Estatuto da Juventude – PCdoB constroi acordo inédito entre a bancada evangélica e a bancada LGBT no Congresso

Manuela d´Ávila: Qual Juventude? Que Juventude?

É comum lermos formulações sobre os gargalos do desenvolvimento do Brasil. Não há estudo ou matéria jornalística que não elenque o tema da formação educacional e qualificação profissional dos jovens como problema a ser enfrentado para o Brasil crescer de maneira sustentável. Mas, concretamente, que projeto temos para a juventude brasileira e o que a juventude quer para si?

Por Manuela d´Ávila*

Abaixo discorro sobre polêmicas envolvendo o recém aprovado Estatuto da Juventude. Fiquei surpresa com o impacto de sua aprovação na mídia. Mais ainda com o ataque a essa legislação que trata de enfrentar problemas tantas vezes denunciados pela própria mídia. Vou às questões.

– De onde surgiu esse relatório?
O projeto aprovado tramita a sete anos na Câmara. Foi objeto de duas comissões especiais. Ambas foram presididas pelo deputado Tucano Lobbe Neto e relatas pelo deputado Reginaldo Lopes e depois por mim. Esse relatório foi construído por mais de vinte deputados e contou com a maior participação popular da história (com base no portal edemocracia). Depois disso, o Plenário da câmara aprovou por unanimidade. Ou seja, todos os deputados concordaram. Não existe o relatório da Manuela. Ele é da Câmara.

– Jovem até os 29?!?
Segundo a ONU são jovens aqueles com até 29 anos de idade. Como e por quê? Juventude é fase construída socialmente. E a principal característica é ser a etapa de preparação para a vida que levaremos por todo o período em que seremos adultos. Por isso, o recém aprovado Estatuto da juventude trabalha com três momentos: jovens adolescentes, jovens e jovens adultos. Não são todos iguais. Mas são etapas complementares preparatórias para a vida adulta. Esse é o reconhecimento por parte do Estado de que existe sim uma fase preparatória, que essa fase é distinta. Como é distinta a vida adulta ou a terceira idade.

– Quais direitos?
O Estatuto conta com mais de 40 artigos. Uma parte de direitos e outra de consolidação do sistema nacional de juventude (deixando de ser vontade de governos e passando a ser de Estado).

A primeira parte chamou atenção pela meia entrada. As demais foram solenemente ignoradas pela mídia. 

Vejam só: 


A meia entrada tomou essa proporção em função das negociações com a FIFA. Mas seria correto o congresso parar de fazer leis em função de 40 dias de evento? Não. Além disso, a parte é genérica, deixando claro que precisaremos regulamentar. Um debate inicial! Terá subsidio? Eu defendo que sim. Como será executado? Temos que discutir. Mas não é brincadeira. Basta dizer que a meia entrada pode voltar que os ataques são cruéis. Como de fosse um CRIME garantir a educação integral para a juventude. Mas não é dessa juventude que cobramos qualificação, formação, nível intelectual? Acaso sabemos que a maior parte não freqüenta estabelecimentos culturais por falta de dinheiro? Acho super justa a preocupação com elevação de preços para os demais. Por isso defendo subsidio. Mas não seria legal os jornalistas terem me perguntado? 

A segunda polêmica girou em torno da meia passagem. Acaso não sabem que grande parte da evasão escolar é por causa do transporte? Acaso não sabem que a lei não garantia transporte para ensino médio e superior? Acaso não sabem que a medida que garantimos vagas em escolas técnicas e ensino superior (com ProUni, por exemplo) aumenta a problema desses jovens com transporte público? Acaso leram o texto? Não me parece.

Enquanto isso A aprovação do Estatuto, além do que representa para a juventude do País, representa um grande avanço e mostra a superação de um antigo entrave. 

Falo do acordo inédito que construímos entre a bancada evangélica e a bancada que defende os direitos da comunidade LGBT no Congresso. 

A aprovação do texto – elaborado com todas as bancadas e aprovado com consenso – permitiu que, pela primeira vez na história da Câmara, viabilizássemos um acordo entre as duas bancadas.

O concerto que conquistamos – com muito diálogo, interlocução, que representa e respeita o que defendem os dois grupos – vira uma página da nossa história. O resultado: superamos antigas barreiras e mantivemos no texto o combate ao preconceito e a inclusão da educação sexual nas escolas. Ou seja, garantimos constitucionalmente – também pela primeira vez – direitos para a comunidade LGBT.

Evangélicos e comunidade LGBT chegaram a um entendimento que nos conduz a um novo patamar em função de um objetivo maior e comum a todos: reconhecer a importância do Estado garantir direitos e políticas públicas para os jovens brasileiros.

Quem viu isso? Quem deu essa notícia? Não li.

Por isso gente, peço atenção ao que lêem. Enfrentar interesses poderosos não é fácil. 
E, estranhamente, quando surge uma legislação que não trata aos jovens como bandidos ou marginais muitos caem em cima. Pensem. Porque será?

Que juventude querem? Eu quero aquela livre!

*Manuela D’ Avila é deputada federal pelo PCdoB-RS e relatora do Estatuto de Juventude

Muçulmanos LGBT organizam conferência na Europa

Do blog http://www.foradoarmario.net

Muçulmanos LGBT organizam conferência na Europa

Fonte: LGBT Asylum News

Tradução Sergio Viula – para o Blog Fora do Armário 

CALEM, a Confedereção de Associações Europeias e Muçulmanas LGBTQI, está organizando um conferência em dezembro em Bruxelas, “para capacitar muçulmanos inclusivos, e particularmente aquele que sejam indivíduos LGBTQIA, a expressarem sua sexualidade em paz, enquanto defendem seus direitos cívicos e dignidade humana através de ideias e diálogo. “

A conferência também pretende “contribuir ativamente para uma representação reformada e genuinamente inclusiva do Islã e um diálogo positivo e construtivo sobre o Islã, dentro do mundo muçulmano”.

A CALEM reúne quatro organizações muçulmanas LGBT: da Bélgica, da África do Sul, da França, do Sudão e do Egito.

Oradores na conferência incluem Amina Wadud, uma professora universitária “lutando por um feminismo islâmico”, o erudito islâmico Muhsin Hendricks, que é um ativista dos direitos humanos focando sobre gênero e diversidade sexual no Islã, Ludovic Lotfi Mohamed Zahed, fundador do coletivo muçulmano LGBT francês HM2F, e Abdennur Prado, Presidente doCatalan ligue for Islamic reform

A conferência será frequentada pelas organizações irmãs do CALEM da Europa, do mundo árabe, da Ásia e da África. 

A CALEM diz que a rede deles é ” uma vanguarda de reflexão sobre o Islã e a diversidade sexual e de gênero.” No começo de 2011 eles estavam envolvidos em criar uma Rede Internacional de Muçulmanos Inclusivos (INIMuslim).

INIMuslim (“Eu sou muçulmano” em Árabe) é uma iniciativa colaborativa de organizações e associais oficiais em nível mundial, e especialistas seletos, trabalhando internacionalmente pela inclusão de muçulmanos marginalizados por causa de sua orientação sexual ou de gênero, advogando contra a homofobia e a islamofobia, para defender os direitos humanos. 

A conferência incluirá muita discussão, mas também incluirá “uma celebração de casamento religioso muçulmanos, graças aos nossos imãs inclusivos.”

Retrocesso: Para Corte da UE, destruir embriões para obter células-tronco fere dignidade humana

Corte Europeia de Justiça considera que células-tronco embrionárias humanas e métodos para sua produção não podem ser patenteados na União Europeia. Juízes alegam que decisão segue lei europeia, que protege vida humana.

 

 

A Corte Europeia de Justiça proibiu nesta terça-feira (18/10) o patenteamento de procedimentos com células-tronco que impliquem a destruição de embriões humanos. Segundo cientistas, isso representa um revés “devastador” para um campo emergente da pesquisa médica.

O caso chegou à Corte após recurso apresentado pelo pesquisador alemão Oliver Brüstle à Justiça alemã, que repassou a questão à Corte Europeia. Brüstle havia assegurado 1999, por 20 anos, junto à Agência Alemã de Patentes, os direitos sobre a produção de células precursoras neurais (que geram neurônios) e sobre a técnica para esta produção, a partir de embriões humanos.

A patente foi cancelada pela Agência, alegando “questões éticas”, após o Greenpeace ter criticado que genes humanos, órgãos e células obtidas a partir de embriões humanos não podem ser “degradados a mercadoria”.

O julgamento tratou de células-tronco no estágio blastocisto, uma das fases logo após a fecundação, quando o embrião consiste em cerca de 80 ou 100 células. “Um processo que envolve a remoção de uma célula-tronco de um embrião humano  no estágio blastocisto, ocasionando sua destruição, não pode ser patenteada”, definiu a Corte, ressaltando que a decisão segue na linha da lei europeia vigente, que protege a vida humana.

Brüstle: decisão 'é um inacreditável passo para trás'Brüstle: Decisão ‘é um inacreditável passo para trás’Proteção de embriões humanos

Brüstle e outros cientistas criticaram a decisão, vista como problemática para o desenvolvimento das pesquisas de células-tronco na Europa, voltadas para o tratamento de uma série de doenças.

“Isso quer dizer que pesquisas fundamentais podem ser feitas na Europa, mas o desenvolvimento que se segue não pode ser implementado aqui. O que significa que os pesquisadores europeus podem preparar as coisas, mas outros vão colher os frutos nos Estados Unidos e na Ásia. Isso é muito lamentável”, disse Brüstle após o veredicto.

“Queremos uma decisão fundamental sobre como a proteção de embriões humanos será tratada na legislação europeia de patentes”, afirmou Christoph Then, do Greenpeace, em Luxemburgo. “A Corte afirmou que a ética tem prioridade sobre interesses comerciais”.

Células-tronco já são usadas em tratamentos médicosCélulas-tronco já são usadas em tratamentos médicosTema controverso

O uso de células-tronco embrionárias na medicina é objeto de intensos debates em todo o mundo há anos. Críticos argumentam que ele é errado por envolver a destruição de embriões não usados em tratamentos de fertilização e que são doados para pesquisa. Já os pesquisadores veem nos embriões o potencial para o desenvolvimento de células e tecidos.

Em 2008, o Supremo Tribunal de Justiça do Brasil aprovou, por seis votos a cinco, o uso das células-tronco embrionárias em pesquisas, sem restrições.

Inúmeras companhias de biotecnologia da Europa e dos EUA estão introduzindo o uso de células-tronco em tratamentos. Grandes companhias farmacêuticas – incluindo a gigante norte-americana Pfizer, a anglo-sueca AstraZeneca, a suíça Roche e a francesa Cellectis – também conduzem pesquisas na área.

Já estão sendo realizados inclusive os primeiros testes no tratamento de danos na coluna vertebral e em alguns tipos de cegueira. As células-tronco também podem ser usadas no tratamento de acidentes vasculares cerebrais, mal de Parkinson, problemas cardíacos e diabetes.

Segundo Brüstle, as pesquisas europeias nesta área estão sendo realizadas principalmente no Reino Unido, na Suécia e na Alemanha. Ele afirma que o veredicto desta terça-feira poderá atrapalhar as pesquisas, ao trazer incertezas sobre uma posterior patente. “Muitos anos de intenso trabalho estão sendo destruídos. É um inacreditável passo para trás nas pesquisas com células-tronco”, reclamou.

MSB/rte/dapd/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer

 

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15469697,00.html

Engenho da Morte_ 6ª parte do 1º capítulo do nosso Livro Online: Tudo é desacato?

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                                                            Tudo é desacato?

         
      Pedro, caminhando para a sala do delegado, pensando “finalmente fui chamado”. Na sala do delegado havia uma mesa velha de madeira, paredes sem janelas, armários e estantes caindo aos pedaços. Pedro bate na porta e de dentro o delegado gritou que podia entrar. Ao entrar, antes de encostar a porta, fechando-a, ouviu:
_ Está cego? Não viu a placa na porta dizendo que é para entrar sem bater? – Pedro, parado perto da porta permaneceu calado. O delegado logo interrompeu o silêncio dizendo:
_Vamos rapaz, não tenho tempo do mundo, não! Sente-se logo!
Dirigindo-se a cadeira, sentou-se. Não gastava muito de policiais, pois por motivos banais, ou mesmo sem motivos fora agredido em atos políticos que, muitas das vezes, beneficiaria as próprias famílias dos policiais se tais reivindicações fossem atendidas. Ficava irritado por que não entendia o porquê de obedecerem cegamente ordens de seus superiores, haja vista que iam contra seus próprios interesses. Lembrou-se de Liev Tolstói quando o mesmo diz em seu livro “O Reino de Deus está em vós” que na Rússia do Séc. XIX, um militar apenas estaria preparado para exercer seu ofício com arma em punho, quando respondesse a seu superior, quando indagado, que se preciso fosse atiraria na própria mãe, pai ou irmãos. Pedro não suportava violência, nem mesmo se fosse para defender-se.
O delegado, sentado, com um bolo de papéis nas mãos, batia-os delicadamente sobre a mesa para alinhá-los e guardá-los. De dentro da gaveta tirou um clips, prendeu os papéis, ensacou-os em um utensílio de plástico apropriado e os enfiou na gaveta. O cigarro estava no canto da boca como se dali fizesse parte. Colocando os cotovelos sobre a mesa, tragando a fumaça em seus pulmões e expulsando-a de si, infestando a sala, pôs-se a indagar:
_ E aí, rapaz? Pedro seu nome, não é? – Pedro consentiu.
0 me diz: o que você fazia hoje de manhã, na hora do assassinato? – diz como que seguindo um protocolo, demonstrando não estar interessado na morte dos cinco meninos.
_ Quando ouvi os tiros, eu estava em minha varanda lendo.
O delegado continua:
_ Sim, mas viu alguma movimentação? Carros, motos fora da normalidade no que diz respeito a velocidade? Alguém correndo? Nada suspeito para você, meu caro? – O delegado enquanto perguntava, movimentava alguns de seus carros e motos de coleção que ficavam em cima da mesa como enfeites. O que fez com que Pedro se segurasse para não soltar risos.
Pedro com cenho levantado, começou a responder lentamente em um tom irônico também mexendo as mãos na mesa simulando localizações:
_ Sr. Delegado, no fim daquela rua existe uma favela, certo? Passar gente de moto ou com carro em disparada naquela rua, é rotineiro!
_ Tudo bem, tudo bem! – diz o delegado – O Senhor, meu rapaz, Pedro… como quiser: conhecia bem os meninos?
_ Conhecia-os desde bebês, mas não coloco minha mão no fogo por ninguém. Andei trabalhando demasiadamente nos últimos seis meses. Tive muitas palestras e debates, muitos eventos em que eu tinha me comprometido a cumprir. Eventos esses que me dão mais que o dobro do salário que recebo como servidor do Município e do Estado. Fora o tempo que gastei me empenhando no meu mestrado. Portanto, seu delegado, eu ficava sabendo pouco desses meninos. Os via final de semana indo jogar futebol, e às vezes meio de semana indo para a escola._ disse esforçando-se para lembrar-se de algo que pudesse colaborar.
O delegado levantando-se deu a volta sobre a mesa e, na parte da frente, sentando-se sobre a mesma, pôs-se a perguntar olhando com seriedade para Pedro:
_ Seu Pedro, o senhor está se esquivando de tocar no assunto principal?
Pedro assustado e estranhando responde:
_ Que principal? Sobre a morte deles? Estou falando tudo que sei, isto é, que nada sei!- disse em tom irônico, relaxando o corpo sobre a cadeira.
O delegado levantou nervoso, socou a mesa e perguntou:
_Você está de deboche? Quer que eu lhe prenda por desacato? Esta fingindo que não sabe o que esses cinco anjinhos faziam?- pronunciou a palavra anjinho fazendo um sinal de aspas com os dedos.
_ Já conheço esse papo. Tudo é desacato a autoridade, tudo! E o senhor, delegado, está blefando para tentar me arrancar algo. Ah, meu Deus, para vocês qualquer confissão basta, mesmo que seja mentirosa. Assim encerra-se o caso e você fica aí brincando de carrinho! Olha só, o negócio é que realmente o que eu sei, é que nada sei!- Pedro disse tais coisas, sentado ainda mais relaxado, procurando não se assustar nem se aborrecer com o delegado, com os olhos como se estivesse com sono, mas não estava. Fazia isso para mostrar que sabia o roteiro de cor do delegado.
Voltando para trás de sua mesa disse gesticulando:
_ Ô rapaz, você não tem medo de ser preso, não? Aliás- disse o delegado espremendo os olhos e colocando a mão no queixo- O senhor- deu uma pausa para causar suspense, tendo como intenção a de deixar o depoente nervoso – o senhor tem passagem pela polícia?
Mantendo a tranqüilidade, respondeu Pedro:
_ Bom, sobre o medo de ser preso eu respondo o seguinte: de cadeia injusta, de ser preso sem motivo eu não tenho medo não! Amanhã estaria aqui uma centena de partidários do partido que sou membro e de vinculados e aliados, além de muito universitários e membros dos mais distintos movimentos sociais! Já sobre passagem pela polícia?  Sim, sim…. Tenho inúmeras!
_ E o senhor tem a audácia de tranquilamente me dizer…
_ Delegado, seja cavalheiro e de me deixa continuar. Sim tive passagens! Mas adivinhe pelo quê? Desacato a autoridade!- disse pausadamente a palavra “autoridade”- Imagina só, seu delegado, que um dia, em uma reintegração de posse, num prédio de quinta categoria, caindo aos pedaços, eu estava negociando com os moradores de rua, catadores. Negociando com pessoas que tiveram suas casas tombadas por ordem do Estado e outras que perderam suas casas por estarem localizadas em área de risco- disse exaltando a voz, agora Pedro torna a dizer, gesticulando com as duas mãos em movimentos simétricos- enfim, imagine que eu fui preso com a alegação de desacato  autoridade  por entregar uma sacola de pães para dezenas de crianças que estavam lá dentro do prédio? Já não têm onde morar e ainda não podiam comer?
Agora com uma voz mais mansa, recostando-se na cadeira, Pedro volta a falar:
_ Sabe delegado, às vezes me dá a impressão de que o Estado abandona tais pessoas de propósito. E isso para que quando essas pessoas em estado deplorável, morando na rua, tendo sua humanidade roubada pela violência e o repudio que sofrem nas ruas- uma lágrima corre no rosto de Pedro- suas almas execradas pela miséria causada pelos governantes e grandes empresários, pela fome, etc. tendo tudo isso como causa eles cometem crimes pelo ódio que lhes foi implantado. Fazem pequenos furtos, roubam leite, manteiga, coisas para comer. Qual seria a intenção com isso tudo, me perguntaria alguém. Simples, ao invés de combater criminosos armados, ao invés de prender políticos sujos, traficantes, prendem na frente da população os mendigos! Quanta glória não é? Heróis vocês, não? No Complexo do Alemão ano passado, com tudo aquilo de armamento, tanques, helicópteros, os bandidos fugiram. Bandido de verdade não prende! Mais de 400 fugiram, mais de…
O delegado esteve se segurando durante toda a argumentação de Pedro, viu que Pedro não era um professor qualquer. Percebeu que Pedro ligava tudo que aprendeu na faculdade intrinsecamente a realidade em que vivia.
O delegado o interrompeu com um soco na mesa, gritando e apontando o dedo ferozmente:
_ Não se faça de desentendido. Aqueles meninos eram seus vizinhos, você não sabia que eles roubavam, que entregavam droga, que chegaram, pelo que sei poder denúncias, a andar armados e até mesmo matar?_ o delegado recuperou o fôlego, recobrou o raciocínio. Virou-se ficando de costas para Pedro tragando lentamente seu cigarro. Colocou as mãos para trás, segurando o punho, na direção de seu cinto. Ainda de costas começou a dizer:
_ Pedro…
_ Diga. – disse com as pernas cruzadas e com cotovelos na mesa apoiando o queixo nas mãos.
Continua o delegado:
_ Você é professor, correto? _ Pedro consentiu- E… Você já deu aula para algum deles? Já foi professor de algum desses delinquentes?
_ Sim, por um ano. Foi para a turma do Lekin. – revelou Pedro tentando se antecipar em pensamento na tentativa de descobrir qual seria a intenção do delegado, aliás, Pedro havia feitos deboches sérios que feriam a dignidade do Estado e da corporação militar a que o delegado pertencia. Pedro percebeu que o delegado havia mudado a abordagem na interrogação.
Agora o delegado retomando com empolgação a interrogação com ar de superioridade e um sorriso como quem tivesse matado a charada, diz:
– É verdade que senhor patrocinou o trabalho infantil desses garotos e isto, fez com que estivessem mais presentes nas ruas? Cadê seu discursinho professor, sobre abandonados pelo Estado de propósito?- indagou sarcasticamente o delegado e sorrindo ao final.
_ Não senhor delegado!- Pedro dizia cansado e com leveza- O senhor formulou de maneira incorreta seus pensamentos, sua indagação. Eu não patrocinei o trabalho infantil. Em momento de dificuldade que a família de Lekin passava, após a morte do pai, eu peguei um jantar para a família, pois estavam em frangalhos, maltrapilhos e por fim, dei dinheiro para a família. A mãe, cismou que era uma conversa de que era honrada e de que tinha que me pagar, nem que fosse com a própria vida….
O delegado disse:
_ Sim e aí? O que tem a ver os cinco garotos no sinal vendendo coisas?
Pedro continua: _ Se o senhor, delegado, mais uma vez não me interromper eu continuo. – O dele ao ouvir isto fechou a cara.
_ Continuando… Pois bem, eu insisti de modo até meio grosseiro de que não precisavam pagar, mas dias depois me deparei com os meninos no sinal, ao passar de carro, ao que o menino, Lekin, carinhosamente me agradeceu como seu eu lhe tivesse salvado a vida. Os outros meninos o estavam ajudando, inclusive seu irmão mais novo. Agora entendeu?
O telefone, que faltava com algumas teclas, tendo atravessado um esparadrapo para evitar que abra ao meio, tocou.
_ Secretário de segurança? Manda ele ir sabe onde? A merda! Que eu estou tirando o meu da reta!_ disse baixinho, cochichando.
Bom, então Pedro… – o delegado colocou a mão no queixo acariciando-o- você deu aula ao chefe de uma quadrilha de menores, o senhor revê relações próximas com a família ao ponto de jantar e dar dinheiro. Estamos a procura de quem esteja por trás do tal “Bonde do Ponto”, para que nos aproximemos do autor da morte e com isso, venhamos a cumprir nossa missão: descobrir os motivos e prender o culpado!- disse de exaltando na ultima frase. Completou: _ Espero Pedro, que este não seja você. Professor, palestrante, sociólogo, defensor dos direitos humanos. – dizia o delegado dando ênfase as sílabas tônicas das palavras destacando-as pronunciando-as mais alto. Tudo isso de forma debochada.
Pedro por dentro estremecia, gelou. Alguns podem pensar que a toa. Ele sabia da capacidade e eficiência da polícia carioca de jogar falsas provas e incriminar falsos culpados. O delegado agora se sentia por cima, usava do medo para dominar os interrogados, para deixá-los tensos, fazendo com que confessem o que tenham feito e até mesmo o que não tinham feito. Com isso, conseguia fazer com que alguns incautos assumissem a culpa.
_ Professor, agora me diz, eu sei que você mora lá, perto da comunidade. Eu sei que é complicado, mas precisa me dizer: você é o culpado? Tem alguma colaboração com este assassinato? Não ficou frustrado por talvez suas propostas, soluções, teoriazinhas e teses de sociologia não funcionarem e, perdendo a cabeça eliminou os delinqüentes? Ou, não sabendo onde havia se metido, para proteger sua família os eliminou, quem sabe, mandando que alguém os executasse?
Secamente e sem importar-se com os deboches, respondeu Pedro:
_ Não, não foi eu!
Delegado: _ Ou então viu algo de estranho ou alguém? Sabe de algo que fosse colaborar? Tudo estará sob o mais guardado sigilo policial!
Pedro já cansava de ouvir estes clichês policiais, mas sentiu-se ameaçado e resolveu contar algo:
_ Sim… Sim, eu vi sim! Eu vi o Edmar, conhecido como Caveira, correndo com a camisa e as mãos ensangüentadas pela rua. – Pedro sentia-se confuso e com raiva pelo fato de estar contando. Não confiava no tal “sigilo policial”.
O delegado volta a perguntar, induzindo, só que agora mais empolgado:
_ Pode contar professor, o senhor sabe que ele é o culpado, não sabe? Eu vejo em você a vontade de me contar, vejo pelos seus olhos como está contrito por dentro, usando de aparência de que está tranqüilo… Desembucha professor! Me dê dados dessa pessoa.
Pedro percebia, irritado, as induções psicológicas do delegado. Respondeu:
_Como, delegado, posso te dizer o que se passa, mas sem dizer? Entende?
_ Merda- o delegado socou a mesa com tamanha fúria que até afundou um pedaço da madeira. Levantando-se tornou a falar- Você vai voltar co suas frases idiotas?- dizia o delegado encarnando ódio.
_Olha só, meu tempo acabou. Ao sair marque no balcão à direita o dia para depor novamente! Estou de olho em você professor! De olho em você!
Pedro no carro, agora batia no volante, lacrimejando por ter contado aquilo. Querendo se livrar de uma provável enrascada, poderia agora, após este relato meter-se em outra enrascada. Virou a chave e partiu, não sabia para onde iria ainda, queria espairecer. Tinha perdido o jogo naquele. Ah, mas não ia ceder um centímetro sequer a mais em seus depoimentos, também não iria sentir-se mais pressionado com jogadas de prováveis policiais preguiçosos que tentam manipular depoentes, para acabar rápido uma investigação.
Lucas Gonzaga