Partido Social Cristão discrimina gays até na propaganda partidária

 Partido Social Cristão discrimina gays até na propaganda partidária
14/10/2011 

Por redação – Lado A

“Homem + Mulher + Amor = Família”, afirma o comercial do Partido Social Cristão (PSC), o PSC, exibido esta semana em horário nobre, o que causou desconforto em parte da comunidade gay que sentiu ali um pouco de homofobia. Apesar de discreta, a afirmação do partido corresponde ao posicionamento de vários de seus representantes, muitos deles pastores de igrejas evangélicas. Usando o símbolo do peixe, simbolizando Cristo, o partido quer colocar os ensinamentos bíblicos acima da Constituição Federal, ignorando a separação do Estado e da Igreja, o chamado Estado Laico.
No site do PSC, apesar do discurso de um partido que coloca o ser humano em primeiro lugar, em maio deste ano, depois da decisão do Supremo Tribunal Federal em reconhecer a legalidade das uniões do mesmo sexo, o partido emitiu nota “repudiando” a decisão da Corte Constitucional. Diz a nota do PSC: “O Partido Social Cristão repudia a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que equipara as relações estáveis de heterossexuais e de homossexuais. A Corte Suprema do País adotou uma posição contrária aos anseios da maioria esmagadora da população brasileira”. Zequinha Marinho, do PSC do Pará, foi além: “Duas pessoas do mesmo sexo podem viver juntas o tempo que quiser, trabalhar e criar as mais diversas situações, mas nunca formarão uma família do ponto de vista da Constituição Brasileira, e também do ponto de vista da constituição divina, que é a Bíblia Sagrada.”
O partido defende em seu site a “Família Cristã”, que, segundo eles, baseados na Bíblia, não inclui casais do mesmo sexo. Com esse pensamento, eles apóiam a Marcha pela Família, que pede que a homofobia não se torne crime no país. Eles defendem ainda o direito de menosprezar e discriminar o homossexual abertamente, exatamente como fizeram em seu comercial, buscando respaldo na liberdade de expressão e liberdade religiosa. Quando a presidente Dilma anunciou a suspensão dos materiais didáticos para diminuir o preconceito nas escolas, o partido apoiou a decisão da presidenta e subjulgou o material – decisão, aliás, provocada após muitos dos políticos do PSC terem ataques e ameaçarem o governo. Onde há algum direito sendo reconhecido aos homossexuais, lá está o partido sob a alcunha de defensor da família e das palavras divinas. Outro local onde sempre é possível encontrar o PSC, é do lado que sairá vencedor das eleições. O partido cresce, com seu rebanho eleitoral que ignora escândalos de corrupção como o caso do pastor da Assembléia de Deus e deputado federal do Paraná, Takayama, que contratou funcionários fantasmas quando deputado estadual e pode pegar 12 anos de prisão, se condenado pelo STF.
Membros do partido afirmam que não são homofóbicos, mas que defendem o ponto de vista cristão. Sob o slogan bíblico “Deus fez Macho e Fêmea”, rejeitam o reconhecimento dos direitos dos homossexuais. Como usam a frase missão do partido “O ser humano em primeiro lugar”, logo, rejeitam também a humanidade dos homossexuais. Ora, em outro tempo, um partido político já pregou a superioridade divina. O tal partido excluiu outro grupo, utilizando um poder divino supostamente a eles consagrado e começaram retirando-lhes a dignidade, a humanidade, criticando suas atitudes e negando-lhes que pudessem circular livremente em público – era uma afronta a educação das crianças puras, argumentavam – pois poderiam contaminar a população majoritária e decente. Depois, os concentraram em bairros selecionados para que lá pudessem fazer as coisas abomináveis que tinham como costume. Depois, foram enviados a campos de concentração e mortos em câmaras de gás.

Fonte: http://www.revistaladoa.com.br/website/artigo.asp?cod=1592&idi=1&moe=84&id=18623

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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

A estupidez da propaganda tem um quê de homofobia – provavelmente o motor que levou o partido a colocar esse disparate no meio de uma campanha – mas não atinge apenas as famílias gays. A maioria das famílias não é formada por pai, mãe e filho hoje em dia. A maioria das crianças vive com a avó sozinha, ou com o avô sozinho, ou com tios e tias, ou até com irmãos ou irmãs mais velhas. Essas pessoas vivendo juntas não são famílias? Isso sem contar aquelas famílias onde nem existem crianças, coisa do tipo irmãos idosos vivendo juntos. Será que eles não são família? O que torna o amor entre um homem e uma mulher mais legítimo do que o amor entre um homem e outro homem ou uma mulher e outra mulher? Os desafios da vida a dois são muito semelhantes, as alegrias, as tristezas, o enfrentamento dos problemas, as contas, os investimentos, a dor da viuvez, etc. Família não é um elemento sagrado revelado por um deus. É uma estratégia de sobrevivência num mundo hostil onde geralmente (nem sempre) existe amor envolvido. Veja-se os assustadores casos de violência doméstica (a maioria entre heterossexuais). 

É muita pobreza intelectual fazer esse tipo de afirmação numa campanha eleitoral. Mas, o que esperar de um partido que se gaba de ser cristão, tem um peixe (símbolo cristão) como logotipo do partido e está recheado de pastores e outros “ministros” evangélicos eleitos através de campanhas verticalmente comandadas por si mesmos e por outros pastores em cultos que são verdadeiros currais eleitorais? Dá para levar um partido desses a sério?

Pessoas de religiões perseguidas por esses evangélicos, bem como ateus e agnósticos, pessoas LGBT, cristãos de denominações mais inteligentes e inclusivas, gente que ama as liberdades civis e odeia os fascismos não pode – em sã consciência – votar em candidatos de um partido desses. Só o fato desse ou daquele político estar afiliado a um partido com essas características já diz muito a respeito dele mesmo.

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3 comments

  • Sergio Viula 21/10/2011  

    Querido Michael,.

     

    Você tem razão no diagnóstico. Quando vejo o tipo ignorante, fanático, submisso, mesquinho, egoístas, golpista, preconceituoso de gente que domina grandes espaços na política, na mídia, no serviço público e até na fila do pão (certos comentários me fazem aspirar à surdez), eu também me sinto inclinado a não esperar grande coisa do futuro desse país. Por outro lado, quando olho para a história recente encontro razões para pensar que é possível mudar certas coisas para melhor. Talvez não tudo de uma vez, mas cada vitória conta.

     

    Penso em Martin Luther King que, apesar de ser pastor e poder fazer como outros que só queriam saber de manter suas congregações e garantir o sustento de suas famílias, arriscou sua própria vida para combater o racismo nos EUA.

     

    Penso em Troy Perry, outro pastor, que cansado de ver o modo como as igrejas excluíam seus membros LGBT, decidiu colocar um fim nisso, fundando uma igreja que veio a ser a maior igreja inclusiva do mundo: a Metropolitan Community Church. Pode parecer bobagem dizer isso numa comunidade ateísta, mas eu penso da seguinte maneira: se as igrejas inclusivas atraem membros das igrejas homofóbicas, elas obrigam as homofóbicas a repensarem sua homofobia – o que não aconteceria se estas fossem deixadas a sua própria mercê. E já que pelo jeito sempre vai haver alguém que prefira crer num amigo imaginário (deus) a enfrentar a vida sem as muletas da religião, prefiro que essas pessoas tenham opções religiosas menos danosas para a sociedade e para si mesmas.

     

    Temos o ateu Charles Darwin que deu o tiro de misericórdia na mitologia que ainda povoava a ciência quando enfrentou todo o mundo com sua Teoria da Evolução das Espécies.

     

    Temos o ateu Patch Adams que lutou para humanizar a medicina.

     

    Temos Harvey Milk que lutou (e foi morto por isso) para criar políticas públicas de inclusão da população LGBT nos EUA. Ele teve vários enfrentamentos com os fundamentalistas evangélicos.

     

    Temos Mahatma Gandhi que se opôs ao imperialismo britânico na Índia.

     

    Temos Nelson Mandela que pelejou contra o apartheid, e de prisioneiro político se tornou presidente da África do Sul por voto direto.

     

    Temos José Saramago, ateu e literato, que lutou contra o domínio da Igreja Católica na política e na sociedade.

     

    E por aí vai… Poderia citar brasileiros a quem admiro pelo trabalho que fizeram enquanto vivos ou fazem hoje: Betinho (sociólogo), Albert Sabin (cientista), Paulo Freire (educador), Darcy Ribeiro (educador), Drauzio Varella (médico), Luiz Mott (antropólogo), Jean Wyllys (professor e deputado). E aqui estou falando apenas dos que têm algum destaque na mídia. Quantos cientistas, professores, médicos, policiais, escritores, políticos, líderes de organizações da sociedade civil trabalham em prol do bem comum, mas não aparecem?

     

    Tendo esses exemplos em mente e razões para querermos uma sociedade melhor, devemos nos inspirar e lutar por um país laico, com justiça e bem-estar social, com liberdades civis garantidas, onde as pessoas usem seu potencial produtivo para o bem comum e desfrutem seus momentos de lazer sem causar danos para si mesmas ou para o patrimônio público. Onde elas possuam amar quem desejam e criar seus filhos com todos as vantagens que o conhecimento humano já nos deu.

     

    Finalizo essa minha resposta parabenizando você, Michael, pelo senso crítico e autocrítico. É raro ver quem possa ter um olhar sobre seu derredor e sobre si mesmo tão honesto.

     

    Abraço forte, querido.

    Sergio Viula

  • Michel Ghelardi 21/10/2011  

    Não poderia ter usado exemplos e citações mais oportunas!

    Não que antes eu ficasse de braços cruzados, mas com certeza tal discurso incentivou a movimentar-me mais! Talvez por em prática um projeto de um ensaio que esta encubado há tempos. rs

    Humanismo, Secularismo e Racionalismo são relativamente novos pra mim (pelo menos os conceitos). Trago comigo apenas a bagagem de um estudo restrito às obras de Nietzsche. Mas não resta dúvidas que por aqui não faltam pessoas esclarecidas com quem vou aprender e dividir muito!

     

    Obrigado mais vez Sergio!!

     

     

    Abração!

  • Sergio Viula 21/10/2011  

    Que bom saber disso, Michel!

     

    Eu amo Nietzsche. Seu trabalho pode acrescentar muito ao esclarecimento das mentes. Capriche! 🙂

     

    Saudações Nietzscheanas,  🙂

    Sergio Viula