Intolerância religiosa contra ex-padres, ex-pastores, ex-obreiros, ex-fiéis? De onde ela vem?

Recentemente, um ex-pastor presbiteriano, colega daqui e também membro da rede Irreligiosos, relatou as pressões psicológicas, perseguições e discriminações que sofreu ao resolver tornar pública a sua mudança de convicções religiosas, deixando de ser pastor e convertendo-se em agnóstico irreligioso. O curioso é que,  ao contrário do que muitos podem inicialmente ter pensado, isto se deu dentro do próprio meio evangélico. A mim, isto causou apenas indignação, mas não surpresa, porque a reação dos crentes e ex-companheiros de denominação era previsível e o caso, um clássico várias vezes acontecido, sempre teve o mesmo desfecho. A história completa, para quem quiser conhecer, pode ser acessada neste link.  Vamos às constatações:

Intolerância religiosa contra antirreligiosos e ex-membros de comunidades religiosas

Após alguns anos analisando o comportamento e as reações dos religiosos contra aqueles que nunca compartilharam da sua fé ou que resolveram abandonar suas denominações e/ou renunciar às suas convicções, pode-se dizer que as reações preconceituosas e até mesmo agressivas são comuns, quase uma constante, principalmente entre as comunidades evangélicas. Você pode trocar de time de futebol e ainda assim manter suas antigas amizades e sentarem-se todos em torno de uma mesma mesa de bar; na política, onde a mentira e a hipocrisia são comuns, você pode trocar de partido político e continuar amigo de seus antigos companheiros de bancada (escondido dos eleitores, é claro); você pode separar-se, partir para um segundo casamento e continuar amigo(a) de seu ex-cônjuge, filhos e demais parentes, talvez até com alguns ressentimentos, mas num convívio harmonioso. No entanto, se você resolver deixar de ser religioso, abandonar ou trocar de denominação religiosa, você será discriminado e perseguido. Por que existem tantos desses casos?

Abaixo, um exemplo, colhido nas páginas do Livro de Visitas da rede “Irreligiosos”:

Sacerdotes religiosos têm de pregar e convencer, sem terem o direito de discordar

Quando comentávamos, na rede Irreligiosos, o livro “Onde a Religião Termina?“, de Marcelo da Luz , um outro ex-religioso, um padre católico que abandonou o sacerdócio depois de 20 anos, escrevíamos:

“…Por outro lado, há que se destacar também – e isso é explicado no livro – o drama que vivem os sacerdotes católicos tendo que pregar, sem terem eles próprios liberdade de opinião. Não podem falar sobre o que querem, sem se afastar da programação e dos cânones católicos, que os obrigam a pregar para uma plateia passiva que, por sua vez, só pode ouvir, mas não manifestar-se ou inquirir. Suas dúvidas e discordâncias aos textos bíblicos ou em relação àquilo que são obrigados a repassar para os fiéis, não podem jamais ser externadas publicamente”.

Terror, chantagens psicológicas e opressão mantêm os fiéis cativos

As religiões são tiranas, escravizantes, opressoras e não se contentam apenas com o proselitismo: querem, a todo custo, manter o fiel cativo de suas denominações (“perder fiel é perder dinheiro“). Não importa que isso seja feito à custa de enganações, mentiras, chantagens emocionais, terror ou charlatanismo. Por isso, quando um membro resolve se rebelar e revelar as verdades e falcatruas, tentam impedi-lo. Se não conseguem, tentam desacreditá-lo e é aí que começam as perseguições. Um caso muito conhecido foi o de um ex-pastor da IURD que resolveu abandonar a denominação, contando a verdade no livro “Nos Bastidores do Reino“. Sofreu horrores, foi perseguido, processado e o livro retirado de circulação, com o “bispo” Edir Macedo tendo mandado comprar todos os exemplares. Hoje, somente com muita sorte, você conseguirá comprar, assim mesmo só em sebos, algum exemplar desse livro.

No evangelismo, ex-pastores e ex-obreiros são estigmatizados quando abandonam a fé ou a denominação

Dezenas de relatos, livros e vídeos comprovam essa conclusão. Em alguns vídeos é relatado que caravanas de crentes assediam o ex-crente, até mesmo em sua própria casa. Não basta o assédio e, em seguida, a discriminação e a perseguição. Os evangélicos parecem regozijar-se quando um ex-pastor ou ex-obreiro cai em desgraça. Divulgam o fato na net, nas revistas, nos templos e citam-no como exemplo do que acontece quando alguém resolve abandonar a denominação ou converter-se em ateu.

Depois de tudo isso, é compreensível que o fiel fique com medo de abandonar a sua denominação e, muito mais ainda, de mudar sus convicções para antirreligiosas.

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