Para derrubar o mito dos genes

Livro mostra por que a diferença entre as pessoas comuns e os grandes gênios não está no código genético e conta como Da Vinci, Dante e Beethoven alcançaram a genialidade.

Por: Catarina Chagas

Publicado em 27/04/2011 | Atualizado em 27/04/2011

Para derrubar o mito dos genes

O que diferencia Einstein, Mozart e Michael Jordan de tantos que, na mesma época, desenvolviam teorias científicas, compunham ou jogavam basquete? Novo livro de David Shenk foge do determinismo genético para debater a questão. (fotos: Wikimedia Commons)

“Tudo o que você ouviu falar sobre genética, talento e QI está errado.” É assim, logo na capa de seu novo livro, que o jornalista David Shenk começa a provocar o leitor. O gênio em todos nós é, aliás, provocativo do começo ao fim. Seu objetivo maior é mostrar ao mundo que nem tudo está escrito nos genes e que nosso DNA não é capaz de determinar nosso futuro profissional ou intelectual.

O autor argumenta que Einstein, Mozart, Michael Jordan e outras personalidades não se destacaram na ciência, na música e no esporte por um acaso genético. Em vez disso, a forma como foram treinados, a dedicação com que trabalharam e o contexto em que viveram fez toda a diferença.

Explicar como isso acontece, porém, não é tarefa fácil, como admite o próprio autor. “Ajudar o público a entender a interação gene-ambiente é uma tarefa especialmente árdua, pois é de uma complexidade monstruosa”, escreve.

Capa 'O gênio em todos nós'Motivado por esse desafio, Shenk compila uma série de pesquisas e informações históricas que ajudam a sustentar sua hipótese. Cada capítulo do livro é recheado de exemplos reais, nomes de cientistas e seus trabalhos.

Na primeira parte, o foco é desmistificar a inteligência e outras capacidades especiais, como o dom. Começando por explicar o funcionamento dos genes, o autor procura mostrar como o ambiente interfere no desenvolvimento da personalidade, do comportamento e da saúde, além de introduzir o conceito de “desenvolvimento dinâmico” para substituir o binômio inato + adquirido. Ele argumenta que a inteligência deve ser vista como processo e que, portanto, pode ser aprimorada ao longo da vida.

Shenk conclui que os talentos não são dons inatos, mas resultados do desenvolvimento pessoal desde o momento da concepção. Embora admita que nem todos nasçam com o mesmo potencial para certas atividades, o autor afirma que “ninguém é geneticamente destinado à grandeza” e que “poucos são biologicamente incapazes de alcançá-la”.

A combinação entre DNA e ambiente é que faz um verdadeiro talento

Para concluir a argumentação, procura explicar como as diferenças entre gêmeos idênticos, os exemplos de crianças prodígio, os talentos tardios e as aglomerações de talentos em determinados grupos étnicos podem corroborar a ideia de que, mais do que simplesmente o código genético, a combinação entre DNA e ambiente é que faz um verdadeiro talento.

Sangue e suor

Capacete
Shenk defende que a genialidade é fruto do contexto sociocultural e de trabalho árduo. (foto: Ove Tøpfer/ Scx.hu)

Já a segunda parte do livro tem um propósito, digamos, mais prático: sabendo que não somos fadados geneticamente ao fracasso ou ao sucesso, como explorar ao máximo nosso potencial e alcançar a grandeza dos gênios?

Apesar dos títulos que lembram livros de auto-ajuda (por exemplo, ‘Como ser um gênio’ ou ‘Como arruinar (ou inspirar) uma criança’), o autor garante: “este, na verdade, não é um livro sobre a genialidade no sentido convencional do termo. Ele não é um manual que lhe diz como você também pode ser igualzinho a William Shakespeare”.

A genialidade chega apenas para aqueles que a perseguem

Os capítulos seguem, então, oferecendo exemplos históricos que provam que a genialidade chega apenas para aqueles que a perseguem. A diferença entre cada um de nós e grandes gênios como Da Vinci, Dante e Beethoven não reside no fato de que eles seriam grandes e nós, comuns por natureza, mas na forma como foram moldados para se tornarem gênios.

Um alívio para alguns, certamente – e a perspectiva de muito trabalho pela frente para outros.

O gênio em todos nós
David Shenk
Rio de Janeiro, 2011, Editora Zahar
358 páginas – R$ 39
Tel.: (21) 2529-4750

Catarina Chagas
Especial para a CH On-line/ RJ

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One comment

  • Eu acho que tem um pouco das duas coisas. Se o cara vive bnum ambiente propicio à genialidade ele tem mais chance de ser um gênio, do que quem não vive. Se ainda por cima ele é predisposto geneticamente, isso potencializa a coisa ainda mais. Já num ambiente desfavorável à genilaidade, auele prediposto geneticamente vai se sair melhor que os outros. Já li que QI é transmitido geneticamente. Agora, o fato de ter um QI alto não significa que a pessoa va ser um gênio. Eu acho que as duas coisas se completam. Por isso, independentemente do fato de se ter um QI alto ou não, devemos tentar viver num ambiente propicio à excelência.