Sobre a polêmica do video sobre sexismo

Olá pessoal

 

O video sobre sexismo gerou polêmica, o que era esperado, mas gerou também desdobramentos desagradáveis na rede, com desafetos do Bule atacando, em especial no twitter, o post. Eu escrevi este texto e postei nos comentários do post polêmico, e gostaria de compartilhar com vocês.

 

Um abraço

 

Homero

__________________________________________________________________

O que eu realmente sinto dessa discussão toda, que me entristece, é que um debate que embora polemico, não ultrapassa nenhum dos limites do aceitável, em termos de razão, liberdade de opinião e mesmo humanismo (ou não deveria), acaba servindo de munição para ataques sem propósito contra um projeto interessante como o Bule.

Que, é preciso entender, não é uma entidade monolítica, dona da verdade, ou perfeita, mas um conjunto de pessoas com diferentes formações, visões, opiniões e apenas em comum uma disposição em fazer algo para o coletivo, informar as pessoas, e uma atração pelo humanismo, secular ou não.

Diversos “atacantes virtuais” tem usado este episódio como “exemplo” das falhas do Bule, como se o Bule, o conjunto de pessoas que o formam, alguma vez tivesse defendido ser isento de falhas ou perfeito. Este post, e a retratação, não foi o primeiro a provocar polêmica, nem o primeiro a receber uma retratação (e levou bem menos que os 400 anos para absolver Galileu..:-).

Frases no twitter (o ambiente ideal para não dizer nada de útil em poucas palavras..:-) como “ah, que decepção com o Bule” e as ditas com mais “satisfação”, como “ah, eu disse, aqueles caras não prestam mesmo”. É triste que, centenas de posts, sobre os mais diversos assuntos, ciência, humanismo, religião, direitos civis, defesa de minorias, filosofia, argumentação lógica, e mais um monte de coisas, seja “avaliado” por um post, que gerou polêmica. Um post.

Os dois videos postados são irrelevantes a meu ver. Estavam destinados a provocar polêmica, pela sua própria natureza, e pela intenção dos que os criaram, não por culpa do Bule ou de quem decidiu exibi-los aqui. Discutir sobre se deveria ou não ser exibido é desviar o foco da questão. O Bule não existe para se “comportar” de forma perfeita, mas para ampliar o pensamento e as visões de mundo.

No final, se lermos as mensagens, deixando as emoções e os ataques pessoais de lado, podemos perceber que no que importa, concordamos todos: sexismo é ruim, qualquer que seja sua origem, feminismo não se confunde com sexismo, o sujeito do primeiro video pisou na bola ao exagerar os ataques “ad hominens”, e não considerar as diferenças da situação atual entre homens e mulheres (peso social, machismo embutido, criação, vulnerabilidade, etc, etc).

Um debate, feito de forma racional (e educada) nunca é um desperdício. Qualquer assunto pode ser discutido dessa forma. E qualquer agrupamento humano, formado por pessoas distintas e diferentes (e acho ótimo que seja assim), haverá discordâncias e concordâncias.

O que eu penso que deveria ser claro é que, se o que os que detestam o Bule, sua posição filosófica, sua ações, baseiam seus ataques em “falhas” deste, então não deveriam ficar preocupados, pois todos temos falhas, e seria apenas uma questão de tempo para apontar as do Bule..:-)

Mas além de entender que nem tudo o que se aponta como “falha” alheia é falha real, pois pode ser apenas uma diferença de opinião válida, é preciso entender também que mesmo quando se falha, a capacidade de reconhecer isso, e mudar de posição, é que mais importa. Inclusive, é a maior e mais importante diferença entre crença e ciência, religião e ciência: enquanto uma luta para jamais admitir erros e falhas, para ter uma “verdade perfeita e absoluta”, a outra luta para descobrir erros e falhas, aumentando a confiabilidade de suas posições.

Não existe “O Bule”, existimos nós. Muitos inclusive que terão opiniões diferentes sobre estes videos e posicionamentos, mesmo dentro do Bule (é um Bule amplo, espaçoso..:-). É importante, e benéfico, que seja assim. Pensamento único é coisa de religião, não nossa. Não publicar o vídeo, porque causaria polêmica, seria covardia, não virtude. Ele foi publicado, causou polêmica e estranhamento, centenas de mensagens das mais variadas, e foi retratado, e substituído por um vídeo expondo o “outro lado”.

Como se poderia exigir mais que isso, de seres humanos?

Um abraço a todos.

Homero

 

http://bulevoador.haaan.com/2011/07/25023/comment-page-5/#comment-30836

 

You may also like

2 comments

  • Pedro Almeida 01/08/2011  

    sua parcimônia chega a me assustar homero.

    muito obrigado

  • Homero Ottoni 02/08/2011  

    Pedro e Alex, obrigado pelos elogios..:-) E como a discussão passou para elementos de feminismo e machismo, e ainda não conseguiu manter as emoções controladas, eu postei mais este complemento sobre a discussão, vejam o que acham.

     

    Um abraço.

    Homero

    _____________________________________________________

    Aparentemente o debate passou do video, e sua adequação ao Bule e seus propósitos, para uma discussão, quase surreal, sobre feminismo, e machismo. Surreal porque parece que se perde o foco, e acaba tudo em discussões passionais, emocionais, e pouco ligadas a um debate racional, baseado em evidências e lógica.

    Puxa vida pessoal, não podemos concordar todos sempre, mas podemos fazer o possível para aceitar as discordâncias, e manter a discussão dentro dos limites do assunto: evidências e argumentos, nada mais.

    Agora, sobre o feminsimo, machismo, Lei Maria da Penha e afins.

    Vou começar com algo parecido, mas já mais aceito nos dias de hoje. Nos dias de hoje, porque em algum momento do passado, era encarado dessa forma como hoje se encara a questão feminina. Existem injustiças contra pessoas negras, assim como contra pessoas brancas. As mais diversas.

    Entretanto, injustiças cometidas “devido” a cor da pele, ocorrem mais vezes (muito mais) com pessoas negras que brancas. Por esse motivo, e apenas por esse, é mais razoável, e necessário, leis de proteção contra essas ocorrências contra negros que contra brancos.

    Por exemplo, é possível que uma pessoa branca seja despedida por ser branca. Talvez um empregador negro, ou um empregador branco, mas irracional nessa questão, impeça ou descarte um candidato a um cargo por ser branco. Eu imagino que isso possa acontecer de vez em quando. Mas a frequencia com que ocorre não justifica uma lei específica que diga “é proibido discriminar um candidato a emprego de cor branca, por ser branco”. Mas é claramente razoável existir uma lei que diga o mesmo sobre uma pessoa negra.

    Na verdade, luta-se para que, idealmente, nenhuma delas seja necessária, mas hoje ainda é, e no passado mais ainda. Foram leis que tiveram sua função, uma importante função a cumprir na melhora da sociedade. Uma lei que dissesse “é proibido impedir estudantes negros de frequentar as universidades” foi importante, muito importante. Sem exigir, por “paridade” ou “igualdade” que uma lei idêntica dissesse “é proibido impedir estudantes brancos de frequentar as universidades”.

    Agora, é perfeitamente possível que existam homens que apanham de suas esposas. Na verdade, existem muitos casos, que chegam a público de vez em quando. Mas é preciso notar que chegam a público justamente pelo inusitado. Milhares de mulheres apanham, milhares de casos de agressões são registrados, mas não aparecem na mídia milhares de notícias sobre isso. Por que é comum, habitual.

    Então, existir uma lei do tipo Maria da Penha é algo mais necessário que uma lei João de Souza, ou algo parecido. Mais justo. Mais justificável.

    Espaço para alguém resmungar “mas tem homem que apanha de mulher”..:-)

    Sim, tem. Mas não em um número que justifique uma lei especial para isso, como no caso das mulheres. Como no caso das leis anti racismo, o ideal será que um dia nenhuma dessas leis seja mais necessária, mas neste momento, são.

    Na verdade há uma função para uma lei que definisse como crime a esposa bater no marido: ridicularizar a lei que protege a mulher, transformar em piada o problema da agressão contra esposas, e tirar o foco do problema, real e triste, que afetam as mulheres.

    Uma “delegacia do homem” serviria apenas como piada, e a gozação tiraria o foco de um problema sério: delegacias, praticametne todas, já são “do homem”.

    Por favor, não estou sendo “machista do avesso”, nem tirando a importância do problema de um homem agredido, estou apenas tentando analisar de forma mais equilibrada e racional ambas as situações.