Genocídio no Brasil à Sombra de um Delírio Verde

A LiHS assinou o manifesto e a carta abaixo sobre o contínuo e lento genocídio do povo guarani kaiowá no Brasil. Para a lista completa de assinantes, visite a publicação original no blog do Fórum de Direitos Humanos e da Terra do Mato Grosso.
Também recomendamos fortemente:
  • entrevista com Dona Eleonora, 105 anos, avó do Cacique Nísio; 
  • documentário À Sombra de um Delírio Verde:
    Produção: Argentina, Bélgica, Brasil

    Tempo
    de Duração: 29 min

    Ano
    de Lançamento: 2011

    Direção
    , produção e roteiro: An Baccaert, Cristiano Navarro e Nicolas Muñoz

    Narração
    em Português: Fabiana Cozza

    Música
    composta por Thomas Leonhardt
    Comentário do jornalista Leonardo Sakamoto: “Os guarani kaiowá do Mato Grosso do Sul enfrentam a pior situação entre
    os povos indígenas do Brasil, apresentando altos índices de suicídio e
    desnutrição infantil. O confinamento em pequenas parcelas de terra é uma
    das razões principais para a precária situação do povo. Sem
    alternativas, tornam-se alvos fáceis para os aliciadores de mão-de-obra e
    muitos acabaram como escravos em usinas de açúcar e álcool no Estado
    nos últimos anos.”



MANIFESTO

No início
da manhã do dia 18 de novembro, 40 pistoleiros assassinaram brutalmente o
cacique NÍSIO, Guarani Kaiowá, do estado de Mato Grosso do Sul. O conflito em
função da terra já acumula outros crimes e violências.
Incentivados
e apoiados por uma professora das ciências sociais, Aline Crespe, os estudantes
Kaiowá escreveram uma carta em repúdio ao homicídio do cacique Nísio.

O FÓRUM DE
DIREITOS HUMANOS E DA TERRA DE MATO GROSSO (FDHT) lançou um manifesto apoiando
a carta escrita pelos estudantes Guarani Kaiowá, e junto com os signatários
abaixo conclamamos pela justiça social e total proteção aos povos indígenas.

Realizamos
um pequeno dossiê do caso, com informações oriundas basicamente dos indígenas
de Mato Grosso do Sul e colaborações de vários educadores ambientais de todo
Brasil. São notícias do massacre, acrescentados de atos públicos, moções ou
abaixo-assinados, além de galeria de fotos e cultura Guarani Kaiowá.

Entregamos
nosso manifesto à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República no
dia 2 de dezembro de 2011, e solicitamos imediata punição aos criminosos e
saudamos os povos indígenas com solidariedade e respeito.
Cuiabá, 02
de dezembro de 2011.

Fórum de
Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso
direitoshumanosmt@gmail.com

Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República
Setor Comercial Sul – B, Quadra 9, Lote C, Edificio Parque
Cidade Corporate, Torre “A”, 10º andar,

Brasília, Distrito Federal, Brasil

CEP: 70308-200

………….
CARTA DOS ESTUDANTES GUARANI E
KAIOWÁ

Por volta das seis horas chegaram
os pistoleiros. Os homens entraram em fila já chamando pelo Nísio. Eles falavam
segura o Nísio, segura o Nísio. Quando Nísio é visto, recebe o primeiro tiro na
garganta e com isso seu corpo começou tremer. Em seguida levou mais um tiro no
peito e na perna. O neto pequeno de Nísio viu o avô no chão e correu para
agarrar o avô. Com isso um pistoleiro veio e começou a bater no rosto de Nísio
com a arma. Mais duas pessoas foram assassinadas. 

Alguns outros receberam tiros mas
sobreviveram. Atiraram com balas de borracha também. As pessoas gritavam e
corriam de um lado para o outro tentando fugir e se esconder no mato. As
pessoas se jogavam de um barranco que tem no acampamento. Um rapaz que foi
atingido por um tiro de borracha se jogou no barranco e quebrou a perna. Ele
não conseguiu fugir junto com os outros então tiveram que esconder ele embaixo
de galhos de árvore para que ele não fosse morto.

Outro rapaz se escondeu em cima de uma árvore e foi ele que me ligou para me
contar o que tinha acontecido. Ele contou logo em seguida. Ele ligou chorando
muito. Ele contou que chutaram o corpo de Nísio para ver se ele estava morto e
ainda deram mais um tiro para garantir que a liderança estava morta. Ergueram o
corpo dele e jogaram na caçamba da caminhonete levando o corpo dele embora.

Nós estamos aqui reunidos para pedir união e justiça neste momento.

Afinal, o que é o índio para a sociedade brasileira?

Vemos hoje os direitos humanos, a defesa do meio ambiente, dos animais. Mas e
as populações indígenas, como vem sendo tratadas?

As pessoas que fizeram isso conhecem as leis, sabem de direitos, sabem como
deve ser feita a demarcação da terra indígena, sabem que isso é feito na
justiça. Então porque eles fazem isso? Eles estão acima da lei?

O estado do Mato Grosso do Sul é um dos últimos estados do Brasil mas é o
primeiro em violência contra os povos indígenas. É o estado que mais mata a
população indígena. Parece que o nazismo está presente aqui. Parece que o Mato
Grosso do Sul se tornou um campo de fuzilamento dos povos indígenas. Prova
disso é a execução do Nísio. Quando não matam assim matam por atropelamento.
Nós podemos dizer que o estado, os políticos e a sociedade são cúmplices dessa
violência quando eles não falam nada, quando não fazem nada para isso mudar. Os
índios se tornaram os novos judeus.

E onde estão nossos direitos, os direitos humanos, a própria constituição? E
nós estamos aí sujeito a essa violência. Os índios vivem com medo, medo de
morrer. Mas isso não aquieta a luta pela demarcação das terras indígenas.
Porque Ñandejara está do lado do bom e com certeza quem faz a justiça final é
ele. Se a justiça da terra não funcionar a justiça de deus vai funcionar.

ESTUDANTES GUARANI E KAIOWÁ DOS CURSOS
DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HISTÓRIA E MORADORES DA ALDEIA DE AMAMBAÍ.