O que é Humanismo Secular?
Originalmente publicado no meu blog (Radiação de Fundo) e posteriormente no Bule.
Autores: Pedro Almeida e Eli Vieira
Confessamos que quando confrontados com esta questão, formular uma resposta concisa e com um mínimo de exatidão não é trivial. Não que seja difícil de entender o humanismo secular, mas é que parece já tão natural para nós a essência desta cosmovisão, que uma definição formal tem que ser ativamente e artificialmente articulada.
Por isso, uma tentativa de compilar o que pode definir o princípio humanista secular é feita a seguir.
Uma de suas características marcantes é o uso da razão como ferramenta primária de análise das questões humanas e também existenciais, em detrimento da fé ou misticismo. Acima de tudo, a razão – é possível derivar muitas conclusões relevantes através de ciclos de análise racional acerca da verdade, relevância ou lógica de alegações e impressões sobre o mundo.
Seja na busca de entendimento, ou de felicidade, a receita é a mesma: a felicidade que contenta não deriva da plenitude do pseudoconhecimento absoluto, mas da aceitação da razão como ferramenta principal da busca, dentro da praticidade real de se conhecer e entender a verdade objetiva e aceitar a realidade mais evidente, isto é, o conjunto de modelos que são apoiados por evidência factual.
Isto significa entender a realidade pela interpretação de fatos e tirar conclusões consistentes que estejam acima da dúvida razoável, desde os princípios de conduta, ética e moral até a análise de sistemas políticos, sociais e culturais. Aplicar o ceticismo e o naturalismo metodológico não só dentro da esfera científica, mas dentro de outras conclusões relevantes, pessoais ou coletivas, sobre o mundo.
É, desta forma, possível usar o humanismo secular como filosofia que serve não para dotar a vida de sentido único e absoluto, como alegam fazer as mais diversas correntes ideológicas baseadas em fé e dogma, mas para fazer cada um de nós buscar dentro de si mesmo o sentido que realmente lhe é relevante. Nada de receitas, doutrinas ou mandamentos – somente ferramentas para expandir as fronteiras do conhecimento humano, individualmente.
E estes valores epistêmicos se articulam com valores éticos: primeiro, se queremos diminuir o sofrimento no mundo, precisamos conhecer bem suas origens e aplicar teorias que tenham garantia funcional para dirimi-lo; Segundo, se queremos ter solidez em nossos conhecimentos, precisamos que mentes independentes naturalmente convirjam para as mesmas respostas, não pela força da convergência em si, mas pela força da unidade intrínseca do mundo natural.
E isso só pode ser feito com um projeto inclusivo, que tome a humanidade como grupo indivisível, em que todos têm vez e voz – exceto vez para excluir e voz para calar.