Honestidade Intelectual

Honestidade Intelectual
Autor: Jeronimo Freitas

Depois que as bases da metodologia científica foram estabelecidas pelo filósofo inglês Francis Bacon[1],
houve uma avanço significativo no conhecimento humano. Com o passar do tempo, muito daquilo que era tido como certo, por séculos a fio, passou a ser questionado e em grande parte refutado.  Foram esses questionamentos que fizeram com que a Terra deixasse de ser plana e de ser o centro do universo.

Eles explicaram que os fenômenos naturais como terremotos, enchentes, erupções vulcânicas, tempestades e secas, assim como as doenças contagiosas, não deviam serem atribuídos a castigos divinos, em resposta à desobediência humana, e passaram a ser explicados de maneira coerente, serem previstos e, em certos casos, minimizados, controlados ou até mesmo erradicados. Os sonhos deixaram de ser considerados viagens espirituais a outros mundos e a morte começou a ser vista como apenas mais uma etapa do ciclo biológico do indivíduo.

  
A metodologia científica mudou paradigmas e fez avançar a moral. Isso fez com que diminuíssem sensivelmente, nas sociedades cientificamente desenvolvidas, injustiças culturais como as acusações de bruxaria, a escravatura, certos preconceitos, as execuções sumárias e a desigualdade baseada em gênero, raça, idade, religião e preferência política ou sexual. O avanço científico fez aumentar a expectativa e a qualidade de vida nas sociedades industrializadas. Nunca se viveu tanto tempo, de maneira tão saudável e com tanto acesso à cultura e à informação como se vive hoje. O conhecimento e a moral ocidental de hoje nos permite ver onde erramos no passado e o que podemos melhorar hoje para podermos ter um futuro melhor. A questão do aquecimento global é um excelente exemplo. Para que chegássemos à qualidade de vida ocidental de hoje, tivemos que usar a razão e abandonar uma porção de crenças infundadas que até então eram transmitidas como verdades, apenas por uma questão de tradição. Tivemos que questionar o status quo, reconhecer o que estava errado e trabalhar em busca de soluções. Tudo isso foi conquistado graças à honestidade intelectual e à capacidade que alguns homens e mulheres têm, de questionar a realidade e assim chegarem a mudar de idéia.
 
É perfeitamente normal que as crianças não questionem as informações que recebem. Essa maneira de funcionar foi, possivelmente, a estratégia privilegiada pela Seleção Natural, para permitir que as crianças primitivas aprendessem rapidamente os ensinamentos passados pelos seus pais. Vocês já imaginaram como seria difícil ensinar algo a uma criança, se a cada coisa que vocês a dissessem ela lhes pedissem uma prova? Seria impossível.  Por isso as crianças foram “programadas geneticamente” para aceitar o que os adultos dizem. Mas elas não devem continuar assim para sempre.  Não queiram que seus filhos funcionem como maquinas que repetem o que ouvem sem questionar. Tenham cuidado com o que ensinam a seus filhos. Uma criança obesa, racista, xenofóbica, anoréxica, geralmente está sendo vítima da negligência e/ou desinformação dos pais. Não estimulem seus filhos a aceitarem como verdade tudo aquilo que lhes passam como sendo verdadeiro, seja por uma questão cultural, seja por acharem que as coisas sempre foram assim. Sejam diferentes. Pensem e usem o cérebro! Questionem! Peçam provas!
 
Vocês não devem agir como idiotas. Vocês são seres humanos do século XXI e a responsabilidade da educação de seus filhos está, em grande parte, em vossas mãos.
 

“Não é o bastante ver que um jardim é bonito, sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?”

 Douglas Adam (1952-2001)
 
Não desperdicem um cérebro tão complexo com futilidades e dogmas. Examinem sempre os pontos de vista  diferentes do seu. Uma vez a evidência comprovada, sejam capazes de entendê-la e aceitá-la.
 
 
LEIAM, INSTRUAM-SE
  
Se não há evidências testáveis, não há certeza. É por isso, e apenas por isso, que eu não posso hoje afirmar a existência de deus. Também é necessário ressaltar que a falta de evidências sobre algo (deus), não implica, necessariamente, que esse algo(deus) não exista. Implica apenas que não se pode afirmar a existência de algo para o qual não se há evidências.  Nem eu e nem ninguém, que seja intelectualmente honesto, pode afirmar que deus existe ou não existe.[2] Pense nisso!!!
Você que está lendo esse artigo, direto do seu PC, smart-phone ou iPad , que é capaz de interpretar esse texto e entender a idéia que eu quero passar, faz parte de menos de 5% da população do mundo. A maior parte das pessoas passa pela vida sem se interessar em conhecer e aprender sobre o mundo que as rodeia. A maior parte das pessoas é também, pobre ou miserável e uma coisa está intimamente ligada à outra. Eu me preocupo sempre em saber se o políticono qual vou votar ou se o médico que cuida as saúde dos meus filhos é alguém a quem eu possa considerar como sendo intelectualmente honesto. Isso pra mim é muito importante. Se eu tiver escolha, eu vou sempre optar por votar em um político secular e escolher ser tratado por um médico cético. Como eu poderia confiar num médico ou num político que acredita nas coisas apenas porque lhe disseram? De um médico homeopata eu quero distância, na verdade eu acho que eles não merecem ser reconhecidos como médicos e não deveriam ter direito a exercer a profissão.
  
Busquem informação, discutam com pessoas de opinião diferente. Se um dia alguém não tivesse duvidado que o mundo não era plano como afirmavam e não tivesse se aventurado numa viagem para além dos limites que estabeleciam o fim do mundo naquela época, as américas não teriam sido “descobertas” e você que está lendo esse artigo no Brasil, talvez tivesse nascido na Índia ou no Irã. Se isso tivesse acontecido você não seria cristão e certamente defenderia com afinco, tudo o que hoje você julga estar equivocado. Você inclusive ia achar que as pessoas que hoje pensam exatamente como você, iriam para o inferno, quando morressem, pelo simples fato de cultuarem o deus errado.
 
 
Como leitura complementar eu gostaria de sugerir dois textos:
 
Richard Dawkins: Boas e mas razões para acreditar.
 
 
 
[2] Eu sou ateu. Ateu por definição é
 
aquela pessoa que não acredita na existência de divindades. Eu não posso provar que deus não existe. Nem o deus teísta, nem, muito menos, o deus deísta. Entretanto eu sou partidário da teoria que deus é uma criação do intelecto
 
humano que preenche lacunas deixadas em aberto pela falta de conhecimento e de respostas às questões existenciais. Deus é a evolução da crença no amigo invisível que as vezes vemos habitar a mente das crianças. Eu li, e continuo
 
lendo, enormemente sobre isso e tenho a forte convicção que o conhecimento científico vai por em cheque a existência de deus. Do ponto de vista filosófico, eu deveria me posicionar com agnóstico ateísta, mas do ponto de
 
vista pragmático, prefiro me posicionar como néo-ateista-secular.

Douglas Adam (1952-2001)

You may also like