Sobre a reportagem da Istoé sobre o Encontro Nacional de Ateus

Hoje, a Revista IstoÉ publicou uma reportagem sobre o Encontro Nacional de Ateus que acontecerá amanhã. Fomos pegos de surpresa pelo tom nada imparcial do texto de Rodrigo Cardoso.
Nós ateus estamos acostumados a sermos tratados de forma desigual em episódios memoráveis, como no programa de José Luiz Datena, que fez declarações preconceituosas pelas quais foi condenado na justiça, e no episódio em que a Sociedade Americana do Câncer recusou dinheiro ateu e depois tentou fingir que não foi por motivo de ateofobia (nome que nosso blog Bule Voador deu a este preconceito).
A reportagem produzida por Cardoso mistura de forma tendenciosa dois assuntos sem relação óbvia entre si: o encontro promovido pela Sociedade Racionalista, e a suposta construção de um “templo ateu” em Londres.  O jornalista sequer fez uma pesquisa básica sobre o assunto do “templo”, dado que reiteradamente o filósofo Alain de Botton, que respeitamos, já explicou que este não é o nome do projeto e muito menos a intenção. A comunidade ateia internacional definitivamente não parece querer emular o comportamento religioso.
Cardoso alega que o “universo virtual [é] uma espécie de igreja online para ateus”. Se for este o caso, aparentemente a internet é uma igreja para todos, ateus ou não, dado que é apenas uma ferramenta de aproximação para pessoas que aderem a qualquer forma de pensar. A escolha de termos que o repórter fez, como “professar”, “templo”, “cartilha” e “guru”, demonstra uma clara má vontade ou provocação desnecessária para com nosso grupo, algo decepcionante de se ler num veículo que existe para informar.
Lamentamos, também, o mau aproveitamento da entrevista dada pela organizadora Stíphanie da Silva, que também resultou da tentativa do repórter de aglutinar assuntos desconexos num só texto.
Não pensamos que uma porcentagem referente a um único grupo de ateus no Brasil seja amostra representativa da posição dos ateus brasileiros em geral sobre considerar a “religião” um “mal”, dado que uma parcela significativa de nós está feliz em compartilhar um país com pessoas que pensam diferente.
Por isso mesmo, nós que somos humanistas lutamos por um Estado laico e uma sociedade aberta e secular, com uma convivência de todas as crenças e posturas filosóficas, inclusive o ateísmo.

Att,
Eli Vieira e Åsa Heuser
presidente e vice-presidente da Liga Humanista Secular do Brasil