Por que sinto necessidade em promover o ateísmo

Autor: Jeronimo Freitas

 
 
 
 
Quando digo às pessoas que sou ateu, algumas tentam argumentar, primeiro para saber se ouviram bem o que eu disse e depois para, na melhor das boas intenções, compartilhar comigo o “bem” que a religião as proporciona. Essas pessoas muitas vezes não aceitam ou, na melhor das hipóteses, não compreendem como alguém pode viver bem, sem Deus. A maioria delas inicia um tipo de tentativa de evangelização. Entretanto quando rebato mostrando que não há evidências que sustentem a existência de seres supremos, elas argumentam que a fé não deve ser discutida e nem pode ser compreendida.
 
 
O ateísmo reconhece e respeita o direito de todos em acreditar nos espíritos dos antepassados, no Deus de Abraão, nas divindades do candomblé, nos deuses Indus, assim como, em Papai Noel, no unicórnio azul, nas sereias, ou em qualquer outra coisa, se isso ajuda alguém a viver melhor a curta existência humana. Eu por exemplo não vou querer convencer alguém com mais de 75 anos e que viveu uma vida sofrida e miserável, de que ele ou ela não vai ter outra vida depois dessa. Isso pode parecer inofensivo, mas as crenças e doutrinas religiosas tornam-se perigosas quando elas ameaçam a liberdade e a integridade dos indivíduos ou da sociedade. É por isso que os ateus são extremamente vigilantes sobre o poder das grandes religiões e seitas e combatem os seus abusos com todas as suas forças.
 
Antes de tudo, eu gostaria de dizer que há maneiras diferentes de se acreditar em Deus. (texto em italico retirado do livro: Deus um Delirio; Richard Dawkins)
 
“Um deísta acredita numa inteligência sobrenatural em cujas ações limitaram-se a estabelecer as leis que governam o universo. O Deus deísta nunca intervém depois, e certamente não tem interesse específico nas questões humanas.
 
Um teísta também acredita numa inteligência sobrenatural, mas uma inteligência que, além de sua obra principal, a de criar o universo, ainda está presente para supervisionar e influenciar o destino subseqüente de sua criação inicial. Em muitos sistemas teístas de fé, a divindade está intimamente envolvida nas questões humanas. Atende a preces; perdoa ou pune pecados; intervém no mundo realizando milagres; preocupa-se com boas e más ações e sabe quando as fazemos (ou até quando pensamos em fazê-las).
 
Os panteístas não acreditam num Deus sobrenatural, mas usam a palavra Deus como sinônimo não sobrenatural para a natureza, ou para o universo, ou para a ordem que governa seu funcionamento.
 
Os deístas diferem dos teístas pelo fato de o Deus deles não atender a preces, não estar interessado em pecados ou confissões, não ler nossos pensamentos e não intervir com milagres caprichosos. Diferem dos panteístas pelo fato de que o Deus deísta é uma espécie de inteligência cósmica, maior que o sinônimo metafórico ou poético dos panteístas para as leis do universo. O panteísmo é um ateísmo enfeitado. O deísmo é um teísmo amenizado”, um agnosticismo.
 
A crença em divindades passa a ser um problema quando as pessoas começam a acreditar na intervenção de deus no universo, sobretudo na vida da humanidade, independente do fato delas terem ou não uma religião. Por exemplo: Tem pessoas que acham as religiões incoerentes, ultrapassadas, surrealistas e inconsistentes e por isso, conversam diretamente com Deus sem o intermédio de uma religião ou um guia. Esse monólogo (para ser diálogo, Deus teria que responder) consiste geralmente em pedidos ou agradecimentos por “graças alcançadas”. O curioso é ver que quando a vida de muitas dessas pessoas encontra-se no estado tido como um “verdadeiro mar de rosas” elas se dirigem muito menos a Deus. Isso mostra a forte ligação entre as crenças e as dificuldades e incertezas da vida e ao grau de instrução das pessoas.
 
As pessoas são levadas às igrejas, às mesquitas e às sinagogas, desde a primeira infância, quando elas são inocentes e indefesas e aceitam o que os adultos dizem, sem questionar. Ainda mais quando esse adulto, o padre, o pastor, o imã, o rabino, é reconhecido como autoridade e como quem detém o conhecimento e goza do respeito da sociedade. A criança vê todos aqueles adultos se ajoelhando submissos, rezando, ouvindo e aceitando tudo. São os seus próprios pais, irmãos e amigos, tios e avós que estão lá. São as pessoas em quem eles mais confiam. Esse é o fenômeno de grupo, o fenômeno das massas. As crianças ouvem essas estórias de milagres, de poder, de bondade, de magia, de céu, de inferno, de diabo, de castigo, do bem contra o mal e então ficam assustadas, pois se sentem impotentes. Elas têm os seus cérebros lavados e são levadas a acreditar desde cedo, que não são nada diante de Deus. Todos os domingos, elas lêem um “Livro Sagrado” com a “Palavra de Deus”. Isso durante anos só pode resultar numa coisa: Na crença, na lavagem cerebral. A palavra Islã, por exemplo, significa submissão.
 
As crianças são rotuladas por pais que dizem que o filho de nove anos é católico, é muçulmano, é hindu, é judeu. Se perguntarmos qual é o partido político ao qual o menino se afiliou ou qual é a linha política que ele prefere entre social-democrata, neoliberal ou extrema direita, a maior parte desses pais vai responder que o filho ainda é muito pequeno pra essas coisas. Mas então eu me pergunto. Se a criança tem idade pra ter uma religião, arcando com todas as conseqüências que esta implicará no resto da sua vida, porque não tem idade para a política? Se analisarmos direito, a política tem um impacto tão direto e imediato na vida das pessoas quanto a religião. Por influencia da política ou da religião muitas pessoas tomam decisões que afetam a sociedade como um todo. Na África do Sul, país com a maior incidência de AIDS per capita no mundo, faz-se pouco uso do preservativo, por causa de dogmas católicos, pois o Papa J. Paulo II condenava e o Papa Bento XVI condena o uso de métodos contraceptivos, pregando que o sexo deve ser feito apenas depois do casamento e unicamente com o cônjuge para fins reprodutivos. Muito bonita essa visão (pra eles), mas o fato é que milhões foram infectados pelo HIV por causa disso.
 
A verdade é que uma criança de nove anos não tem idade nem pra política, nem para religião. Uma criança ainda não tem capacidade de responder pelos seus atos. Seus pais as estão privando do livre arbítrio (tão precioso pra o cristão) e do senso crítico. Eles as estão rotulando, segregando, tornando-as diferentes de muitas outras, e as coitadas não têm a mínima consciência disso.
 
Assim elas vão crescer e, se tiverem sorte, boa instrução e inteligência, poderão até escapar disso. Se não, dependendo do país onde vivam e da religião que sigam, poderão tornarem-se homens-bomba, se jogarem ao comando de um avião, repleto de inocentes, em cima de prédios cheios de pessoas igualmente inocentes, invadir salas de clinicas de aborto e traumatizar ainda mais, uma mãe adolescente que por mil motivos, não se sente preparada pra levar a termo uma gravidez e que por conta disso decidiu, malgrado a dor, passar pelo suplício de um aborto. Poderão apedrejar até a morte uma adolescente de treze anos, como aconteceu recentemente no Paquistão, por ela ter “cometido o erro” de ser estuprada. Poderão tentar fazer de tudo pra impedir a felicidade de homossexuais, poderão matar por causa da fé, pondo a premio a vida de uma pessoa por causa de uma simples caricatura de Maomé. É por isso que eu faço o que posso pra alertar as pessoas contra todos os males causados pelas religiões e por crenças sem fundamento.
 
Os pais dessas crianças, vão se justificar dizendo que o mais importante é o caminho para o céu, o paraíso, a palavra de Deus, a vida eterna e não a vida terrestre, pois essa vida aqui é apenas uma passagem. Quando na verdade. Ninguém, ninguém, ninguém, nunca, jamais, em tempo algum, PROVOU que existe vida após a morte. Dêem a desculpa que derem, falem do primo, da tia, do colega de um tal fulano, que conheceu um cara, que tinha uma vizinha, que teve uma tia, que ressuscitou, ou reencarnou, ou se comunicou desde o “outro lado”. Isso não existe! A vida é aqui, agora. Se fosse diferente já estaria provado de maneira irrefutável e não existiriam mais ateus. Ha apenas esta vida! Você pode achar que é duro, que é injusto, mas é assim. As pessoas não querem aceitar a idéia de ter que deixar de viver, de amar, de sentir prazer, alegria. E é aí, que dando falsas esperanças, as religiões conseguem atrair tanta gente.
Dentre as dificuldades que eu sentia pra dar o passo pra ser ateu, uma das maiores era aceitar que quando eu morresse tudo se acabaria par mim. O sucesso das religiões se baseia justamente nisso. A ilusão de uma vida eterna. Fica difícil pra um ateu competir com a religião, pois nós não agradamos a quem quer ser iludido com a promessa de outras vidas. Outras oportunidades. Uma “segunda chance”. Nós somos seres vivos, somos mamíferos tal qual também o é um cachorro. A grande diferença reside em nossa capacidade cerebral. Mas quando morrermos acabou-se. Você vai se sentir exatamente como se sentia antes de nascer.
 
Jeronimo Lemos de Freitas Filho. Bruxelas 11/10/2010.

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