LiHS participa do IDAHO (Dia Internacional Contra a Homofobia)

Por que existe um
Dia Internacional Contra a Homofobia e Transfobia
(IDAHO)?


Em quase 80 países do mundo, pessoas que amam pessoas do mesmo sexo ainda são consideradas como criminosas, inclusive sob o risco de prisão. Em nove países, pessoas homoafetivas ou transgênero podem até receber pena de morte.

Assim como as discriminações legais, a homofobia e a transfobia sociais negam o direito básico à dignidade a milhões de pessoas ao redor do globo diariamente.

O Dia Internacional Contra a Homofobia (IDAHO) foi criado em 2004 para chamar a atenção dos formadores de políticas, formadores de opinião, movimentos sociais, do público em geral e da mídia para esse tema.

Não se trata de uma campanha centralizada, mas de um momento em que todos podem realizar ações concretas de modo sincronizado.

17 de maio foi escolhido para comemorar a decisão da Organização Mundial de Saúde que, nesse mesmo dia no ano de 1990, retirou a homossexualidade da classificação de desordens mentais.

O Dia Internacional contra a Homofobia é celebrado agora em mais de 100 países, sendo o Brasil o campeão de ações esse ano. Fato reconhecido pelos próprios promotores internacionais do movimento.

Isso, porém, não se deve ao apoio direto de nossas autoridades, com algumas felizes exceções. Nossos governantes e legisladores ainda estão perdendo para outros chefes de Estado.

Enquanto isso, líderes políticos internacionais têm participado e até promovido ações para celebrar esse dia, como foi o caso da Rainha Máxima da Holanda, que participou da conferência de abertura do IDAHO ontem (16 de maio), e como é o caso das embaixadas da Holanda, da Suécia, da Bélgica e do Reino Unido, que hastearão a bandeira do arco-íris em frente às suas sedes em Brasília nesta sexta-feira, 17 de maio.

Além disso, o Parlamento Europeu e agências das Nações Unidas celebram o IDAHO com eventos especiais.

Hoje a revista online holandesa DNP (só para assinantes) publicou uma citação do presidente do Conselho LGBT da LiHS, em comemoração ao Dia Internacional de Combate à Homofobia: http://www.denieuwepers.com/nederland-steekt-braziliaanse-homos-en-lesbiennes-hart-onder-de-riem/

Eles perguntaram o que achava do hasteamento da bandeira do arco-íris em frente à Embaixada da Holanda em Brasília. A resposta foi:

“Essa iniciativa é maravilhosa. O Brasil precisa se espelhar em países pioneiros na igualdade de direitos da sexodiversidade. A Holanda tem sido um exemplo desde que aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nenhum país até então havia feito isso. Foi um marco histórico e o início de uma mudança de paradigma no direito. Fico feliz em saber que a nação holandesa não apenas inclui, mas celebra a sexodiversidade. Queremos ver o dia em nossa presidente e nossos congressistas trabalharão pela inclusão tanto quanto nosso Judiciário. Parabéns a Holanda pelo vanguardismo. Hoje mesmo colocarei esse post no blog Fora do Armário.”

O momento mais alto dessa semana em termos de representação da LiHS foi a participação de nossa vice-presidente Åsa Dahlström Heuser nos eventos que precederam a IV Marcha Nacional Contra a Homofobia em Brasília, assim como da própria marcha. Alinhada com as melhores práticas humanistas internacionais, a LiHS entende que os direitos LGBT são Direitos Humanos, e insta à sociedade e ao governo a defenderem ativamente a dignidade das pessoas homoafetivas e transgênero, especialmente diante do crescimento dos ataques homofóbicos nos últimos anos no Brasil.

Por Sergio Viula

Presidente do Conselho LGBT da LiHS

Com informações do IDAHO official site.

Câmara dos Deputados dá mais um sinal de anacronismo político e social

Câmara dos Deputados dá mais um sinal de anacronismo
político e social

Pr. Marco Feliciano, deputado que vai presidir a comissão de Direitos Humanos da Câmara

Nesta terça-feira (05/03/13), o deputado Marco Feliciano
(PSC-SP) foi indicado pelo seu partido para presidir a comissão de
Direitos Humanos da Câmara durante o biênio 2013-2015. O deputado é pastor da igreja
Assembleia de Deus há nove anos e é conhecido por declarações que estimulam o
preconceito contra religiões afro-brasileiras, contra as pessoas LGBT e contra
o próprio continente africano. Veja o vídeo abaixo.
O jornal O
Globo
cita uma das frases prediletas de Feliciano:
“O problema não é a comunidade gay. Eu tenho amigos que são
e são pessoas completamente equilibradas. O problema são os ativistas. Eles
fazem o que já fizeram comigo, que é tentar destruir a minha imagem e falar pra
sociedade que você é uma coisa e que não é.”
Não é difícil entender o ressentimento de Feliciano contra o
ativismo LGBT: pastores que acreditam em “reversão” da homossexualidade (ou
coisas semelhantes) geralmente adoram homossexuais enrustidos ou que buscam “adequação”
às regras heteronormativas dessas igrejas. 
Eles odeiam os homossexuais que não se sentem menores do que ninguém em
função de sua sexodiversidade. Mais do que isso, esses homossexuais reivindicam direitos iguais.
Isso, gente como Feliciano não suporta. Ele segue a a mesma linha de Silas Malafaia e
Marisa Lobo. Aliás, essas pessoas beberam da mesma fonte: pregadores
homofóbicos americanos, tais como James Dobson, do ministério Focus on the Family, líderes de movimentos como a
Exodus International e alguns grupos de “reversão” aqui do Brasil, os quais
também beberam das mesmas fontes extremistas que eles, como foi o caso do MOSES
(Movimento pela Sexualidade Sadia) e outros.
Mas a declaração de Feliciano oculta outro engodo, seja consciente
ou inconscientemente: o de que existe UM movimento gay. Isso não é verdade. Existem diversos
movimentos sob a bandeira do arco-íris. Basta notar que muita mobilização contra a homofobia
tem sido feita por pessoas comuns nas redes sociais, em grupos de amigos com os
mesmos objetivos e por aí vai.
Além disso, ele fala como se considerasse a relação homoafetiva muito natural, mas isso não é verdade. Ele chega a chamar a relação afetiva entre pessoas do mesmo sexo de “fazer suas porcarias”, como você poderá assistir no vídeo abaixo.
Enquanto isso, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos
Humanos (ACNUDH) lança uma nova cartilha sobre orientação sexual e identidade de
gênero no direito internacional dos direitos humanos, conforme noticiado pela Rede
Brasil
.
Trata-se de um livro de 60 páginas cujo objetivo é ajudar os
Estados a compreender melhor as suas obrigações e os passos que devem seguir
para cumprir os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros
(LGBT), bem como para os ativistas da sociedade civil que querem que seus
governos sejam responsabilizados por violações de direitos humanos
internacionais.
Iniciativas como essa da ONU só expõem, com ainda mais
clareza, o quanto o Legislativo brasileiro está na contramão da história.
Felizmente, nosso Judiciário tem avançado, mas isso também incomoda pessoas
como o deputado Marco Feliciano, que não deve estar celebrando nem um pouco o fato de que pessoas do mesmo sexo não apenas podem firmar união estável no país inteiro, como ainda podem se casar direto no cartório em seis estados brasileiros e no Distrito Federal. São eles: São Paulo, Piauí, Alagoas, Sergipe, Bahia e Espírito Santo.
Vídeo produzido por Sergio Viula para o Blog Fora do Armário e cedido para essa nota

O Conselho LGBT da Liga Humanista do Brasil vem a público
manifestar sua preocupação com o rumo que a Comissão de Direitos Humanos da
Câmara pode tomar daqui para frente. Conclamamos os cidadãos esclarecidos a que
se posicionem humanisticamente contra toda forma de preconceito, especialmente
a homofobia (incluindo a lesbofobia e a transfobia), o machismo, a xenofobia e
a demonização dos seguidores de religiões afro-brasileiras. Que pressionem deputados, senadores e outros representantes eleitos para que se oponham ao avanço do fundamentalismo religioso na esfera pública e que defendam o Estado laico, democrático, pluralista e de direito. 
Além disso, que nossa mobilização inclua a desconstrução de preconceitos, bem como a recusa em reproduzir qualquer conteúdo que estimule discriminação por raça, sexo, gênero, orientação sexual, afiliação religiosa, etc. 
Multiplicar conhecimentos verdadeiros e estimular o humanismo irrestrito são o melhor antídoto contra os os discursos obscurantistas que alimentam o ódio e o totalitarismo. 
Sergio Viula
Presidente do Conselho LGBT da LiHS

A Audiência sobre a “Cura Gay” (sic)

Deputado João Campos (PSDB-GO) tentando legitimar a ‘cura gay’ em oposição à Resolução do próprio Conselho Federal de Psicologia
O deputado federal João Campos (PSDB-GO) é autor do  Projeto de Decreto Legislativo 234/11, que susta a vigência da resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) 001/99. A proposta visa abrir caminho para que os profissionais da psicologia que acreditam na ‘reversão’ da homossexualidade em heterossexualidade proponham os chamados ‘tratamentos’ ou ‘curas’ para gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros. 
Vale ressaltar que essa proposta do deputado cristão contraria a classificação de doenças adotada pelas maiores organizações mundiais de saúde, inclusive a OMS (Organização Mundial de Saúde), APA (Associação Americana de Psiquiatria), OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), dentro dezenas de outras. O que ele propõe parece ser uma tentativa de ditar o que é supostamente científico a partir de pressupostos questionáveis quanto ao que seria certo e errado no campo da sexualidade humana, ignorando propositadamente a diversidade de orientação sexual e de identidade de gênero dos indivíduos. 
Toni Reis, presidente da ABGLT é enfático em denunciar que:
“Prometer cura para o que não é doença, no caso para a homossexualidade, é charlatanismo.”
E chama atenção para os avanços dos direitos humanos e da inclusão da diversidade sexual e de gênero em nível mundial, apesar de muita coisa ainda precisar mudar em termos de legislação. Ele destaca que:
“Em sete países do mundo, existe pena de morte para homossexuais, em outros 75 há pena de prisão. Por outro lado, 58 já aprovaram a criminalização da homofobia e 34 países reconhecem a união de pessoas do mesmo sexo, entre eles o Brasil.”
Em Brasília, a próxima etapa dessa investida fundamentalista contra a resolução CFP 001/99, que proíbe que psicólogos tratem os homoafetivos como doentes por causa de sua homoafetividade, será uma audiência pública a ser realizada no dia 27 de novembro de 2012.
Apoiando o deputado João Campos na absurdidade desse projeto anti-gay que atropela diversas áreas de saber, não somente a da psicologia, estão o Pr. Silas Malafaia, a psicóloga (cristã) Marisa Lobo, a psicóloga (cristã) Rozângela Justino, assim como alguns outros pastores da bancada evangélica na Câmara. 
A Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS) enviou ao Conselho Federal de Psicologia (CFP), em 24/11/12, uma carta manifestando seu apoio à manutenção integral da Resolução do CFP 001/99, assim como tornando público seu repúdio ao Projeto de Decreto Legislativo 234/11 do Deputado João Campos e conclamando toda a sociedade brasileira a que faça o mesmo.
Leia a carta da LiHS a seguir:
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Caro Sr. Humberto Verona – Presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), 
A Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS) é uma entidade civil, aberta, cujos valores são o Humanismo, o Secularismo e o Racionalismo. Fundada em 2009, com sede em Porto Alegre – RS, sua principal missão é vigiar o Estado Brasileiro na sua relação com as religiões de forma a evitar o desrespeito à Constituição Nacional no que tange às prerrogativas Seculares estabelecidas. Possui abrangência nacional e tem hoje cerca de 2.550 membros que consideram que a defesa dos direitos humanos é um dos pilares do humanismo secular.

Neste sentido, a organização tem participado constantemente de ações que promovam os direitos humanos de pessoas LGBT e que combatam o preconceito por orientação sexual e identidade de gênero no Brasil. 

Frente ao exposto, a LiHS vem publicamente manifestar seu apoio à manutenção da Resolução CFP nº 001/99 que vem sendo alvo de ataques dos setores religiosos no Congresso Nacional. Mais recentemente o deputado João Campos (PSDB-GO) publicou o PDC n° 234/2011 que visa sustar artigos da referida Resolução. Em nosso entendimento, os argumentos que sustentam a modificação carecem totalmente de base científica.

Além disso, a alteração pode permitir a prática negativa da profissão por parte de psicólogos mal intencionados que poderiam passar a vender a ilusão de que existe um tratamento que pode levar à mudança da orientação sexual da pessoa. Tratamento este que pode colocar em risco a saúde mental dos pacientes.

Portanto, queremos registrar nossa contrariedade no que diz respeito à modificação da Resolução CFP nº 001/99, que segue os padrões científicos e éticos também reconhecidos por órgãos internacionais como a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a APA (Associação de Psiquiatria Americana), assim como nosso repúdio ao que entendemos ser mais uma tentativa de enfraquecer os pilares científicos dos Direitos Humanos no Brasil. 

Conclamaremos, através de nossa rede, a sociedade brasileira a resistir a essa perseguição contra as minorias sexuais no país.

Colocamo-nos à disposição do CFP e de qualquer outra instituição ou pessoa comprometida com a preservação e expansão do saber científico e com o respeito à dignidade e à diversidade humana. Nosso endereço eletrônico é http://ligahumanista.org/ e os princípios básicos do humanismo secular podem ser lidos aqui.
Atenciosamente, 
Åsa Dahlström Heuser 
Presidente em exercício
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Continuaremos acompanhando e informando os desdobramentos desse debate. Apoie a LiHS na defesa da laicidade, desta vez na área do saber científico e na prática terapêutica da Psicologia. 

Divulgue essa nota.

Grato desde já,

Sergio Viula
Presidente do Conselho LGBT da LiHS

Dra. Tatiana Lionço sob ataque

O Caso Tatiana Lionço: 
Bolsonaro Deturpa e Fundamentalistas Multiplicam
John Stuart Mill
Um dos maiores pensadores sobre a liberdade humana, John Stuart Mill, filósofo inglês (1806-1873), continua atual e relevante, especialmente quando nos damos conta de quanto mal ainda faz o fundamentalismo de certos religiosos e o ranço conservador de certos políticos e/ou instituições. 
É sabido que fundamentalistas de qualquer espécie não gostam de discutir seriamente suas próprias ideias e nem aquelas ideias que despertam sua ira ou repugnância. Eles gostam de criar pânico e confusão para fazer calar os discordantes. Geralmente, isso acontece porque eles acreditam possuir uma verdade única e abrangente, e pensam que podem, infalivelmente, decidir pelos outros, seja impondo restrições ou mandamentos. 
Stuart Mill chama a atenção para o fato de que as pessoas que geralmente perseguem aqueles que lhes parecem transviados, desviados ou ímpios na atualidade são as mesmas que reprovam os que acusaram e mataram Sócrates ou os que julgaram e mataram Cristo. John Stuart Mill diz exatamente o seguinte: 
“Os cristãos ortodoxos que estejam tentados a pensar que aqueles que apedrejaram até a morte os primeiros mártires devem ter sido pessoas piores do que eles próprios deviam lembrar-se de que um desses perseguidores foi são Paulo.”
(Sobre a Liberdade, p. 54, Saraiva de Bolso, 2011) 
Isto quer dizer que se Paulo foi tão veemente em sua perseguição contra aqueles que ele considerava hereges, desviados, blasfemos, mas posteriormente repensou sua posição e tornou-se ele mesmo um deles, convertendo-se a Cristo, ninguém pode estar absolutamente certo de que suas ideias sejam verdadeiras e ninguém tem o direito de impor suas crenças sobre os demais. 
Na verdade, Stuart Mill defende que as pessoas tenham  liberdade para expressar suas opiniões, mesmo quando elas sejam diferentes daquelas consideradas verdadeiras pela maioria. Ele não esconde sua preocupação de que a perseguição contra ideias divergentes possa perpetuar falsidades não questionadas. Ele adverte que “o ditado de que a verdade triunfa sempre sobre a perseguição é uma daquelas falsidades agradáveis que as pessoas repetem entre si até chegarem ao estatuto de lugares-comuns, mas que toda a experiência refuta.” (idem, p. 57) Mill ilustra essa preocupação com diversos fatos históricos, entre eles, os casos em que povos, seitas, e pensadores foram destruídos pela perseguição dos que os anatematizavam. 
Com isso, Mill também indica que não devemos esperar passivamente que a verdade se estabeleça quando a liberdade do indivíduo é violentada pelo dogmatismo fundamentalista ou conservador. É lícito agir para proteger a individualidade e a liberdade de todos, especialmente – nesse caso – da pessoa ou grupo vulnerável.
John Stuart Mill deixa muito claro, porém, que as ações não desfrutam do mesmo nível de tolerância que as opiniões e até mesmo as opiniões efetivamente prejudiciais a outros não devem ser toleradas. Ambas tem como limite o prejuízo ao outro: 
“Ninguém está a dizer que as ações devam ser tão livres como as opiniões. Pelo contrário, até as opiniões perdem sua imunidade quando as circunstâncias em que são expressas são tais que a sua expressão constitui efetivamente uma instigação a um ato danoso. (…) Qualquer tipo de atos que causem dano injustificável a outros podem ser controlados – e nos casos mais importantes precisam absolutamente de o ser – pelos sentimentos desfavoráveis das pessoas e, quando necessário, pela intervenção ativa. A liberdade do indivíduo tem de ter essa limitação; não pode prejudicar outras pessoas.” (idem, p. 90) 
Para John Stuart Mill, a diversidade é salutar, justamente porque, no mais das vezes, não conseguimos reconhecer todos os lados da verdade: “…então as mesmas razões que mostram que a opinião deve ser livre provam também que lhe deve ser permitido agir com base nas suas opiniões a seu próprio custo sem ser importunado. Que a humanidade não é infalível; que as suas verdades, na maior parte dos casos, são apenas meias verdades; que a uniformidade de opinião, a não ser que resulte da mais plena e livre comparação de opiniões opostas, não é desejável, e que a diversidade não é um mal, mas sim um bem, são princípios aplicáveis tanto à conduta das pessoas como às suas opiniões, até a humanidade ter mais capacidade para reconhecer todos os lados da verdade do que hoje em dia” (idem, p. 91) 
O filósofo deixa claro que não há pretexto que possa justificar a supressão da individualidade: 
“… e tudo o que esmague a individualidade é despotismo, chame-se-lhe o que se lhe chamar, e quer afirme estar a fazer cumprir a vontade de Deus ou os preceitos das pessoas.” (idem, p. 100) 
E acrescenta que tentar suprimir a individualidade e impor a uniformidade prejudica a todos, inclusive o déspota: 
 “O poder de forçar os outros a segui-lo não só é inconsistente com a liberdade de desenvolvimento de todos os outros, como também corrompe a própria pessoa forte.” (idem, p. 104) 
Por causa desses vigiadores da vida alheia, a vida de uma pessoa que não se enquadre no que eles consideram o modo correto de viver geralmente sofre maledicência e perseguição: 
“Mas o homem, e ainda mais a mulher, que pode ser acusado de fazer ‘o que ninguém faz’, ou de não fazer ‘o que todos fazem’, é alvo de tantos comentários depreciativos como se tivesse cometido um grave delito moral.” (idem, p. 106) 
John Stuart Mill insta a que sejam tomadas providências imediatas contra o abuso daqueles que pretendem impor suas crenças sobre os demais e que rotulam tudo o que escapar dessa uniformidade como ímpio, imoral, monstruoso e antinatural. Ele diz o seguinte: 
“É apenas nos primeiros estágios que se pode tomar com sucesso qualquer posição contra o abuso. A exigência de que todas as outras pessoas se assemelhem a nós cresce através daquilo de que se alimenta. Se a resistência esperar até a vida estar quase reduzida a um tipo uniforme, todos os desvios em relação a esse tipo virão a ser considerados ímpios, imorais e até monstruosos e antinaturais. As pessoas tornam-se rapidamente incapazes de conhecer a diversidade quando perderam durante algum tempo o hábito de ver.” (idem, p. 113) 
Um dos sintomas da neurose fundamentalista é a ideia de que seus adeptos têm a missão de converter os demais custe o que custar, e que este não o fizer, será punido por Deus: 
 “A ideia de que uma pessoa tem o dever de que outra seja religiosa foi o fundamento de todas as perseguições religiosas alguma vez feitas e, se aceite, justifica-las-ia plenamente. (…) É a crença de que Deus não só detesta o ato do descrente, mas também não nos deixará isentos de culpa se o deixarmos sossegado.” (idem, p. 134) 
O mesmo desejo de uniformizar, aniquilar a individualidade, suprimir a liberdade humana em nome de um código moral ou de fé é típico de fundamentalistas religiosos e conservadores em geral. Recentemente, isso ficou muito claro no caso de Tatiana Lionço. 
Tatiana foi a moderadora do encontro no qual falei sobre “As Falácias da Rerversão Sexual” (18/08/12). 
O evento foi promovido pela Cia. Revolucionário do Triângulo Rosa.
Tatiana é Doutora em Psicologia, professora de graduação e mestrado em Psicologia do UniCEUB e membro-fundadora da Cia. Revolucionária Triângulo Rosa, e desempenhou papel importante como integrante da mesa formada durante o 9º Seminário LGBT (Sexualidade, papéis de gênero e educação na infância e adolescência), realizado no dia 15/05/12, na Câmara dos Deputados. O seminário foi organizado pelas Comissões de Direitos Humanos e Minorias e Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, e contou, pela primeira vez, com o apoio e organização de duas Frentes Parlamentares Mistas: pela Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e de Direitos Humanos da Criança e do Adolescente. 
A fala de Tatiana Lionço pode ser encontrada no minuto 2:38:20 no seguinte vídeo:

 Todas as falas da mesa realizada pela manhã encontram-se integralmente nesse vídeo. 
Recentemente, fundamentalistas e conservadores começaram a distorcer as falas de Tatiana durante o seminário e a espalhar calúnias contra ela em sites e blogs da internet. Um deles é blog ADHT: DefesaHetero.org. No dia em que essa nota foi escrita (26/08/12), o referido blog ainda exibia a seguinte manchete:
 “Tatiana ‘deixa os menores de 12 anos brincarem sexualmente em paz’. Lionço ameça DefesaHetero por divulgar trecho de vídeo do Deputado Federal Jair Bolsonaro.” (http://defesa-hetero.blogspot.com.br/). 
 A própria chamada já denuncia a autoria do vídeo deturpado: Jair Bolsonaro! Porém, o administrador do blog também contribuiu com sua cota de difamação reproduzindo as seguintes imagens (online em 26/08/12).
“É ela, 
TATIANA LIONÇO, 
nas imagens e falas abaixo:” 


Fonte: http://defesa-hetero.blogspot.com.br/2012/08/tatiana-os-menores-de-12-anos-brincarem.html (online em 26/08/12) 

O contato que o site apresenta é do  Rev. Dr. Alberto Thieme. O site literalmente diz o seguinte:
Escreva para nosso fundador e presidente, o Rev. Dr. ALBERTO TIHEME em defesa_hetero@yahoo.com.
Este é o Pr.Alberto Thieme. 
Fonte da Foto (online em 26/08/12): 

Jair Bolsonaro foi quem produziu o vídeo deturpado e difamatório, 
segundo o próprio Pr. Alberto Thieme.

Não existe justificativa para quaisquer ações criminosas por parte de um parlamentar. Jair Bolsonaro é deputado e o papel de um parlamentar é o de preservar a democracia e legislar em favor do cidadão e da sociedade, mas ao contrário disso, ele tem se envolvido em difamação, racismo, discurso homofóbico, desrespeito a colegas parlamentares, etc. Desta vez, ele atentou contra a dignidade e a honra de uma profissional altamente qualificada e respeitada em seu campo de atuação, pervertendo sua palavras durante um seminário que tratava de educação, com um viés psicológico e sociológico. 

Tatiana Lionço, como qualquer pessoa em sã consciência, sentiu-se ferida com toda essa cruzada difamatória. Sua resposta foi dada em forma de texto, ironizando a própria difamação para mostra-la ainda mais absurda.

Tatiana Lionço falando no 9º Seminário LGBT

Além dessa resposta em forma de texto, Tatiana escreveu uma carta aberta ao Rev. Alberto Thieme, a qual também foi enviada à direção da Igreja Presbiteriana, denominação à qual pertence o tal pastor. A carta pode ser lida aqui: 
A Dra. Tatiana Lionço sentiu-se obrigada a encerrar seu perfil no Facebook, pois fotos pessoais estavam sendo usadas para ridiculariza-la. Ela também temia por sua segurança. Porém, ela abriu um outro perfil com conteúdo menos pessoal. Tatiana também começou a esboçar um blog: http://gentetransviada.wordpress.com/
Todas essas são formas úteis e lícitas de esclarecimento, mas não atingem todas as pessoas que foram envenenadas pela difamação pelas calúnias dos textos/vídeos/imagens produzidos ou multiplicados por conservadores e fundamentalistas que, em nome de uma suposta moralidade, cometem atos que – mais do que imorais – são prejudiciais contra uma pessoa cuja conduta e trabalho têm contribuído tanto para a causa da liberdade, felicidade e do conhecimento humanos. 
Por isso, muitos internautas já começaram a se mobilizar para multiplicar o esclarecimento sobre o caso. 
Jean Wyllys no 9º Seminário LGBT na Câmara
Também, segundo Tatiana, a assessoria do Deputado Jean Wyllys tem se mobilizado solicitar as sanções jurídicas cabíveis contra os envolvidos. 
Toni Reis, presidente da ABGLT
Essa semana, Toni Reis, presidente da ABGLT, respondendo a Marina Reidel – que solidariamente solicitava apoio para Tatiana Lionço – também garantiu que as devidas providências estão sendo tomadas: “Estaremos processando com todas as leis que ele infringiu. Não nos calaremos.” – escreveu Reis. 
O Conselho LGBT da Liga Humanista Secular do Brasil coloca-se à disposição para apoiar Tatiana Lionço. É dever de todo humanista e secularista trabalhar para manter a liberdade de consciência, assim como para garantir que os indivíduos terão meios de se proteger contra o obscurantismo fundamentalista/conservador, o qual seria inofensivo aos outros se ficasse confinado ao campo das opiniões desses mesmos moralistas. Contudo, no momento em que esse fundamentalismo passa a perseguir os indivíduos que não se conformam aos seus ditames uniformizadores, ele viola o princípio da liberdade humana, incita a violência contra os indivíduos divergentes – ainda que no campo do simbólico -, devendo ser reprovado no âmbito da sociedade (todos nós) e coibido através do aparelho estatal, neste caso polícia e justiça.

Sergio Viula
Presidente do Conselho LGBT da Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS)