Bíblia passada a limpo

Descobertas recentes da arqueologia indicam que a maior parte das escrituras sagradas não passa de lenda

 

Vinícius Romanini

 

A disputa entre ciência e religião pela posse da verdade é antiga. No Ocidente, começou no século XVI, quando Galileu defendeu a tese de que a Terra não era o centro do Universo. Essa primeira batalha foi vencida pela Igreja, que obrigou Galileu a negar suas idéias para não ser queimado vivo. Mas o futuro dessa disputa seria diferente: pouco a pouco, a religião perdeu a autoridade para explicar o mundo. Quando, no século XIX, Darwin lançou sua teoria sobre a evolução das espécies, contra a idéia da criação divina, o fosso entre ciência e religião já era intransponível. Nas últimas décadas, a Bíblia passou a ser alvo de ciências como a filologia (o estudo da língua e dos documentos escritos), a arqueologia e a história. E o que os cientistas estão provando é que o livro mais importante da história é, em sua maior parte, uma coleção de mitos, lendas e propaganda religiosa.

 

Primeiro livro impresso por Guttemberg, no século XV, e o mais vendido da história, a Bíblia reúne escritos fundamentais para as três grandes religiões monoteístas – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Na verdade, a Bíblia é uma biblioteca de 73 livros escritos em momentos históricos diferentes. O Velho Testamento, aceito como sagrado por judeus, cristãos e muçulmanos, é composto de 46 livros que pretendem resumir a história do povo hebreu desde o suposto chamamento de Abraão por Deus, que teria ocorrido por volta de 1850 a.C., até a conquista da Palestina pelos exércitos de Alexandre Magno e as revoltas do povo judeu contra o domínio grego, por volta de 300 a.C. Os 27 livros do Novo Testamento abarcam um período bem menor: cerca de 70 anos que vão do nascimento de Jesus à destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C.

 

O coração do Velho Testamento são os primeiros cinco livros, que compõem a Torá do Judaísmo (a palavra significa “lei”, em hebraico). Em grego, o conjunto desses livros recebeu o nome de Pentateuco (“cinco livros”). São considerados os textos “históricos” da Bíblia, porque pretendem contar o que ocorreu desde o início dos tempos, inclusive a criação do homem – que, segundo alguns teólogos, teria ocorrido em 5000 a.C. O Pentateuco inclui o Gênesis (o “livro das origens”, que narra a criação do mundo e do homem até o dilúvio universal), o Êxodo (que narra a saída dos judeus do Egito sob a liderança de Moisés) e os Números (que contam a longa travessia dos judeus pelo deserto até a chegada a Canaã, a terra prometida).

 

Das três ciências que estudam a Bíblia, a arqueologia tem se mostrado a mais promissora. “Ela é a única que fornece dados novos”, diz o arqueólogo israelense Israel Finkelstein, diretor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv e autor do livro The Bible Unearthed (A Bíblia desenterrada, inédito no Brasil), publicado no ano passado. A obra causou um choque em estudiosos de arqueologia bíblica, porque reduz os relatos do Antigo Testamento a uma coleção de lendas inventadas a partir do século VII a.C.

O Gênesis, por exemplo, é visto como uma epopéia literária. O mesmo vale para as conquistas de David e as descrições do império de Salomão.

 

A ciência também analisa os textos do Novo Testamento, embora o campo de batalha aqui esteja muito mais na filologia. A arqueologia, nesse caso, serve mais para compor um cenário para os fatos do que para resolver contendas entre as várias teorias. O núcleo central do Novo Testamento são os quatro evangelhos. A palavra evangelho significa “boa nova” e a intenção desses textos é clara: propagandear o Cristianismo. Três deles (Mateus, Marcos e Lucas) são chamados sinóticos, o que pode ser traduzido como “com o mesmo ponto de vista”. Eles contam a mesma história, o que seria uma prova de que os fatos realmente aconteceram. Não é tão simples. O problema central do Novo Testamento é que seus textos não foram escritos pelos evangelistas em pessoa, como muita gente supõe, mas por seus seguidores, entre os anos 60 e 70, décadas depois da morte de Jesus, quando as versões estavam contaminadas pela fé e por disputas religiosas.

 

Nessa época, os cristãos estavam sendo perseguidos e mortos pelos romanos, e alguns dos primeiros apóstolos, depois de se separarem para levar a “boa nova” ao resto do mundo, estavam velhos e doentes. Havia, portanto, o perigo de que a mensagem cristã caísse no esquecimento se não fosse colocada no papel. Marcos foi o primeiro a fazer isso, e seus textos serviram de base para os relatos de Mateus e Lucas, que aproveitaram para tirar do texto anterior algumas situações que lhes pareceram heresias. “Em Marcos, Jesus é uma figura estranha que precisa fazer rituais de magia para conseguir um milagre”, afirma o historiador e arqueólogo André Chevitarese.

Para tentar enxergar o personagem histórico de Jesus através das camadas de traduções e das inúmeras deturpações aplicadas ao Novo Testamento, os pesquisadores voltaram-se para os textos que a Igreja repudiou nos primeiros séculos do Cristianismo. Ignorados, alguns desapareceram. Mas os fragmentos que nos chegaram tiveram menos intervenções da Igreja ao longo desses 2 000 anos. Parte desses evangelhos, chamados “apócrifos” (não se sabe ao certo quem os escreveu), fazem parte de uma biblioteca cristã do século IV descoberta em 1945 em cavernas do Egito. Os evangelhos estavam escritos em língua copta (povo do Egito).

 

O fato de esses textos terem sido comprovadamente escritos nos primeiros séculos da era cristã não quer dizer que eles sejam mais autênticos ou contenham mais verdades que os relatos que chegaram até nós como oficiais. Pelo contrário, até. Os coptas, que fundariam a Igreja cristã etíope, foram considerados hereges, porque não aceitavam a dupla natureza de Jesus (humana e divina). Para eles, Jesus era apenas divino e os textos apócrifos coptas defendem essa versão. Mesmo assim, eles trazem pistas para elucidar os fatos históricos.

 

A tentativa de entender o Jesus histórico buscando relacioná-lo a uma ou outra corrente religiosa judaica também foi infrutífera, como ficou demonstrado no final da tradução dos pergaminhos do Mar Morto, anunciada recentemente. Esses papéis, achados por acaso em cavernas próximas do Mar Morto, em 1947, criaram a expectativa de que pudesse haver uma ligação entre Jesus e os essênios, uma corrente religiosa asceta, cujos adeptos viviam isolados em comunidades purificando-se à espera do messias. O fim das traduções indica que não há qualquer ligação direta entre Jesus e os essênios, a não ser a revolta comum contra a dominação romana.

O resultado é que, depois de dois milênios, parece impossível separar o verdadeiro do falso no Novo Testamento. O pesquisador Paul Johnson, autor de A História do Cristianismo, afirma que, se extrairmos, de tudo o que já se escreveu sobre Jesus, só o que tem coerência histórica e é consenso, restará um acontecimento quase desprovido de significado. “Esse ‘Jesus residual’ contava histórias, emitiu uma série de ditos sábios, foi executado em circunstâncias pouco claras e passou a ser, depois, celebrado em cerimônia por seus seguidores.”

O que sabemos com certeza é que Jesus foi um judeu sectário, um agitador político que ameaçava levantar os dois milhões de judeus da Palestina contra o exército de ocupação romano. Tudo o mais que se diz dele precisa da fé para ser tomado como verdade. Assim como aconteceu com Moisés, David e Salomão do Velho Testamento, a figura de Jesus sumiu na névoa religiosa.

 

O Dilúvio

No Gênesis, a história do dilúvio é uma das poucas que ainda alimenta o interesse dos cientistas, depois que os físicos substituíram a criação do mundo pelo Big Bang e Darwin substituiu Adão pelos macacos. O que intrigou os pesquisadores foi o fato de uma história parecida existir no texto épico babilônico de Gilgamesh – o que sugere que uma enchente de enormes proporções poderia ter acontecido no Oriente Médio e na Ásia Menor. Parte do mistério foi solucionado quando os filólogos conseguiram demonstrar que a narrativa do Gênesis é uma apropriação do mito mesopotâmico. “Não há dúvida de que os hebreus se inspiraram no mito de Gilgamesh para contar a história do dilúvio”, afirma Rafael Rodrigues da Silva, professor do Departamento de Teologia da PUC de São Paulo, especialista na exegese do Antigo Testamento.

 

O povo hebreu entrou em contato com o mito de Gilgamesh no século VI a.C. Em 598 a.C., o rei babilônico Nabucodonosor, depois de conquistar a Assíria, invadiu e destruiu Jerusalém e seu templo sagrado. No ano seguinte, os judeus foram deportados para a Babilônia como escravos. O chamado exílio babilônico durou 40 anos. Em 538 a.C., Ciro, o fundador do Império Persa, depois de submeter a Babilônia permitiu o retorno dos judeus à Palestina. Os rabinos ou “escribas” começaram a reconstruir o Templo e a reescrever o Gênesis para, de alguma forma, dar um sentido teológico à terrível experiência do exílio. Assim, a ameaça do dilúvio seria uma referência à planície inundável entre os rios Tigre e Eufrates, região natal de Nabucodonosor; os 40 dias de chuva seriam os 40 anos do exílio; e a aliança final de Deus com Noé, marcada pelo arco-íris, uma promessa divina de que os judeus jamais seriam exilados.

Solucionado o mistério do dilúvio na Bíblia, continua o da sua origem no texto de Gilgamesh. No final da década de 90, dois geólogos americanos da Universidade Columbia, Walter Pittman e Willian Ryan, criaram uma hipótese: por volta do ano 5600 a.C., ao final da última era glacial, o Mar Mediterrâneo havia atingido seu nível mais alto e ameaçava invadir o interior da Ásia na região hoje ocupada pela Turquia, mais precisamente a Anatólia. Num evento catastrófico, o Mediterrâneo irrompeu através do Estreito de Bósforo (ver infográfico na página 44), dando origem ao Mar Negro como o conhecemos hoje. Um imenso vale de terras férteis e ocupado por um lago foi inundado em dois ou três dias.

Os povos que ocupavam os vales inundados tiveram que fugir às pressas e o mais provável é que a maioria tenha morrido. Os sobreviventes, porém, tinham uma história inesquecível, que ecoaria por milênios. Alguns deles, chamados ubaids, atravessaram as montanhas da Turquia e chegaram à Mesopotâmia, tornando-se os mais antigos ancestrais de sumérios, assírios e babilônios. Estaria aí a origem da narrativa de Gilgamesh. Essa teoria foi recebida por arqueólogos e antropólogos como fantástica demais para ser verdadeira.

 

No entanto, no verão de 2000, o caçador de tesouros submersos Robert Ballard, o mesmo que encontrou os restos do Titanic, levou suas poderosas sondas para analisar o fundo do Mar Negro nas proximidades do que deveriam ser vales de rios antes do cataclisma aquático. Ballard encontrou restos de construções primitivas e a análise da lama colhida em camadas profundas do oceano provaram que, há 7 600 anos, ali existia um lago de água doce. A hipótese do grande dilúvio do Mar Negro estava provada.

 

O Êxodo

Não há registro arqueológico ou histórico da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. A libertação dos hebreus, escravizados por um faraó egípcio, foi incluída na Torá provavelmente no século VII a.C., por obra dos escribas do Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. Para combater o politeísmo e o culto de imagens, que cresciam entre os judeus, os rabinos inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas heróicos que recebiam ensinamentos diretamente de Jeová. Tais intenções acabaram batizadas de “ideologia deuteronômica”, porque estão mais evidentes no livro Deuteronômio. A prova de que esses textos são lendas estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o texto e a realidade. Muitos reinos e locais citados na jornada de Moisés pelo deserto não existiam no século XIII a.C., quando o Êxodo teria ocorrido. Esses locais só viriam a existir 500 anos depois, justamente no período dos escribas deuteronômicos.

 

Também não havia um local chamado Monte Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez Mandamentos. Sua localização atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV e VI d.C., por monges cristãos bizantinos, porque ele oferecia uma bela vista. Já as Dez Pragas seriam o eco de um desastre ecológico ocorrido no Vale do Nilo quando tribos nômades de semitas estiveram por lá (veja infográfico na página 45).

Vejamos agora o caso de Abraão, o patriarca dos judeus. Segundo a Bíblia, ele era um comerciante nômade que, por volta de 1850 a.C., emigrou de Ur, na Mesopotâmia, para Canaã (na Palestina). Na viagem, ele e seus filhos comerciavam em caravanas de camelos. Mas não há registros de migrações de Ur em direção a Canaã que justifiquem o relato bíblico e, naquela época, os camelos ainda não haviam sido domesticados. Aqui também há erros geográficos: lugares citados na viagem de Abraão, como Hebron e Bersheba, nem existiam então. Hoje, a análise filológica dos textos indica que Abraão foi introduzido na Torá entre os séculos VIII e VII a.C. (mais de 1 000 anos após a suposta viagem).

 

Então, como surgiu o povo hebreu? Na verdade, hebreus e canaanitas são o mesmo povo. Por volta de 2000 a.C., os canaanitas viviam em povoados nas terras férteis dos vales, enquanto os hebreus eram nômades das montanhas. Foi o declínio das cidades canaanitas, acossadas por invasores no final da Idade do Bronze (300 a.C. a 1000 a.C.), que permitiu aos hebreus ocupar os vales. Segundo a Bíblia, os hebreus conquistaram Canaã com a ajuda dos céus: na entrada de Jericó, o exército hebreu toca suas trombetas e as muralhas da cidade desabam, por milagre. Mas a ciência diz que Jericó nem tinha muralhas nessa época. A chegada dos hebreus teria sido um longo e pacífico processo de infiltração.

 

David e Salomão

Há pouca dúvida de que David e Salomão existiram. Mas há muita controvérsia sobre seu verdadeiro papel na história do povo hebreu. A Bíblia diz que a primeira unificação das tribos hebraicas aconteceu no reinado de Saul. Seu sucessor, David, organizou o Estado hebraico, eliminando adversários e preparando o terreno para que seu filho, Salomão, pudesse reinar sobre um vasto império. O período salomônico (970 a.C. a 930 a.C.) teria sido marcado pela construção do Templo de Jerusalém e a entronização da Arca da Aliança em seu altar.

 

Não há registros históricos ou arqueológicos da existência de Saul, mas a arqueologia mostra que boa parte dos hebreus ainda vivia em aldeias nas montanhas no período em que ele teria vivido (por volta de 1000 a.C.) – assim, Saul seria apenas um entre os muitos líderes tribais hebreus. Quanto a David, há pelos menos um achado arqueológico importante: em 1993 foi encontrada uma pedra de basalto datada do século IX a.C. com escritos que mencionam um rei David.

Por outro lado, não há qualquer evidência das conquistas de David narradas na Bíblia, como sua vitória sobre o gigante Golias. Ao contrário, as cidades canaanitas mencionadas como destruídas por seus exércitos teriam continuado sua vida normalmente. Na verdade, David não teria sido o grande líder que a Bíblia afirma. Seu papel teria sido muito menor. Ele pode ter sido o líder de um grupo de rebeldes que vivia nas montanhas, chamados apiru (palavra de onde deriva a palavra hebreu) – uma espécie de guerrilheiro que ameaçava as cidades do sul da Palestina. Quanto ao império salomônico cantado em verso e prosa na Torá hebraica, a verdade é que não foram achadas ruínas de arquitetura monumental em Jerusalém ou qualquer das outras cidades citadas na Bíblia.

O principal indício de que as conquistas de David e o império de Salomão são, em sua maior parte, invenções é que, no período em que teriam vivido, a arqueologia prova que a cultura canaanita (que, segundo a Bíblia, teria sido destruída) continuava viva. A conclusão é que David e Salomão teriam sido apenas pequenos líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo localizado no sul da Palestina.

 

Na verdade, o grande momento da história hebraica teria acontecido não no período salomônico, mas cerca de um século mais tarde. Entre 884 e 873 a.C., foi fundada Samária, a capital do reino de Israel, no norte da Palestina, sob a liderança do rei israelita Omri. Enquanto Judá permanecia pobre e esquecida no sul, os israelitas do norte faziam alianças com os assírios e viviam um período de grande desenvolvimento econômico. A arqueologia demonstrou que os monumentos normalmente atribuídos a Salomão foram, na verdade, erguidos pelos omridas. Ou seja: o primeiro grande Estado judaico não teve a liderança de Salomão, e sim dos reis da dinastia omrida.

Enriquecido pelos acordos comerciais com Assíria e Egito, o rei Ahab, filho de Omri, ordena a construção dos palácios de Megiddo e as muralhas de Hazor, entre outras obras. Hoje, os restos arqueológicos desses palácios e muralhas são o principal ponto de discórdia entre os arqueólogos que estudam a Torá. Muitos ainda os atribuem a Salomão, numa atitude muito mais de fé do que de rigor científico, já que as datações mais recentes indicam que Salomão nunca ergueu palácios.

 

Judá

Entender a história de Judá é fundamental para entender todo o Velho Testamento. Até o século VIII a.C., Judá era apenas uma reunião de tribos vivendo numa região desértica do sul da Palestina. Em 722 a.C., porém, os assírios resolvem conquistar as ricas planícies e cidades de Israel – o reino do norte, mais desenvolvido economicamente e mais culto. Judá, no sul, que não pareceu interessar aos assírios, pôde continuar independente, desde que pagasse tributos ao império assírio.

 

Assim, enquanto no norte acontece uma desintegração dos hebreus, levados para a Assíria como escravos, no sul eles continuam unidos em torno do Templo de Jerusalém. Judá beneficiou-se enormemente da destruição do reino do norte. Jerusalém cresceu rapidamente e cidades como Lachish, que servia de passagem antes de chegar a Jerusalém, foram fortificadas. Era o momento de Judá tomar a frente dos hebreus. Para isso, precisaria de duas coisas: um rei forte e um arsenal ideológico capaz de convencer as tribos do norte de que Judá fora escolhida por Deus para unir os hebreus. Além disso, era preciso combater o politeísmo que voltava a crescer no norte.

 

Josias foi o candidato a assumir a posição de rei unificador. Durante uma reforma no Templo de Jerusalém, em seu governo, foi “encontrado” (na verdade, não há dúvidas de que o livro foi colocado ali de propósito) o livro Deuteronômio, com todos os ingredientes para um ampla reforma social e religiosa. O livro possui até profecias que afirmam, por exemplo, que um rei chamado Josias, da casa de David, seria escolhido por Deus para salvar os hebreus. Ungido pelo relato do livro, o ardiloso Josias consegue seu objetivo de centralizar o poder, mas acaba morto em batalha. Judá revolta-se contra os assírios e o rei da Assíria, Senaqueribe, invade a região, destruindo Lachish e submetendo Jerusalém. A destruição de Lachish, narrada com riqueza de detalhes na Bíblia, também aparece num relevo encontrado em Nínive, a antiga capital assíria. E as escavações comprovaram que a Bíblia e o relevo são fiéis ao acontecido. Ou seja: nesse caso, a arqueologia provou que a Torá foi fiel aos fatos.

 

Jesus

Segundo o Novo Testamento, Jesus nasceu em Belém, uma cidadezinha localizada oito quilômetros ao sul de Jerusalém, filho do carpinteiro José e de uma jovem chamada Maria, que o concebeu sem macular sua virgindade. Os evangelhos de Lucas e Mateus afirmam que Jesus nasceu “perto do fim do reino de Herodes”. O texto de Lucas afirma que a anunciação aconteceu em Nazaré, onde José e Maria viviam, mas eles foram obrigados a viajar até Belém pelo censo “ordenado quando Quirino era governador da Síria”.

 

Hoje, o que se sabe de concreto sobre Jesus é que ele nasceu na Palestina, provavelmente no ano 6 a.C., ao final do reinado de Herodes Antibas (que acabou em 4 a.C.). A diferença entre o nascimento real de Jesus e o ano zero do calendário cristão se deve a um erro de cálculo. No século VI, quando a Igreja resolveu reformular o calendário, o monge incumbido de fazer os cálculos cometeu um erro. Além disso, é praticamente certo que Jesus nasceu em Nazaré e não em Belém. A explicação que o texto de Lucas dá para a viagem de Jesus até Belém seria falsa. Os registros romanos mostram que Quirino (aquele que teria feito o censo que obrigou a viagem a Belém) só assumiu no ano 6 d.C. – 12 anos depois do ano de nascimento de Jesus. A história da viagem a Belém foi criada porque a tradição judaica considerava essa cidade o berço do rei David – e o messias deveria ser da linhagem do primeiro rei dos judeus.

A concepção imaculada de Maria é um dos dogmas mais rígidos da Igreja, mas nem sempre foi um consenso entre os cristãos. Alguns textos apócrifos dos séculos II e III sugerem que Jesus é fruto de uma relação de Maria com um soldado romano. A menina Maria teria 12 anos quando concebeu Jesus. Na rígida tradição judaica, uma mulher que engravidasse assim poderia ser condenada à morte por apedrejamento. O velho carpinteiro José, provavelmente querendo poupar a menina, casou-se com ela e escondeu sua gravidez até o nascimento do bebê. A data de 25 de dezembro não está na Bíblia. É uma criação também do século VI, quando o calendário foi alterado.

 

A Bíblia afirma que Jesus teve duas irmãs e quatro irmãos: Tiago, Judas, José e Simão. Mas não se sabe se esses eram filhos de Maria ou de um primeiro casamento de José. Muitos teólogos afirmam que eles eram, na verdade, primos de Jesus – em aramaico, irmão e primo são a mesma palavra. A Bíblia não fala quase nada sobre a infância e a adolescência de Jesus, com exceção de uma passagem em que, aos 12 anos, numa visita ao Templo de Jerusalém durante a Páscoa, seus pais o encontram discutindo teologia com os sábios nas escadarias do templo do monte. É quase certo, porém, que ele cresceu em Nazaré.

 

Jesus falava certamente o aramaico, a língua corrente da Palestina e, provavelmente, entendia o hebreu por ter tomado lições na sinagoga e por ler a Torá. Os evangelhos apócrifos o pintam como um menino Jesus travesso, capaz de dar vida a figuras de barro para impressionar os colegas e até mesmo a fulminar um menino que esbarrou em seu ombro, para ressuscitá-lo logo em seguida, depois de tomar uma bronca do pai.

Certamente José procurou iniciá-lo na arte da carpintaria e é provável que Jesus tenha trabalhado como carpinteiro durante um bom tempo. Oportunidade não lhe faltou. Escavações recentes revelaram que ao mesmo tempo em que Jesus crescia em Nazaré, bem próximo era construída a monumental cidade de Séfores, idealizada por Herodes Antibas para ser a capital da Galiléia. Séfores estava a uma hora a pé de Nazaré e é muito provável que José e Jesus tenham trabalhado ali. Em Séfores Jesus teria visto a passagem da família real de Herodes Antibas e a opulência das famílias de sacerdotes do Templo de Jerusalém. O fato de Jesus ter passado boa parte da sua vida ao lado de Séfores indicaria que ele não era um camponês rústico como já se pensou, mas tinha contato com a cultura do mundo helênico.

 

Aos 30 anos, Jesus se fez batizar por João Batista nas margens do rio Jordão. Segundo a Bíblia, durante o batismo João reconhece Jesus como o messias. Há registros históricos da existência de João Batista e, recentemente, arqueólogos encontraram entre o monte Nebo e Jericó, nas margens do rio Jordão, ruínas de um antigo local de peregrinação por volta do século III d.C.

 

Decidido a cumprir sua missão na terra, Jesus dirigiu-se então para a Galiléia, onde recrutou seus primeiros discípulos entre os pescadores do lago Tiberíades. Passou a viver com seus primeiros seguidores em Cafarnaum, cidade de pescadores próxima do lago de Tiberíades. Por dois anos Jesus pregou pela Galiléia, Judéia e em Jerusalém, proferindo sermões e contando parábolas. Segundo a Bíblia, realizou 31 milagres, incluindo 17 curas e seis exorcismos. Alguns dos mais famosos são a ressurreição de Lázaro, a transformação de água em vinho e a multiplicação dos peixes.

Cafarnaum, onde Jesus teria vivido com seus discípulos, era um povoado de cerca de 1 500 moradores naquela época. Escavações encontraram os restos da casa de um dos discípulos, provavelmente de Simão Pedro (hoje conhecido como São Pedro), além de um barco datado da mesma época da passagem de Cristo pelo lugar. Não há, porém, certeza quanto ao número de discípulos que viviam próximos de Jesus. Nos evangelhos, apenas os oito primeiros conferem – os quatro últimos têm muitas variações. A hipótese mais provável é que o número “redondo” de 12 discípulos foi uma invenção posterior para espelhar, no Novo Testamento, as 12 tribos dos hebreus descritas no Velho Testamento.

 

Depois de viajar por quase toda a Palestina, Jesus parte para cumprir seu destino – ou, segundo alguns especialistas, seu plano. Durante a semana da Páscoa, o principal evento religioso do calendário judeu, Jesus entra em Jerusalém montado num burro e atravessando a Porta Maravilhosa. Esse foi, certamente, um ato deliberado de provocação aos sacerdotes do Templo e à elite judaica. Jesus faz exatamente o que o profeta Zacarias afirmava na Torá que o messias faria ao chegar. Jesus estava mandando uma mensagem de provocação aos sacerdotes do Templo. No segundo dia da Páscoa, Jesus vai ao Templo e ataca os mercadores e cambistas raivosamente.

Na quinta-feira, percebendo que o cerco apertava, os apóstolos celebram com Jesus a última ceia. A imagem que ficou dessa cena, gravada por Da Vinci e outros pintores, nada tem de verdadeiro. Os judeus comiam deitados de flanco, como os romanos, e as mesas eram ordenadas em formato de U e não dispostas numa linha reta. Durante a ceia, Judas levanta-se para trair seu mestre – ou, como alguns sugerem, para cumprir uma ordem dada pelo próprio Jesus. A captura acontece no Jardim do Getsêmani, onde Jesus e seus discípulos descansavam no caminho para Betânia, onde ficariam hospedados.

 

Levado para o Sinédrio, o Conselho dos Sacerdotes do Templo, Jesus reafirma sua missão divina e é condenado. Existem provas da denúncia de Caifás a Pilatos. Estudiosos judeus afirmam, porém, que o julgamento perante o Sinédrio jamais ocorreu porque o Sinédrio não se reunia durante a Páscoa. Essa versão teria sido incluída tardiamente na Bíblia após a ruptura definitiva entre cristãos e judeus. Jesus foi morto pelos romanos porque era considerado um agitador político.

 

Na manhã de sexta-feira, na residência do prefeito Pôncio Pilatos, Jesus é condenado à morte. Ele atravessa as ruas de Jerusalém carregando sua própria cruz e é crucificado entre dois ladrões. O caminho que Jesus percorreu nada tem a ver com a Via Crúcis visitada pelos turistas hoje. Ela é uma criação do século XIV, quando a cidade esteve nas mãos dos cavaleiros cruzados. A maioria dos historiadores e arqueólogos concorda, porém, que o morro do Calvário (Gólgota), localizado ao lado de uma pedreira, foi realmente o lugar da crucificação. Concordam também que seu corpo tenha sido colocado numa das grutas próximas. O que aconteceu então depende da fé de cada um. Há varias versões: que Jesus teria sobrevivido ao martírio, que outra pessoa teria morrido em seu lugar, que seu corpo teria sido roubado ou, claro, que ele teria ressuscitado.

 

Jerusalém

Quando Jesus atravessou a Porta Maravilhosa em seu burrico, Jerusalém era a maior cidade do Império Romano entre Damasco (atual capital da Síria) e Alexandria (no Egito), com uma população estimada em torno de 80 000 moradores. Durante a semana da Páscoa, porém, o número de peregrinos na cidade ultrapassava 100 000, o que dá uma idéia do clima de agitação vivido na cidade: carros de boi dividiam as ruas estreitas com os pedestres e havia um grande vaivém de animais sendo trazidos para o sacrifício durante as festividades.

Conquistada pelos romanos em 63 a.C., Jerusalém estava no auge do seu esplendor arquitetônico. Onde quer que chegasse seu império, os romanos faziam questão de introduzir seu estilo arquitetônico em obras como estradas, palácios, anfiteatros e hipódromos. Em 31 a.C., os romanos haviam colocado o judeu Herodes Antibas como governador da Palestina. Sua principal obra foi a construção do Templo de Jerusalém, cujo tamanho e riqueza foram pensados para rivalizar com o templo salomônico descrito na Torá. As obras haviam terminado no ano 10 a.C. – quatro anos antes do nascimento de Jesus.

A cidade era dividida entre as partes alta e baixa. Na alta, escavações recentes mostraram que a elite da cidade tinha uma vida requintada. As casas tinham normalmente dois andares, e eram construídas ao redor de um pátio pavimentado de pedra. Havia piscinas privadas para os rituais de purificação. Os pisos eram cobertos por mosaicos e as paredes, por afrescos com cenas campestres. Também foram encontrados copos de vidro finamente trabalhados e frascos de perfume.

A riqueza da elite judaica era alimentada pela cobrança de taxas dos peregrinos. Para as convicções rígidas de Jesus sobre riqueza e ostentação, era inadmissível o estilo de vida dos sacerdotes e do rei judeu Herodes, que aceitavam e se beneficiavam com a dominação dos pagãos romanos. Não é possível afirmar que Jesus estava decidido a morrer crucificado naquela semana de Páscoa, mas há elementos para admitir que ele havia decidido ir até as últimas conseqüências para denunciar a situação. O resultado todos nós sabemos.

 

Paulo

No ano 36 d.C., vivia na Antióquia (Turquia) um judeu helenizado chamado Paulo de Tarso. Além de cidadão romano, era também um soldado do imperador, cuja função era perseguir cristãos. Mas, em 36 d.C., Paulo converteu-se à fé cristã, segundo ele depois que Jesus lhe apareceu milagrosamente. A partir de então, Paulo se transformaria no mais decidido e incansável apóstolo do Cristianismo.

A principal preocupação de Paulo era converter os gentios (os não-judeus) espalhados pelo império. Em 16 anos, fez quatro grandes viagens por Grécia, Ásia, Síria e Roma. Foi o primeiro a escrever sobre o Cristianismo nas 14 cartas que enviou às comunidades cristãs que havia fundado. Paulo achava que a mensagem de Cristo não podia ficar confinada na Palestina.

Em Jerusalém, porém, os judeus cristãos, liderados pelo irmão de Jesus, Tiago, estavam voltando às origens judaicas. Se não fosse por Paulo, é bem provável que o Cristianismo acabasse por ser reassimilado pelo Judaísmo, extinguindo-se. Para resolver suas divergências, provavelmente em 49 d.C., houve o primeiro concílio da igreja cristã em Jerusalém. Pela primeira vez enfrentaram-se Paulo e os seguidores sobreviventes de Jesus.

Ali começou a ser edificado o Cristianismo atual. Paulo lutou contra a circuncisão obrigatória para os convertidos – algo que certamente afastaria muitos homens gentios. E defendeu a revogação das leis e prescrições judaicas em favor dos preceitos simples de Cristo. Sua opinião prevaleceu principalmente porque o apóstolo Pedro convenceu-se de que ele estava certo.

 

Em 59 d.C., Paulo foi novamente convocado a se explicar e, no debate que se seguiu, obrigado, pela ala judaica, a adorar o Templo de Jerusalém como demonstração de fé. Durante a visita, foi identificado e preso e, em 60 d.C., deportado para Roma – onde ficou em prisão domiciliar. Em 64 d.C., quando Nero mandou perseguir os cristãos, Pedro e Paulo acabaram presos e condenados à morte. Pedro foi crucificado e Paulo, por ser cidadão romano, teve o privilégio de ser decapitado.

 

Em 70 d.C., durante uma revolta dos judeus contra a dominação romana, Tito destruiu Jerusalém e seu templo, obrigando os judeus a fugir da Palestina. O desaparecimento dos que se opunham à visão universalizante que Paulo tinha do Cristianismo abriu caminho para sua visão da fé. O centro de gravidade do Cristianismo deslocou-se para Roma, que, em poucos séculos, passaria a ser o centro da cristandade.

Uma bela história. Seja a da versão bíblica oficial, a apócrifa ou a que a ciência hoje propõe como a que tem mais chances de ser verdadeira.

 

O que se sabe com certeza é que Jesus foi um judeu sectário e um agitador político que ameaçava levantar dois milhões de judeus da Palestina contra o exército de ocupação romano. Tudo o mais que se diz dele necessita da fé para ser considerado verdade

 

A libertação do Egito

O que diz a Bíblia – No Êxodo, Deus escolhe Moisés como libertador do povo hebreu, envia as Dez Pragas e divide as águas do Mar Vermelho. No Monte Sinai, já a caminho da Terra Prometida, Moisés recebe as tábuas dos Dez Mandamentos.

 

O que diz a Arqueologia – Não há qualquer registro da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. Aliás, boa parte dos reinos e locais citados na sua jornada também não existiam no século XIII a.C. e só surgiriam 500 anos depois. A escolha do lugar que passou a ser conhecido como Monte Sinai ocorreu entre os séculos IV e VI d.C. por monges bizantinos.

 

O Dilúvio universal

O que diz a Bíblia – Segundo o Gênesis, um grande dilúvio destruiu a Terra. Noé e sua família, avisados, construíram uma arca para salvar um casal de cada espécie animal.

O que diz a Arqueologia – Ruínas achadas no Mar Negro, próximo da Turquia, mostram que houve uma enchente catastrófica por volta de 5600 a.C. O nível do Mar Mediterrâneo subiu e irrompeu pelo Estreito de Bósforo, inundando a planície onde hoje está localizado o Mar Negro. Na época, a região era uma planície de terras férteis, com um lago. Sobreviventes dessa catástrofe migraram para a Mesopotâmia. Assim teria surgido a história do dilúvio no texto sumério de Gilgamesh. Os hebreus conheceram a história quando estiveram cativos na Babilônia.

 

A conquista de Canaã

O que diz a Bíblia – Depois da libertação do Egito, Moisés conduziu os hebreus até a entrada da Terra Prometida. Ali, os israelitas enfrentam os nativos canaanitas com uma ajuda divina: ao toque de suas trombetas, as muralhas de Jericó desabam miraculosamente.

O que diz a Arqueologia – Jericó nem tinha muralhas nesse período. Na verdade, a tomada de Canaã pelos hebreus acontece de forma gradual, quando as tribos hebraicas trocam o pastoreio pela agricultura dos vales férteis. A história da conquista foi escrita durante o século VII d.C., mais de 500 anos depois da chegada dos hebreus aos vales cananeus.

 

A saga do rei David

O que diz a Bíblia – Após derrotar Golias, David firma-se como rei dos hebreus, submetendo primeiro a tribo de Judá e, posteriormente, todas as 11 tribos israelitas.

O que diz a Arqueologia – Em 1993 foi encontrada uma pedra de basalto datada do século IX a.C. com escritos que mencionam a existência de um rei hebreu chamado David. Mas não há qualquer evidência das conquistas de David narradas na Bíblia. David pode ter sido o líder de um grupo de rebeldes vindos de camadas pobres dos cananeus que, nessa época, atacava as cidades do sul da Palestina.

 

A guerra assíria

O que diz a Bíblia – Por volta de 700 a.C., o rei Ezequias, de Judá, revolta-se contra os assírios. Judá é atacada e a cidade de Lachish é completamente destruída.

O que diz a Arqueologia – Os fatos são narrados com precisão histórica. Achados arqueológicos permitiram reconstruir o cenário da batalha descrita na Bíblia. Além disso, a destruição de Lachish pelos assírios foi expressa num relevo em Nínive, a capital assíria, e as imagens batem com a narrativa bíblica.

 

Império de Salomão

O que diz a Bíblia – Salomão sucedeu a seu pai, David, fez alianças com reinos vizinhos e construiu o Templo de Jerusalém. Em seu reinado, os israelitas alcançaram opulência e poder. Salomão construiu palácios e fortalezas em Jerusalém, Megiddo, Hazon e Gezer.

O que diz a Arqueologia – Não há sinal de arquitetura monumental em Jerusalém ou em qualquer das outras cidades citadas. Tudo leva a crer que Salomão, como David, eram apenas pequenos líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo.

 

As dez pragas que Deus teria enviado para salvar os judeus da escravidão no Egito podem ser um eco fantasiado de uma catástrofe ecológica que realmente aconteceu no Egito. Veja abaixo quais são as pestes e como a ciência explica cada uma delas.

 

1. As águas do Nilo se tingem de sangue

Uma mudança climática repentina esquenta a água do Nilo e provoca a reprodução descontrolada de Pfiesteria, uma alga que provoca hemorragias nos peixes, matando-os e intoxicando as águas com sangue.

 

2. Rãs cobrem a terra

A intoxicação das águas faz rãs e sapos fugirem, espalhando-se por toda a região.

 

3. Mosquitos atormentam homens e animais

A morte dos sapos produz uma superpopulação de insetos, inclusive do terrível maruim, um pequeno mosquito de picada dolorida.

 

4. Moscas escurecem o ar e atacam homens e animais

Outro tipo de inseto, a mosca dos estábulos, transforma-se em praga, atacando todo tipo de mamífero que encontra.

 

5. Uma peste atinge os animais

A peste eqüina africana e a peste da língua azul são doenças transmitidas pelo maruim e que atingem mamíferos.

 

6. Pústulas cobrem homens e animais

O mormo, uma doença eqüina que também ataca o homem, é transmitida pela mosca dos estábulos. Ela produz úlceras na pele.

 

7. Chuva de granizo destrói plantações

O granizo pode cair nas regiões desérticas do Mediterrâneo, embora seja um fenômeno relativamente raro.

 

8. Nuvem de gafanhotos ataca plantações

Os gafanhotos também são uma praga conhecida na região.

 

9. Escuridão encobre o Sol por três dias

Uma tempestade de areia pode durar dias e é capaz de encobrir completamente a luz do Sol.

 

10. Os primogênitos de homens e animais morrem

Cereais guardados em celeiros ainda úmidos podem desenvolver um bolor altamente tóxico. Como no Egito antigo os primogênitos (tanto humanos quanto dos animais) tinham a precedência na alimentação, em tempos de escassez eles foram os primeiros a ser fatalmente intoxicados pelo bolor.

 

A vida ao redor do templo

A Jerusalém que Jesus conheceu estava em seu auge de poder e beleza. Conquistada pelos romanos, em 63 a.C, a cidade passou por uma completa reformulação, que incluiu a construção de arenas, hipódromo, palácios e, principalmente, o impressionante templo erguido por Herodes Antibas, que Jesus visitou quando criança e poucos dias antes da sua morte. Dessa obra gigantesca restam, hoje, apenas um muro, que os judeus modernos chamam de Muro das Lamentações. Jesus foi muito provavelmente crucificado no Monte Calvário, como narra a Bíblia. Mas o percurso conhecido hoje como Via Crúcis não tem nada de histórico: foi inventado no século XIII pelos cavaleiros cruzados.

 

Pescador de homens

O que diz a Bíblia – Depois de ser batizado por João Batista e sofrer as tentações no deserto, Jesus foi para a Galiléia, onde recrutou seus primeiros discípulos entre os pescadores do lago Tiberíades. Escolheu viver com seus seguidores em Cafarnaum, uma pequena vila de pescadores.

O que diz a Arqueologia – Cafarnaum existiu e era um povoado com cerca de 1 500 moradores na época em que Jesus viveu. Escavações encontraram os restos de uma casa que pode ter sido de um dos discípulos, provavelmente de Simão Pedro, o primeiro a ser recrutado por Jesus.

 

Infância desconhecida

O que diz a Bíblia – Não há quase nada sobre a infância e a adolescência de Jesus, com exceção de uma passagem em que, aos 12 anos, numa visita ao Templo de Jerusalém durante a Páscoa, seus pais o encontram discutindo teologia com os sábios nas escadarias do templo de Jerusalém.

O que diz a Arqueologia – Escavações recentes revelaram que, ao mesmo tempo em que Jesus crescia em Nazaré, bem próximo era construída a monumental cidade de Séfores, idealizada pelo rei hebreu Herodes Antibas para ser a capital da Galiléia. Séfores estava a uma hora a pé de Nazaré e é muito provável que José e Jesus tenham trabalhado como carpinteiros em sua construção. Em Séfores, Jesus teria visto a família real, a opulência das famílias dos sacerdotes do Templo de Jerusalém e, provavelmente, teve contato com a cultura dos hebreus helenizados.

 

Na livraria

The Bible Unearthed Israel Finkelstein e Neil Silberman, Free Press, 2001

What Did the Biblical Writers Know & When Did They Know it? William G. Dever, Erdmans, 2001

Excavating Jesus: Beneath the Stones, Behind the Texts John Dominic Crossan e Jonathan L. Reed, Harper San Francisco, 2001

The Oxford History of the Biblical World Michael D. Coogan, Oxford University Press, 1998

The Cambridge Companion to the Bible Howard Clark Kee, Eric M. Meyers, John Rogerson e Anthony J. Saldarini, Cambridge University Press, 1997

 

Na internet

Biblical Archaeology Society www.bib-arch.org

Pra acabar com as religiões

Autor: Jeronimo Freitas 30/abril/2011

Do mesmo jeito que um laboratório que vende medicamentos destinados a melhorar a saúde física e mental das pessoas, deve comprovar a eficácia de seu produto e é obrigado a deixar claro na bula seus efeitos colaterais, o padre na missa deveria deixar claro que não há evidências sobre a existência de Deus e que tudo que ele vai falar é baseado em textos de um livro que, embora ele creia e ache justo, não há provas de que seja divino.”

Não faz muito tempo iniciou-se um combate ao binômio álcool e volante. Até pouco tempo atrás as pessoas podiam beber e dirigir sem serem nem mesmo importunadas e muito menos condenadas por isso. Hoje elas continuam podendo fazer as duas coisas, mas não podem mais dirigir sob o efeito do álcool. Da mesma forma, é proibido a um adolescente comprar bebida alcoólica, assistir a filmes pornôs e votar. Essas coisas são proibidas principalmente pelos seguintes motivos.

  1. O álcool, a partir de certa quantidade, diminui os reflexos do condutor, o seu senso de responsabilidade e põe em risco sua própria vida e a de terceiros.
  2. A interdição da pornografia visa proteger a formação moral e um caráter ainda fortemente influenciável, da falsa idéia de que possamos aceitar como sendo normal, um comportamento julgado inaceitável dentro da sociedade em que ele vive.
  3. A interdição do voto a um menor visa proteger a sociedade das escolhas inconseqüentes de alguém que ainda não teve tempo suficiente para amadurecer uma visão critica e abrangente da complexidade cultural, social, econômica, histórica e política de seu país e do mundo.

Por isso eu me pergunto por que então as religiões não são igualmente regulamentadas? Os textos religiosos, quando apresentados como verdade e modelo de conduta a pessoas emocionalmente fragilizadas ou intelectualmente despreparadas, assim como a crianças e  adolescentes, os põe, de uma só vez, diante de todos os perigos acima referidos. Desde a mais tenra infância, quando ainda são incapazes de racionalizar corretamente, ainda não têm uma visão global da complexidade do mundo em que vivem e ainda estão desprovidas das bases intelectuais necessárias para o desenvolvimento de um senso crítico equilibrado, as pessoas são apresentadas a uma série enorme de estórias fantásticas, de conceitos morais, de normas de conduta e de respostas às questões fundamentais, baseadas unicamente nos textos de um livro escrito entre 5000 e 1600 anos[1]. Como se pode permitir, justificar e incentivar uma coisa dessas? Será que eu estou exagerando em querer proteger as pessoas desse abuso de autoridade e da irresponsabilidade de pessoas que se baseiam apenas na fé, como um guia moral? Não creio. Eu acho que seria mais sensato nos mobilizarmos para tentar limitar o poder das religiões e convencer as autoridades a estipular regras para enquadrá-las de uma forma segura.

 

Eu não quero falar do islã radical, pois creio que seria muito caricatural falar da sua periculosidade, por isso não pretendo tomar como exemplo os atos terroristas da jihad islâmica e os castigos físicos da sharia. Vejamos apenas questões sociais relacionadas aos dogmas cristãos como o bulling homofóbico, a interdição do direito ao aborto, a proibição dos métodos contraceptivos e a propaganda falaciosa contra a ciência e a extorsão de inocentes por seitas inescrupulosas. Quantas vidas foram prejudicadas, quantas pessoas foram infelizes, morreram depressivas, foram assassinadas ou se suicidaram, por conta da culpabilidade ou do assédio religioso? Quanta gente foi forçada ou impedida de casar por causa de premissas religiosas?

 

Quem já assistiu ao filme O Pagador de Promessas? Quantas pessoas humildes e desesperadas enfrentaram suplícios físicos e psicológicos ao pagarem promessas para seres imaginários por causas de acontecimentos aleatórios? Digam-me, por favor, qual outro motivo, além do religioso, leva as pessoas a serem contra a união homossexual? Tem gente que argumenta que o “natural” é um casal ser constituído de macho e fêmea, pois se não, não produziram filhos e a nossa espécie acabaria. Isso é certo, se levarmos em conta que todo mundo esteja obrigado a reproduzir. Isso, por si só, já é uma premissa religiosa, a “crescei e multiplicai”. Esses críticos não levam em conta que as pessoas tenham direito de não sentirem a necessidade de conceber ou mesmo de criarem apenas seus filhos biológicos. Seria interessante refletir sobre os casais heterossexuais que querem ter filhos e não conseguem. Dever-se-ia então separá-los, já que a união matrimonial tem que ser heterossexual se não, não será prolífera? Recomendo a vocês esse excelente texto de Camilo Jr.[2]

 

A maioria dos crentes tem a visão ofuscada pela fé e não percebe a profundidade das “inconveniências” religiosas, certamente por terem crescido seguindo valores morais estabelecidos a 5000 anos. Quando o anacronismo desses conceitos se torna muito incontornável, eles apelam para o fato de que as religiões fazem mais bem que o mal. Será mesmo verdade? Eu sei que as religiões são responsáveis por muita coisa positiva. Elas estão por trás de programas para confortar pessoas emocionalmente desamparadas, retirar pessoas das drogas ou do álcool, pacificar os violentos, reabilitar criminosos, alimentar os famintos e abrigar desabrigados. Mas o grande equívoco das pessoas é pensar que caridade é exclusiva das religiões. Se formos realmente bons, devemos ajudar as pessoas sem ter que iludi-las com promessas fantasiosas. Os sem deus também são bons. Se os céticos ainda não são tão atuantes ou organizados, para fins filantrópicos, talvez seja pelo fato deles terem estado escondidos todos esses anos, fugindo do preconceito social e religioso. Talvez isso seja uma conseqüência do fato de os céticos terem espíritos independentes, e um senso crítico atuante, ao ponto de não se sentirem confortáveis em serem guiados ou comandados. Independentemente de qual motivo seja, fiquem certos de uma coisa. Nós estamos corrigindo as falhas. O importante a ser percebido agora é que, diferentemente da época da idade do bronze, hoje em dia não é mais necessário nos valermos de fábulas ou ameaças para promovermos o altruísmo e ajudarmos as pessoas. O grande problema das religiões está em seus efeitos colaterais. Como bem disse Christopher Hitchens: “Eu não tenho dúvidas que o Hamas efetue serviços sociais na faixa de Gaza.”[3]

Eu estou completamente de acordo com a idéia de que as pessoas devam ter direito à liberdade de expressão e o direito a acreditar naquilo em que quiserem. Esses Direitos Humanos estão, sem sombra de dúvidas, entre as maiores conquistas da democracia. Entretanto, eu milito para que razão prevaleça e que as crenças religiosas sejam mais rigidamente enquadradas pela lei e que haja um controle sobre a informação que elas veiculam. Ninguém acha normal deixar impune o charlatanismo. O conceito básico de charlatanismo é o uso da palavra para ludibriar outrem.

Eu já disse muitas vezes que quero acabar com as religiões. Eu sei que esse tipo de proposta assusta e machuca muita gente, notadamente os crentes[4] e os religiosos. Por isso eu gostaria de me explicar. Eu não quero erradicar as religiões da face da terra, eu não quero queimar igrejas nem livros, nem proibir as pessoas de cultuarem divindades. O que eu proponho é que a justiça enquadre as religiões como mitologia[5]. A justiça deve controlar esse discurso religioso que exerce uma influência capital na vida de bilhões de pessoas.

 

Sabemos que foi um fenômeno cultural, aliado ao uso da força, que transformou em mitologia as antigas crenças religiosas européias, outrora cultuadas por gregos, escandinavos, bretões, germanos, celtas, saxônicos e ibéricos e abriu espaço para o cristianismo na Europa e no resto do mundo. Está na hora de promovermos uma campanha para enquadrarmos a religião como fenômeno cultural. Eu sugiro começarmos limitando os subsídios a que elas têm direito. Eu não quero agredir ninguém, nem verbal, nem fisicamente. Eu quero levar as pessoas a discutirem essa idéia. Pôr a lei encima das religiões até que se chegue a algo como:

  • Vamos ser razoáveis. Enquanto vocês não provarem que o que dizem realmente aconteceu, vocês estarão obrigados a deixar isso bem claro para seus fiéis, antes, durante e depois do culto colocando, por exemplo, em vermelho, todo texto da Bíblia que não seja sustentado por fatos ou evidências.

 

Do mesmo jeito que um laboratório que vende medicamentos destinados a melhorar a saúde física e mental das pessoas deve comprovar a eficácia de seu produto e é obrigado a expor, na bula, seus efeitos colaterais, o padre na missa deveria deixar claro que não há evidências sobre a existência de Deus e que tudo que ele fala é baseado em textos de um livro que, embora ele creia e ache justo, não há provas de que seja divino. Ele deveria deixar bem claro que tudo o que se fala sobre Jesus Cristo advêm unicamente dos evangelhos que foram escritos entre cerca de trinta e cem anos, depois do suposto fato ter acontecido, por pessoas sob as quais não se sabe praticamente nada e que não foram testemunhas oculares do fato. Não há nenhuma outra fonte, que não seja evangélica, que dê suporte a esses fatos tão fantásticos e marcantes de uma época.

 

É realmente incrível pensar que o criador do universo veio à Terra, foi capturado, julgado, crucificado, morto e ressuscitado. Depois apareceu para as pessoas antes de subir aos céus e nada tenha sido registrado em nenhum livro de história da época, quando sabemos que esses livros já eram comuns naquele tempo e que foi inclusive graças a eles que soubemos muito do que sabemos sobre os romanos e outras civilizações do passado. É como se o fato de alguém ressuscitar seja algo sem importância pra ser registrado.

 

Vivemos numa época perigosa e já faz muito tempo que sabemos dos impactos da religião no mundo. Não devemos mais permitir que seja moralmente aceito que por causa de crenças compartilhadas por mais da metade da população do planeta, se tomem decisões, que afetam a vida de todos, baseando-se apenas na fé. Esse tipo de comportamento não é aceito em nenhuma outra área da nossa vida, porque a religião merece essa prerrogativa? A religião já teve a sua oportunidade de governar o mundo. Uma época que ficou conhecida como The Dark Age (a idade das trevas). Não vamos mais deixar que isso se repita. A fé é a desculpa que as pessoas dão para acreditarem em coisas sobre as quais ninguém foi capaz de provar que sejam verdadeiras. As religiões têm como objetivo convencer as pessoas a seguirem a sua verdade. Elas trabalham duro pra isso, elas constroem templos, arrecadam fundos, compram redes de TV, rádios e jornais, recebem subsídios públicos, elegem deputados e senadores, intervêm na política, bloqueiam o avanço da ciência, criam escola pra doutrinar crianças, julgam as pessoas e querem nos impor regras. Tudo isso em nome de um Deus que elas nunca conseguiram demonstrar que existe. Será que eu sou intransigente ou estou exagerando?

 

De acordo com a visão cristã, deus não deve se submeter a nenhuma moral. O que quer que ele diga é certo. Se deus mandar fazer algo, aquilo passa a ser a coisa certa a ser feita. Essa é uma visão psicótica e delirante. Ela é psicótica, pois quer te fazer crer que nós vivemos num mundo controlado por um senhor invisível. Se deus é bom e justo e quer nos guiar através de um livro, por que ele nos ditou um livro que apóia a escravidão? Porque ele nos deu um livro que nos incita a assassinar pessoas por causa de crimes imaginários? Vejamos os mulçumanos que estão se explodindo, nesse momento, achando que são soldados de deus. Não há nada nisso que um cristão possa criticar, do ponto de vista moral, a não ser o fato de que, para os cristãos, os mulçumanos seguem o deus errado. Pois se nos basearmos no mesmo tipo de lógica irracional, os mulçumanos apenas estão seguindo o que o deus deles, Alá, ditou e que encontra-se à disposição no Corão, traduzido em dezenas de idiomas. Para os cristãos, se os mulçumanos estivessem seguindo o deus correto, tudo o que eles fizessem de acordo com os textos sagrados, seria perfeitamente correto.

Eu não quero dizer que todos os cristãos são assim, psicopatas. O que eu quero mostrar é o horror da moral religiosa.

 

Só a religião pode impelir pessoas perfeitamente sãs e bem-intencionadas a acreditarem, aos milhões, em coisas que apenas lunáticos acreditariam individualmente. Se você acordar amanhã cedo, acreditando verdadeiramente que após dizer algumas palavras em latim para a sua torrada, ela vai se transformar no corpo de Michael Jackson, você será considerado um louco. Mas se você pensar que as mesmas palavras são capazes de transformar uma bolachinha no corpo de Jesus, você será apenas considerado um católico. (San Harris)

 

A maneira de amar deus é muito estranha. Ela condiciona a salvação a amá-lo sem ter provas de sua existência. Se você vivesse à 2000 anos, estaria tudo bem. Naquela época havia muitas provas, Deus vivia fazendo milagres, mas, ao que parece, deus cansou e agora o que restou foram apenas os relatos de seus feitos. Não podemos mais permitir que uma coisa assim continue influenciando a vida das pessoas, e causando tanto mal, em pleno século XXI.

Chegou a hora de nos levantarmos contra isso. O primeiro passo é mudar o status das religiões para o de simples mitologia!

 

Leitura complementar que mostra o abuso do poder religioso cristão nas escolas e repartições públicas brasileiras: http://bulevoador.haaan.com/2011/05/03/ameaca-a-liberdade-de-crenca/

 

 

[1] Me refiro aqui à Bíblia cristã.

 

[2] A sexualidade Humana <a href=”http://bulevoador.haaan.com/2011/03/19/sexualidade-humana/”>http://bulevoador.haaan.com/2011/03/19/sexualidade-humana/</a>;

 

[3] Hamas militancia em pró da independencia palestina, responsável pela norte de muitas pessoas, vítimas de seus atos terroristas na guerra contra Israel.

 

[4] Pela enésima vez digo que o termo crente significa “aquele que crê” e não apenas o cristão não católico, como se costuma dizer no Brasil.

 

[5] Religião, não. Mitologia : <a href=”http://bardoateu.blogspot.com/2011/03/religiao-nao-mitologia.html”>http://bardoateu.blogspot.com/2011/03/religiao-nao-mitologia.html</a>; e <a href=”http://bulevoador.haaan.com/2011/04/13/religiao-nao-mitologia/”>http://bulevoador.haaan.com/2011/04/13/religiao-nao-mitologia/</a>;