Sobre a declaração do Papa sobre o casamento gay

A Igreja Católica é culpada não apenas pelos crimes pelos quais pediu perdão muito tardiamente no século XX: é uma instituição que ativamente praticou a coerção no silêncio de crianças vítimas de abusos sexuais de padres. Nas palavras do então cardeal Joseph Ratzinger (hoje Papa), o silêncio das vítimas e suas famílias é “sob pena de excomunhão“.
Também é culpada por negligência na história de dezenas de milhares de bebês vendidos em maternidades da Espanha. Padres e freiras mentiam para as mães espanholas que seus bebês eram natimortos, há casos até de usarem um cadáver de bebê congelado para convencê-las. Os bebês eram vendidos para casais estéreis pelo preço aproximado de um apartamento, às vezes em parcelas recebidas pelas freiras e padres espanhóis por muitos anos.
Este sistema começou, é claro, no regime da ditadura fascista de Franco. Este é outro defeito do alto clero católico: um apreço por regimes autoritários que lembram o regime cósmico de sua fantasia cristã.
Corrupção moral é a única explicação para, diante dos fatos juridicamente comprovados acima, este Papa ainda ter a desfaçatez de afirmar que é o casamento gay que ameaça o futuro da humanidade e a integridade da “família”.
Só se for a integridade da Famiglia milenar de algumas sanguessugas da Igreja Católica Apostólica Romana.
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Eli Vieira
presidente da LiHS

Parasitismo e razões para ter vergonha de Dilma Rousseff

As religiões mais influentes no Brasil têm uma relação com o Estado que é a do parasita, como aquele fungo que enlouquece formigas. O fungo em questão influencia o sistema nervoso das formigas ao ponto de elas se oferecerem para predadores. É o estado da democracia no Brasil sob a influência estranhamente inchada de uma minoria teocrática.
Insisto no termo “teocracia” porque sei que há muitos evangélicos favoráveis à laicidade do Estado.
A presidente Dilma é uma das piores forças de retrocesso anti-laicidade que este país já viu em muitos anos. Ela tem a coragem de falar sobre direitos humanos no Brasil e não tocar no assunto homofobia. Se utiliza de um dispositivo autoritário herdado da ditadura, a Medida Provisória, para afagar o projeto teocrático de uma minoria anti-mulher, criando um cadastro de gestantes que claramente nasceu da ideia de fiscalizar e punir qualquer mulher neste país que decida abortar, até mesmo em casos de anencefalia.
Diante de avanços na América Latina ao nosso redor, nós brasileiros temos que ficar com muita vergonha da nossa presidente na área de direitos humanos. Isso porque nem toquei no assunto Belo Monte, melhor nem tocar.
Leia este post do blog Eleições HoJE: “Dilma, a presidenta submissa”.

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Eli Vieira, presidente da LiHS

O que a Liga Humanista Secular do Brasil não é

O que a Liga Humanista Secular do Brasil NÃO é:

– NÃO é uma tentativa de eliminar religiões, mas uma tentativa de agrupar pessoas seculares pelo que acreditam ser necessário para um conhecimento melhor, uma conduta melhor, uma vida melhor, um mundo melhor. Se teremos sucesso em cada um desses pontos, principalmente o último, é secundário diante da necessidade de nos juntarmos e nos afirmarmos.
– NÃO é uma utopia inatingível, na verdade é muito pé-no-chão: sabemos exatamente o que queremos em temas como os direitos reprodutivos, a condução da política no Brasil, e o tratamento da mídia para com temas diversos. Não são coisas complicadas como planos econômicos, são coisas bem simples, claras e distintas como a laicidade do Estado.
– NÃO é uma agremiação ideológica dogmática, mas axiológica: valorizamos o pensamento crítico, cético e científico; valorizamos a empatia em detrimento de todos os preconceitos de origem, grupo étnico, orientação sexual ou gênero. Diferente do que acontece em certas comunidades do Brasil, uma nordestina negra transgênero e bissexual seria não apenas bem-vinda na LiHS, mas avaliada apenas pela firmeza de seu caráter.
– NÃO é religião nem acredita em nenhum deus, porque pensamos que é nossa responsabilidade fazer esta vida, que até onde sabemos é finita, valer a pena por nossos próprios meios, que passam pelo desafio que é viver num universo que não foi moldado a nós, mas nós a ele. E neste intento, a criatividade não deve ter limites.

Afilie-se aqui.

Abraços,

Eli Vieira
presidente

Nota de repúdio: Revista Veja demoniza estudantes da USP

Com autoria de Marcelo Sperandio, a revista VEJA de 9 de novembro traz reportagem sobre os alunos que ocuparam a reitoria da Universidade de São Paulo, texto em que os estudantes são tratados com um tom desrespeitoso e inesperado para a prática jornalística.
Os ativistas são descritos como “birrentos”, “vândalos” e “filhinhos de papai”. A reportagem insinua que a única bandeira dos alunos é a descriminalização da maconha, ou ainda, um suposto desejo de poder usar a droga ilegal no campus sem a interferência da polícia. O artigo parece ter sido escrito sem uma única entrevista para saber a posição dos manifestantes, com uma tentativa de desqualificá-los pela porcentagem minoritária que têm frente ao número total de estudantes da USP, numa concessão subliminar à ditadura da maioria em vez de ao mérito das necessidades e argumentos em questão.
Ocupações de reitorias em universidades públicas têm acontecido repetidamente no país nos últimos anos. Na opinião de alguns como Zuenir Ventura (autor do livro “1968: o ano que não terminou“), a medida da ocupação é drástica e exagerada. Mas julgar os métodos é bem diferente de julgar as ideias. Independente da natureza dos métodos inadequados de ativismo dos estudantes, é preciso ouvir quais são seus argumentos e reivindicações, em vez de tentar desqualificá-los pelo vestuário, idade ou classe social.
Agora que foram retirados à força do prédio, e há denúncias de centros acadêmicos sobre cerceamento da liberdade de outros estudantes por parte da força militar, perguntamos se é um caso que se encaixa na avaliação da Human Rights Watch, que aponta a truculência antidemocrática da força policial brasileira como um problema crônico no país. Há relatos até de discriminação da força policial contra manifestações de homoafetividade entre estudantes na USP.
VEJA e outros órgãos de imprensa estão capitalizando sobre o absoluto preconceito vigente sobre o uso da Cannabis que persiste no Brasil e está sendo corajosamente combatido por Fernando Henrique Cardoso e todos aqueles que estão do lado da ciência e da verdade sobre os danos da política antidrogas, especialmente no caso desta erva ritualística dos citas.
É completamente irrelevante, e uma forma de preconceito de classe, apontar se os alunos usam roupas de tal marca ou se são fidalgos. É surpreendente que haja um clima noticioso depreciativo contra os estudantes, quando frequentemente quem se comporta de forma muito mais nociva são dirigentes de universidades, como o ex-reitor da UnB Timothy Mulholland, que renunciou após ser denunciado por improbidade administrativa (o caso da famosa lixeira de 900 reais); e o próprio reitor da USP João Grandino Rodas, que enfrenta acusações da Faculdade de Direito, que o nomeou ineditamente com o título de persona non grata.
Se as denúncias contra ambos administradores procedem, certamente são casos bem piores do que fumar maconha, sob próprio risco individual. (Risco que é pequeno, dado o conhecimento científico sobre o tema; e que é tão culpável pela violência e pelo tráfico quanto o álcool é culpável por Al Capone.)
Dados os motivos acima, repudiamos a reportagem de Sperandio veementemente, e repudiamos o absoluto mau gosto e amadorismo jornalístico de VEJA por publicá-la, que assim só contribui para a ignorância, o preconceito e a supressão do debate honesto no nosso país.
Atenciosamente,

Eli Vieira
presidente da Liga Humanista Secular do Brasil.