9º Seminário LGBT: Respeito à Diversidade se Aprende na Infância

Mesa de abertura do 9º Seminário LGBT na Câmara dos Deputados
Nesta terça-feira, dia 15 de maio de 2012, foi realizado o
9º Seminário LGBT, sob o tema “Respeito à Diversidade se Aprende na
Infância”.  O evento foi sediado pela
Câmara dos Deputados em Brasília. O seminário ocorre uma vez por ano. Este ano
durou o dia inteiro. O tema foi sexualidade na infância e na adolescência, os
papéis de gênero e o bullying. Foram ouvidos deputados, como Jean Wyllys,
especialistas das áreas de direito, psicologia e educação, com o objetivo de
retomar a discussão iniciada pela apresentação do projeto “Escola Sem
Homofobia”.
O evento foi organizado pelas Comissões de Direitos Humanos
e Minorias e Educação e Cultura, apoiado pela primeira vez por duas Frentes
Parlamentares Mistas: (1) pela Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
e Transexuais, (2) Direitos Humanos da Criança e do Adolescente. O evento foi
transmitido ao vivo pelo site da Câmara dos Deputados.
O requerimento do seminário foi feito pelo deputado Jean
Wyllys (Psol-RJ) e pela deputada Erika Kokay (PT-DF).
Participaram do evento grandes nomes na área do direito como
Maria Berenice Dias, presidente do Instituto Brasileiro de Direito da Família
(IBDFAM); Lena Franco, do Instituto Ecos – Comunicação e Sexualidade e
Coordenadora do Projeto Escola Sem Homofobia; e Miriam Abramovay – Coordenadora
do projeto Violência e convivência nas escolas brasileiras (parceria entre
FLACSO, MEC e OEI), além de representantes do governo e de organizações
internacionais como Unesco e Unicef.
Representantes da sociedade civil também estarão presentes,
especialmente mães de LGBT que sofreram bullying e ataques homofóbicos, como o
caso de Marlene Xavier, representante das Mães da Igualdade, que tem 4 filhos
LGBT, e Angélica Ivo, mãe do jovem Alexandre Ivo, torturado e morto aos 14 anos
por crime de homofobia em São Gonçalo (RJ). João W. Nery, primeiro transhomem
brasileiro e autor do livro “Viagem Solitária” apresentou sua experiência com
enfoque na questão do papel de gênero em seu processo de educação.
O Seminário contou com três eixos temáticos: “Subjetividade
e papéis de gênero (É possível falar em uma infância e adolescência gay?)”;
“Educação, sexualidade e gêneros (O que os papéis de gênero têm a ver com a
prática do bullying nas escolas?)”; e “Infância, adolescência e estado de direitos
(Como estender as redes de proteção da infância e da adolescência aos meninos e
meninas que fogem dos papéis de gênero?)”.
A LiHS, agindo de acordo com sua visão
de laicidade, vem à público apoiar as iniciativas do 9º Seminário LGBT,
realizado na Câmara Federal, especialmente no que diz respeito ao combate ao
bullying homofóbico nas escolas, assim como ao combate à violência contra os
indivíduos LGBT, desde sua infância. O respeito às diversidades, sejam estas
sexuais, raciais, culturais, regionais ou quaisquer outras que designem a
riqueza da experiência humana, é condição fundamental para a construção do
Estado laico e pluralista.
A escola, cujo caráter deve ser libertador, tem se mostrado
muitas vezes repressora, anulando as subjetividades em detrimento de uma
uniformização de cosmovisão e comportamento que não condiz com os ideais de
liberdade que a própria noção de Estado democrático de direito traz em seu
bojo. É preciso que educadores, administradores públicos, legisladores e os
próprios alunos e pais compreendam a relevância das sexualidades e das
subjetividades a elas associadas na emancipação pessoal do indivíduo em todas
as etapas de seu desenvolvimento. É preciso que haja liberdade e capacidade por
parte dos educadores de discutir desses temas – sob a égide da liberdade, da
felicidade e do respeito às subjetividades – sempre que a própria experiência
da comunidade escolar colocá-los em pauta.
O Estado, no uso de suas atribuições como viabilizador dos
meios de vida, deve criar redes de proteção que garantam os direitos básicos de
seus cidadãos. Daí, a legitimidade de ações que protejam as crianças e
adolescentes contra qualquer tipo de violação, dentre elas o bullying
homofóbico que afeta especificamente as crianças e os adolescentes LGBT.  E contra isso não cabe argumentação, seja oriunda
da burguesia conservadora – muitas vezes herdeira de uma visão coercitiva gestada
na ditadura militar – ou do fundamentalismo religioso, tanto de vertente
católica como protestante, especialmente dos evangélicos neopentecostais. O
Estado deve ser mantenedor e promotor do respeito à pluralidade, à diversidade,
objetivando uma sociedade pacífica, próspera e feliz. Quando isso acontece,
ganha a sociedade civil e ganha o próprio Estado, pois o que poderia ser mais
estabilizador para o próprio Estado do que uma sociedade que vive assim?
Sergio Viula
Presidente do Conselho LGBT da LiHS
(Com informações do portal da Câmara dos Deputados)

Mães pela Igualdade

Quando a dor se transforma em força

Mãe Beduína. Garrigues, 1917.
Maio se estabeleceu como o mês das mães. É verdade que boa
parte dessa celebração é motivada pelos interesses da indústria e do comércio,
mas é inegável que o amor que se estabelece entre mãe e filho desde a gestação
é forte, belo e mais forte que a morte. Infelizmente, há exceções. Todavia, a
esmagadora evidência demonstra que a relação mãe-filho comporta compreensão e
cumplicidade num nível que dificilmente encontra semelhante.
Por isso mesmo, a dor de uma mãe que vê o próprio filho
ferido é incomparável e torna-se insuportável quando essa mãe precisa enterra-lo.
Seria injusto, porém, não reconhecer que muitos pais sentem e demonstram a
mesma compreensão, cumplicidade e dor para com seus filhos ao longo da jornada
da vida. Isso não é uma exclusividade feminina, mas ganha contornos mais
visíveis nas mães do que nos pais talvez até por razões biológicas ou culturais,
ou uma combinação de ambas, como saber?
Esse ano, o dia das mães será dia 13 de maio, domingo
próximo. Por isso, a LiHS aproveita a oportunidade para vir à público e manifestar
seu apoio às mães que, tendo vivenciado a dor de ver um filho ferido ou morto
por homofobia, ainda estão não tiveram pelo menos o consolo de ver os
agressores ou assassinos de seus rebentos responder juridicamente por tais
atrocidades.
No Rio de Janeiro, Coordenadoria de Diversidade Sexual da
Prefeitura do Rio de Janeiro (www.cedsrio.com.br)
em parceria com a organização internacional AllOut (http://www.allout.org/pt/maespelaigualdade)
organizou uma emocionante exposição que esteve na Praça XV semana passada, e
que agora migra para outros pontos da cidade. Nela, fotos de mães com seus
filhos gays, lésbicas e transexuais emocionam quem passa. As fotos são
acompanhadas de comentários das mães sobre seus filhos. Existem quadros, porém,
nos quais as mães estão sozinhas. A tristeza no olhar dessas mulheres é
reveladora: ali está a dor da ausência. Seus filhos foram mortos por
homofóbicos; sua alegria foi estancada, suas vidas foram marcadas pela tristeza
que acompanha tamanha crueldade. A dor ganha novos contornos quando deputados e
senadores se omitem diante de tanta crueldade. Um parlamentar conhecido por demonstrar
atitudes racistas, machistas e homofóbicas. Em 2012, ele disse: “Prefiro ter um
filho morto em acidente do que um filho gay.”
Quando legisladores que deveriam promover a igualdade e
coibir a discriminação e agressão contra qualquer cidadão, inclusive o cidadão
LGBT, dizem esse tipo de absurdo ou agem motivados por preconceitos como esse
para adiar a aprovação de leis que protejam essa parcela vulnerável da
população, eles torturam as vítimas mais uma vez, sejam os próprios
homoafetivos ou seus parentes e amigos. As mães que encontraram os corpos
inertes de seus filhos, muita vezes, mutilados pelo ódio homofóbico de seus
agressores, são violentadas de novo. Aquelas que viram seus filhos hospitalizados
são novamente submetidas à dor. Os filhos que sobreviveram à violência dos
agressores revivem o terror vivido naqueles momentos que pareciam intermináveis,
agora com o agravante da injúria de quem deveria garantir seus direitos – o
Estado.
“Nós últimos meses, mães de todos os cantos do Brasil
começaram a unir suas forças para dar um recado claro contra a discriminação, a
violência e a homofobia crescentes, que estão saindo do controle no país. Elas
se recusam a aceitar insultos e injúrias contra seus filhos. Elas são as ‘Mães
pela Igualdade’.” – informa a AllOut que promove com a prefeitura do Rio essa
emocionante exposição que será apresentada na Praça Antero de Quental (Leblon),
de 09 a 15 de maio, depois Praça Saen Peña (Tijuca), de 16 a 22 de maio, e
finalmente Vigário Geral de 23 a 29 de maio.
É fato que sendo no Rio de Janeiro a campanha terá
visibilidade, porém, muitos brasileiros que moram em outras cidades não terão a
oportunidade de ver a exposição.Há, porém, um modo de participar desse
importante movimento. A AllOut está promovendo uma petição que você pode
assinar de qualquer lugar do Brasil e do mundo. A petição está online.  Apoie essa iniciativa que mitigará um pouco da
dor dessas mães e poderá fazer nossas autoridades agirem contra essa onda de violência
que já vitimou gente demais. Nossos legisladores precisam mandar um recado para
toda a sociedade por meio de legislação que coíba crimes como esses.
Veja as fotos das mães e seus filhos,
suas declarações e assine a petição aqui: http://www.allout.org/pt/maespelaigualdade
Sergio Viula
Presidente do Conselho LGBT da LiHS

Carta Capital fala sobre a polêmica envolvendo Malafaia e Avon

Sociedade

Beatriz Mendes

Beatriz Mendes

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/avon-silas-malafaia-e-a-propagacao-da-homofobia/

Preconceito

07.05.2012 13:02

Avon, Silas Malafaia e a propagação da homofobia

Silas Malafaia é um velho conhecido da comunidade gay no Brasil. O pastor, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, costuma protagonizar polêmicas a envolver intolerância e preconceito. Em 2006, foi ele o responsável por uma manifestação diante do Congresso Nacional contra a lei criminalizadora da homofobia. Na ocasião o pastor afirmou que relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo são a porta de entrada para a pedofilia. “Deveriam descer o porrete nesses homossexuais”, decretou, certa vez, em seu programa de tevê – em rede nacional, diga-se, valendo-se de seu direito de liberdade de expressão.

O All Out, site que divulga abaixo-assinados do mundo todo, divulgou a causa de Sérgio Viúla e definiu Malafaia como ‘extremista anti-gay’

Por estes e outros motivos, foi uma surpresa para o professor de inglês Sérgio Viula, de 42 anos, e seu namorado, Emanuel Façanha da Silva, quando em meio a promoções de maquiagens, perfumes e bijuterias, depararam-se com livros de Malafaia no catálogo da Avon. “Não são somente obras devocionais ou de leitura budista, católica ou uma novena. Os livros dele são de militância fundamentalista aberta, assim como seus programas de televisão”, diz Viúla a CartaCapital.

O professor conta que a gota d’água foi a inclusão do livro A Estratégia entre os títulos comercializados pela Editora Central Gospel – cujo dono é Silas Malafaia. A obra, escrita pelo pastor americano Louis Sheldon, levanta a teoria de que os homossexuais estão fazendo um complô contra a humanidade.

Diante da situação, Viula – que não faz parte de nenhuma organização LGBT – resolveu se manifestar. Seu argumento se baseou em um tratado de direitos humanos emitido no ano passado pela Avon, comprometendo-se a não contribuir com qualquer tipo de prática discriminatória. “Escrevi uma carta para a empresa brasileira, falando sobre a minha indignação. Como eles não se manifestaram de imediato, resolvi traduzir a mensagem e encaminhá-la para a Avon dos Estados Unidos”, conta.

Pouco tempo depois, a empresa brasileira escreveu um comunicado em sua página do Facebook, alegando que a “variedade de títulos comercializados contempla a diversidade de estilos de vida, religião e filosofia presentes em nosso País”. Complementou falando não ter a intenção de promover conteúdo desrespeitoso aos direitos humanos.

“A carta contribuiu para eles entrarem em contato comigo, mas o fator determinante foi o fato de o Emanuel ter resolvido parar de trabalhar com a Avon”, acredita o professor. Segundo ele, o parceiro era o que a empresa chama de “Consultor Estrela”, pois vendia produtos em grande quantidade. Quando se deu conta de que os livros de Malafaia estavam no catálogo, abriu mão do cargo. “A gente nunca tinha reparado nos títulos porque ele trabalhava mais com o setor de cosméticos. Mas quando saiu da Avon, representantes da marca o procuraram no escritório, pedindo para ele voltar”.

Nesse meio tempo, as pessoas começaram a se solidarizar com a causa. Representantes de grupos LGBT também entraram em contato com a Avon. Duas mulheres redigiram uma petição em inglês, divulgada no All Out, site que publica abaixo-assinados do mundo todo. “No texto, eles explicaram quem é Silas Malafaia e quais são as ideias propagadas por ele. O negócio está bombando, a Avon vai ter que tomar uma atitude”, enfatiza o militante.

“Muitas pessoas também me perguntaram se valia a pena lutar por essa questão. Eu acho que sim porque se fosse o livro do Hitler, os judeus protestariam, se fosse um livro que negasse a existência da escravidão, os negros ficariam indignados. Por que os gays não podem se manifestar também?”, questiona.

Outro lado


CartaCapital pediu entrevistas à direção da Avon, mas a empresa informou que seu posicionamento oficial é aquele já divulgado por meio do comunicado. “Estamos avaliando as ponderações recebidas e buscando a melhor solução para seguir atendendo nossos consumidores com base em nossos valores”.

Silas Malafaia, por sua vez, tratou a questão com desdém. Em nota divulgada em sua página, o pastor ironizou a movimentação dos ativistas. “Esses gays estão dando um ‘tiro no pé’, estão me promovendo com uma tamanha grandeza que nunca pensei de ser tão citado e até defendido por jornalistas como, por exemplo, Reinaldo Azevedo’, escreveu.

Ele afirmou ainda que essas ações dão a ele elementos para lutar contra o Projeto de Lei 122 – aquele que criminaliza a homofobia. “Se antes de ter leis que dão a eles privilégios, já se acham no direito de perseguir e intimidar os que são contra seus ideais, imaginem se a lei for aprovada”, disse.

Também incentivou os fiéis a mandarem emails para a empresa, pedindo para os livros continuarem no catálogo. “Nós, evangélicos, representamos pelo menos 30% das vendas de produtos Avon. Os gays talvez 2%. Eles são tão abusados que pensam que com ameaças vão nos calar”, concluiu.

Diante do comunicado, Viula afirmou: “Malafaia é um extremista. Inclusive, outros pastores não concordam com as atitudes dele. Dá para ser cristão sem ser homofóbico, agora eu não sei como é possível ser homofóbico e cristão. Essas são contradições que podem matar pessoas”.

O professor fala com autoridade: ele já trabalhou como pastor da Igreja Batista e ajudou, na época, a fundar o Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses), ONG prestadora de serviços de “assistência” a homossexuais que gostariam de mudar sua orientação sexual. “Depois de um tempo no Moses eu percebi que aquilo era uma falácia, uma hipocrisia. As pessoas sofriam e viviam uma vida dupla, é impossível deixar de ser gay”, contou.