Holanda: Reanimação priva idosos de uma morte tranquila

Enquanto estamos indo, os holandeses já estão é voltando em vários assuntos éticos e morais. Nunca imaginei o assunto na forma como está a notícia:

 

Com a reanimação pode-se salvar vidas. É o que se vê nas séries de TV sobre médicos e hospitais, e nas campanhas de fundações do coração. Mesmo assim, médicos e enfermeiros acreditam que a ressuscitação de pacientes idosos e doentes muitas vezes não deveria ser feita. Quando o paciente sobrevive, com frequência há muitas outras complicações. E acima de tudo é preciso saber se o paciente realmente quer ser reanimado.

Erik van Engelen é paramédico de ambulância. Faz este trabalho há doze anos e já salvou muitas vidas. Também com reanimação. No entanto, ele cada vez mais tem dúvidas sobre a utilidade do procedimento, especialmente porque ele tira de idosos a chance de uma morte tranquila.

“Por exemplo, se temos que fazer uma reanimação em alguém com 88, 89 anos que teve a sorte de ter uma parada cardíaca. Nestes casos eu às vezes penso: seria bom que este senhor ou senhora pudesse ter dado seu último suspiro aqui, se nós não tivéssemos nos intrometido.”

Grito de angústia
Van Engelen escreveu recentemente um artigo para uma revista médica como um grito de angústia: ‘Permita ao paciente o seu fim’. Ele foi apoiado por profissionais de saúde que frequentemente lidam com pacientes idosos. Como paramédico de ambulância, Van Engelen sabe o quão drástica uma reanimação pode ser, especialmente em idosos.

“Os pacientes, por sua idade avançada, têm ossos frágeis. Você vai pressionar o peito, mas pode também quebrar um osso. Se quebra uma costela, isso pode causar um problema em um ou nos dois pulmões. As membranas dos pulmões podem ser perfuradas. E assim vai de mau a pior.”

Dilema
Paramédicos de ambulância são, pelas regras, obrigados a fazer reanimação quando reagem a um chamado. Mesmo que a chance de sobrevivência seja muito pequena. Só um médico pode se abster da ressuscitação. Piet Postema é clínico geral em Amsterdã há 35 anos. Ele compreende muito bem o dilema de Van Engelen. Em seu consultório, todos os anos morrem entre 20 e 30 pacientes.

“São quase todos idosos. Nós tentamos garantir que eles tenham uma boa morte. Isso é importante para eles, mas também para os parentes e amigos. Você tem que ter muita certeza para decidir que não vai ressuscitar. Esta pode ser uma decisão muito difícil.”

Por isso ele aconselha filhos e parceiros de seus pacientes idosos a pensar bem antes de chamar uma ambulância.

Imagem mágica
Segundo o sociólogo Hugo van der Wedden, pesquisas demonstram que a reanimação tem uma reputação quase mágica. Os holandeses acreditam que na metade dos casos ela é bem sucedida. Mas na verdade, na Holanda, apenas 15% dos pacientes sobrevivem com uma reanimação.

Por causa da imagem criada, existe um enorme tabu em relação à ideia de não reanimar as pessoas. Isso afeta particularmente os profissionais de saúde, afirma Van der Wedden.

“Acontece com frequência de enfermeiros estarem junto à cama de alguém que, no seu entender, está morto. Eles gostariam de retirar os tubos, com respeito pela morte. Mas a sociedade exige deles que saltem em cima do paciente e ainda usem um bom tanto de violência contra o corpo, quando eles na verdade não acreditam nisso.”

Morrer dignamente
Por isso ainda acontece, segundo Van de Wedden, que profissionais de saúde reanimem pacientes contra o que pede sua consciência, e assim privem a pessoa da chance de morrer dignamente.

A associação holandesa de geriatria defende que médicos e paramédicos que atendem situações de emergência se informem se o idoso quer ou não ser reanimado. Para obter esta informação, eles precisam se comunicar melhor com asilos e lares de idosos.

 

http://www.rnw.nl/portugues/article/reanima%C3%A7%C3%A3o-priva-idosos-de-uma-morte-tranquila

 

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