, o verso perfeito,
O apogeu do universo, a conjunção de todas as leis,
Com pecado e suor moldados, aliciados pelos falsos reis,
Ainda sim confiante, para que não pereças sem ser eleito,
Para que não profanes o justo e seja imune ao pleito.
Esta visão dos seres de design infalível enobrece a maioria,
Minorando as causalidades, encaixando-as à sua sinfonia,
Afinal, os herdeiros têm o direito sobre seu legado,
Hereditário, o poder sobre a terra é teu falso eterno reinado,
Aos opoentes, a ação é de causa e efeito, sem ardor, fria.
Esta visão dos seres de design duvidoso enobrece o acaso,
Minorando as certezas, encaixando-as à sua teoria, mesmo que com atraso,
Afinal, estes herdeiros sabem dos processos lentos e imperfeitos,
Hereditário, o poder sobre a terra é ocasião da explosão de estrelas em seus leitos,
Somos como poeira, que balança ao vento, um mero sopro do espaço.
Thiago Tonello – 10/07/2012