Pandora, Eva e as outras mulheres

Pandora foi a primeira mulher criada por Zeus, assim como Eva foi a primeira mulher criada por Deus, em ambas as mitologias, o mundo onde elas viviam era completamente desprovido dos pecados, de qualquer coisa que fosse nociva ao ser humano. No caso de Adão e Eva, esse era o paraíso.

E foi a curiosidade do proibido que condenou Adão e Eva, provocando sua expulsão do Jardim do Éden por terem provado do “fruto proibido” (apesar de muita gente insistir na maçã, em nenhum lugar da bíblia existe referência a esta fruta e a nenhuma outra, abrindo margem a inúmeras interpretações) enquanto que no caso de Pandora, ao abrir a caixa para ver o que tinha dentro (e tinha sido orientada a não fazê-lo), ela espalhou toda sorte de problemas, doenças, pecados sobre a terra.

Foi Eva quem seduziu Adão para comerem desse fruto. E na mitologia grega, Pandora seduz Epimeteu, guardião da caixa, e após uma noite de amor, ela rouba a chave para abrir a caixa.

Embora sejamos herdeiros da tradição judaico-cristã e o mito de Adão e Eva tenha sido consagrado como verdade literal e absoluta pelos teólogos fundamentalistas judeus e cristãos, estas histórias fantásticas serviram de pretexto para a legitimação do machismo, da opressão e demonização do sexo feminino. Ao longo da história as mulheres sempre foram condicionadas a categoria de ser inferior, devendo ser submissa aos homens, sendo considerada culpada por todas as desgraças que afligissem a sociedade. No Antigo Testamento existem inúmeras passagens em que as mulheres são relegadas a um segundo plano, tratadas muitas vezes como animais. Claro que existem muitas passagens que a beleza da mulher é exaltada, suas virtudes e sua maternidade posta em evidência (principalmente Maria mãe de Jesus), estas, porém são mínimas se comparadas as que exaltam o preconceito.

No Novo Testamento, Paulo afirma que as mulheres devem ser submissas aos seus maridos, o que eu não concordo, o referido apóstolo dos gentios faz muitas restrições às mulheres em suas epístolas, talvez devido ao fato de ser solteiro… creio que numa família o casal tem que andar juntos e não um subjugar o outro.

Ao longo da história, trechos bíblicos foram distorcidos para promover perseguições e atrocidades contra as mulheres, especialmente na Idade Média, onde muitas foram acusadas de bruxaria e foram massacradas pela Santa Inquisição.

As referidas mitologias demonizam a busca do ser humano ao conhecimento, a sabedoria, atribuições estas conferidas somente aos deuses em questão e a aquisição da mesma é considerada uma afronta às divindades, sendo a mulher condenada e castigada pelo seu atrevimento de desobedecer aos deuses e consequentemente apontada como responsável por todos os males que afligem a humanidade. Devido a isto, por séculos a humanidade viveu nas trevas da ignorância, quem questionava, ou buscava a sabedoria era eliminado, o conhecimento era atributo exclusivo de sacerdotes e de teocracias (reis que se diziam representantes de Deus na terra), principalmente na Antiguidade e na Idade Média.

A mulher devido a estas mitologias machistas sempre foi relegada ao sofrimento, desprezo, submissas, sem vez e voz, somente com o advento do século XX, as coisas começaram a mudar, as mulheres estão assumindo seu espaço e sendo respeitadas, tanto que teremos pela primeira vez em nosso país teremos uma mulher na presidência da república.

Sei que o dia dedicado às mulheres é o dia 8 de março, mas a bravura e a capacidade das mesmas deve ser exaltada sempre, é cada vez maior o número de mulheres que são chefes de família, criam os filhos sozinhas, trabalham fora e são exemplos de liderança e personalidade.

Fiz um breve comparativo das duas mitologias para mostrar o quão enraizado está o machismo em nossa cultura, nossa sociedade ainda desrespeita as mulheres e não lhes dá o devido valor, muitas delas são violentadas, mortas por seus parceiros, recentemente foi criada a Lei Maria da Penha para punir os agressores, felizmente as coisas estão mudando.
Muitas mulheres trabalham nas mesmas funções que os homens e seus salários são mais baixos, o que é um absurdo! E ainda existem muitas outras situações dentre as quais as mulheres são desrespeitadas.

Mulheres são guerreiras, batalhadoras, nem de longe são o protótipo de sexo frágil! Isto é rotulação machista, resquício de uma mentalidade arcaica e conservadora. É hora de revermos os nossos mitos e o quanto eles podem interferir em nossas vidas, devemos quebrar os paradigmas e proclamar a igualdade de direitos! Chega de intolerância e fanatismo provindo de mitos descabidos e ainda fartamente alardeados em cercanias fundamentalistas.

 

Adriano Couto

Dicionário Teísta

O que teístas realmente querem dizer quando falam…
“Ver a luz” – Começar a viver num mundo de sonhos.
“Se afastando de Deus” – Começar a viver no mundo real.Continua…

Medicina Complementar: Atual, futuro e filosofia.

– Este texto será publicado na revista XIX PET Farmácia UNESP. É de minha autoria e não deve ser divulgado sem avisar –

Medicina Complementar: Atual, futuro e filosofia.

 

O que leva as pessoas a usarem a medicina alternativa (ou complementar, de acordo com a definição mais contemporânea)?

Antes de responder a qualquer pergunta, precisamos definir a medicina complementar:

“Complementary medicine is diagnosis, treatment and/or prevention which complements mainstream medicine by contributing to a common whole, by satisfying a demand not met by orthodoxy or by diversifying the conceptual frameworks of medicine.” (Ernest. E., et al., British Journal of General Practice, 1995 September; 45(398): 506.)

Diversas pesquisas (ERNEST & WHITE, 2000; EISENBERG et al., 1993; FISHER & WARD, 1994; MACLENNAN et al., 1996) definiram a prevalência e os custos da medicina complementar em várias regiões do mundo. Pode-se notar nestes estudos que há um aumento na procura por estes tratamentos não ortodoxos.

O que motivaria este aumento? Podemos levantar hipóteses.

  1. Queda na qualidade da medicina ortodoxa.
  2. Maior divulgação da medicina complementar.
  3. Aumento do número de pessoas que possuem o perfil que busca terapias alternativas.

Uma pesquisa conduzida por ASTIN (1998) separou a primeira hipótese em outras duas hipóteses: Insatisfação com a medicina tradicional e maior controle sobre o tratamento.

A insatisfação poderia ser oriunda da ineficiência, efeitos colaterais e por ser impessoal e/ou demasiado científico (Uma livre tradução de “… too technologically oriented…”) e/ou muito caro.

Logo, qual seria o motivo? Esta mesma pesquisa levantou dados e encontrou como resposta algo revelador.

A pesquisa revelou que o principal fator que leva as pessoas a buscarem a medicina complementar é o fato de estarem alinhadas às crenças e ideologias pessoais. Estas mesmas pessoas tem maior nível de educação.

Um pensamento direto poderia inferir que pessoas com maior nível de educação procurariam por fatos para confirmar a validade do tratamento complementar que vai usar, visto que muitos carecem de evidências científicas (Como Reiki, por exemplo), ou já obtiveram resultados de que são placebos, como por exemplo, acupuntura (KLEINHENZ et al., 1999;  LEE et al., 2010; SCHARF et al., 2004;  SIM et al., 2011), homeopatia (ALTUNÇ et al., 2007; COOPER & RELTON, 2010; ERNEST, 2002; HALBERSTEIN et al., 2010; LINDE et al., 1997; SHANG et al., 2005) e florais de Bach (HALBERSTEIN et al., 2010).

Entretanto, os resultados demonstrados por ASTIN colocam um possível motivo para esta contradição. Como colocado por diversos filósofos, como Bertrand Russell, quando um pensamento ou uma posição em relação a algo é definido por estar alinhado com a posição filosófica, ideológica e/ou religiosa, há um grande apego, sendo para a pessoa algo indiscutível e imune a fatos contrários, não importando o quão absurdas são as proposições.

Claro que rapidamente poderíamos estender este fato para religião, ainda mais pelo fato de que muitas práticas da medicina complementar são ligadas ou compartilhadas com algumas religiões, mas este é outro ponto.

Logo, sabendo que grande parte das pessoas usa de terapias alternativas por causa de visão filosófica, e que graças à importância pessoal dada a esta filosofia não a questionam, podemos pensar o que explica os estudos que demonstram o aumento na busca por medicina alternativa.

Hipoteticamente, podemos imaginar que devido a ligação filosófica, pessoas que começam a frequentar terapias complementares, não a deixam (Os que deixariam seriam por troca de terapia, terem nascido em uma família adepta e em determinada idade ter notado o não alinhamento filosófico ou morte). Os números teriam naturalmente uma tendência a aumentar. Porém, há uma grande influência pessoal no circulo social, o que fariam uma fração das pessoas começarem a buscar estas terapias.

O efeito da experiência pessoal tem grande efeito influenciador, visto que gera ofensa caso alguém aja com ceticismo em relação a essa experiência, e que gera confiabilidade em pessoas menos céticas. Somando isso ao alinhamento filosófico da terapia propagandeada ao locutor, temos uma pessoa com real possibilidade de começar a usar da medicina alternativa.

Vemos que o poder da propaganda (pessoal e, hoje na mídia) pode ser um dos sistemas que explicam o aumento da busca.

Mas, isto não poderia demonstrar um incentivo em buscar formas alternativas de explicar o universo em detrimento à busca científica da mesma explicação? Um mundo que considera de modo filosófico, a ciência como menos importante que o misticismo, teria que rumo? Um extremo em que o desenvolvimento da “Cold Science” seria menos incentivada; Um meio termo, não menos desesperador, em que a medicina baseada em evidencias seria procurada em ultima ocasião; ou o aumento na busca pela medicina complementar cessaria, havendo um equilíbrio entre ambas as práticas? Ou outra possibilidade?

Uma situação extrema ou intermediária como possível futuro levanta questionamentos como: Tal crescimento é válido e seguro? Tal crescimento é inválido e danoso?

Os futuros profissionais e estudantes tem um futuro incerto pela frente que precisa ser discutido e estudado de modo livre de conflito de interesses.

 

Lucas Ercolin 

 

REFERÊNCIAS

 

ALTUNÇ U., et al., Homeopathy for Childhood and Adolescente Ailments: Systematic Review of Randomized Clinical Trials, Mayo Clinic Proceedings, v. 82, i.1, p. 69-75, 2007 January.

ASTIN J. A., Why Patients Use Alternative Medicine, Journal of the American Medical Association, v. 279, no. 19, 1998 May.

CASTRO A. O Assunto não é você.  http://www.interney.net/blogs/lll/2011/01/23/o_assunto_nao_e_voce/>; acessado em 29 de abril de 2011.

COOPER K. L., RELTON C., Homeopathy of insomnia: A systematic review of research evidence, Sleep Medicine Reviews, v. 14, i. 5, p. 329-337, 2010 October.

EISENBERG D. M., et al., Unconventional Medicine in the United States: Prevalence, costs, and patterns of use, The New England Journal of Medicine, v.328, i.4, p. 246-252, 1993 January.

ERNEST E., A systematic review of systematic reviews of homeopathy, British Journal of Clinical Pharmacology, v. 56, i. 6, p. 577-582, 2002 December.

ERNEST. E., WHITE A., The BBC survey of complementary medicine use in the          UK, Complementary Therapies in Medicine, v.8, i.1,  p. 32-36, 2000 March.

ERNEST. E., et al., Complementary medicine – a definition, British Journal of General Practice, 45(398): 506, 1995 September.

FISHER P., WARD A., Complementary Medicine in Europe, British Medical Journal, v. 309, p. 107-111, 1994 January.

HALBERSTEIN R. A., et al., When Less is Better: A Comparison of Bach® Flower Remedies and Homeopathy, Annals of Epidemiology, p. 20, i.4, p. 298-307, 2010 April.

KLEINHENZ J., et al., Randomised clinical trial comparing the effects of acupuncture and a newly designed placebo needle in rotator cuff tendinitis, PAIN, v. 83, p. 235-241, 1999 May.

LEE S., et al., Acupuncture and heart rate variability: A systematic review, Autonomic Neuroscience: Basic and Clinical, v. 155, p. 5-13, 2010 June.

LINDE K., et al., Are the clinical effects of homoeopathy placebo effects? A meta-analysis of placebo-controlled trials, The Lancet, v. 350, i. 9081, p. 834-843, 1997 September.

MACLENNAN A. H., et al., Prevalence and cost of alternative medicine in Australia, The Lancet, v. 347, i. 9001, Pages 569-573, 1996 March.

RUSSELL R., Ensaios Céticos. Porto Alegre, 2010. 240p.

SCHARF. HP., et al., Acupuncture and Knee Osteoarthritis: A Three-Armed Randomized Trial, Annals of Internal Medicine, Philadelphia, v. 145, no. 1, p. 12-20, 2004 July.

SHANG A., et al., Are the clinical effects of homoeopathy placebo effects? Comparative study of placebo-controlled trials of homoeopathy and allopathy, The Lancet, v. 366, i. 9487, p. 726-732, 2005 August.

SIM H., et al., Acupuncture for Carpal Tunnel Syndrome: A Systematic Review of Randomized Controlled Trials, The Journal of Pain, v. 12, no. 3, p. 307-314, 2011 March.

 

Por que sinto necessidade em promover o ateísmo

Autor: Jeronimo Freitas

 
 
 
 
Quando digo às pessoas que sou ateu, algumas tentam argumentar, primeiro para saber se ouviram bem o que eu disse e depois para, na melhor das boas intenções, compartilhar comigo o “bem” que a religião as proporciona. Essas pessoas muitas vezes não aceitam ou, na melhor das hipóteses, não compreendem como alguém pode viver bem, sem Deus. A maioria delas inicia um tipo de tentativa de evangelização. Entretanto quando rebato mostrando que não há evidências que sustentem a existência de seres supremos, elas argumentam que a fé não deve ser discutida e nem pode ser compreendida.
 
 
O ateísmo reconhece e respeita o direito de todos em acreditar nos espíritos dos antepassados, no Deus de Abraão, nas divindades do candomblé, nos deuses Indus, assim como, em Papai Noel, no unicórnio azul, nas sereias, ou em qualquer outra coisa, se isso ajuda alguém a viver melhor a curta existência humana. Eu por exemplo não vou querer convencer alguém com mais de 75 anos e que viveu uma vida sofrida e miserável, de que ele ou ela não vai ter outra vida depois dessa. Isso pode parecer inofensivo, mas as crenças e doutrinas religiosas tornam-se perigosas quando elas ameaçam a liberdade e a integridade dos indivíduos ou da sociedade. É por isso que os ateus são extremamente vigilantes sobre o poder das grandes religiões e seitas e combatem os seus abusos com todas as suas forças.
 
Antes de tudo, eu gostaria de dizer que há maneiras diferentes de se acreditar em Deus. (texto em italico retirado do livro: Deus um Delirio; Richard Dawkins)
 
“Um deísta acredita numa inteligência sobrenatural em cujas ações limitaram-se a estabelecer as leis que governam o universo. O Deus deísta nunca intervém depois, e certamente não tem interesse específico nas questões humanas.
 
Um teísta também acredita numa inteligência sobrenatural, mas uma inteligência que, além de sua obra principal, a de criar o universo, ainda está presente para supervisionar e influenciar o destino subseqüente de sua criação inicial. Em muitos sistemas teístas de fé, a divindade está intimamente envolvida nas questões humanas. Atende a preces; perdoa ou pune pecados; intervém no mundo realizando milagres; preocupa-se com boas e más ações e sabe quando as fazemos (ou até quando pensamos em fazê-las).
 
Os panteístas não acreditam num Deus sobrenatural, mas usam a palavra Deus como sinônimo não sobrenatural para a natureza, ou para o universo, ou para a ordem que governa seu funcionamento.
 
Os deístas diferem dos teístas pelo fato de o Deus deles não atender a preces, não estar interessado em pecados ou confissões, não ler nossos pensamentos e não intervir com milagres caprichosos. Diferem dos panteístas pelo fato de que o Deus deísta é uma espécie de inteligência cósmica, maior que o sinônimo metafórico ou poético dos panteístas para as leis do universo. O panteísmo é um ateísmo enfeitado. O deísmo é um teísmo amenizado”, um agnosticismo.
 
A crença em divindades passa a ser um problema quando as pessoas começam a acreditar na intervenção de deus no universo, sobretudo na vida da humanidade, independente do fato delas terem ou não uma religião. Por exemplo: Tem pessoas que acham as religiões incoerentes, ultrapassadas, surrealistas e inconsistentes e por isso, conversam diretamente com Deus sem o intermédio de uma religião ou um guia. Esse monólogo (para ser diálogo, Deus teria que responder) consiste geralmente em pedidos ou agradecimentos por “graças alcançadas”. O curioso é ver que quando a vida de muitas dessas pessoas encontra-se no estado tido como um “verdadeiro mar de rosas” elas se dirigem muito menos a Deus. Isso mostra a forte ligação entre as crenças e as dificuldades e incertezas da vida e ao grau de instrução das pessoas.
 
As pessoas são levadas às igrejas, às mesquitas e às sinagogas, desde a primeira infância, quando elas são inocentes e indefesas e aceitam o que os adultos dizem, sem questionar. Ainda mais quando esse adulto, o padre, o pastor, o imã, o rabino, é reconhecido como autoridade e como quem detém o conhecimento e goza do respeito da sociedade. A criança vê todos aqueles adultos se ajoelhando submissos, rezando, ouvindo e aceitando tudo. São os seus próprios pais, irmãos e amigos, tios e avós que estão lá. São as pessoas em quem eles mais confiam. Esse é o fenômeno de grupo, o fenômeno das massas. As crianças ouvem essas estórias de milagres, de poder, de bondade, de magia, de céu, de inferno, de diabo, de castigo, do bem contra o mal e então ficam assustadas, pois se sentem impotentes. Elas têm os seus cérebros lavados e são levadas a acreditar desde cedo, que não são nada diante de Deus. Todos os domingos, elas lêem um “Livro Sagrado” com a “Palavra de Deus”. Isso durante anos só pode resultar numa coisa: Na crença, na lavagem cerebral. A palavra Islã, por exemplo, significa submissão.
 
As crianças são rotuladas por pais que dizem que o filho de nove anos é católico, é muçulmano, é hindu, é judeu. Se perguntarmos qual é o partido político ao qual o menino se afiliou ou qual é a linha política que ele prefere entre social-democrata, neoliberal ou extrema direita, a maior parte desses pais vai responder que o filho ainda é muito pequeno pra essas coisas. Mas então eu me pergunto. Se a criança tem idade pra ter uma religião, arcando com todas as conseqüências que esta implicará no resto da sua vida, porque não tem idade para a política? Se analisarmos direito, a política tem um impacto tão direto e imediato na vida das pessoas quanto a religião. Por influencia da política ou da religião muitas pessoas tomam decisões que afetam a sociedade como um todo. Na África do Sul, país com a maior incidência de AIDS per capita no mundo, faz-se pouco uso do preservativo, por causa de dogmas católicos, pois o Papa J. Paulo II condenava e o Papa Bento XVI condena o uso de métodos contraceptivos, pregando que o sexo deve ser feito apenas depois do casamento e unicamente com o cônjuge para fins reprodutivos. Muito bonita essa visão (pra eles), mas o fato é que milhões foram infectados pelo HIV por causa disso.
 
A verdade é que uma criança de nove anos não tem idade nem pra política, nem para religião. Uma criança ainda não tem capacidade de responder pelos seus atos. Seus pais as estão privando do livre arbítrio (tão precioso pra o cristão) e do senso crítico. Eles as estão rotulando, segregando, tornando-as diferentes de muitas outras, e as coitadas não têm a mínima consciência disso.
 
Assim elas vão crescer e, se tiverem sorte, boa instrução e inteligência, poderão até escapar disso. Se não, dependendo do país onde vivam e da religião que sigam, poderão tornarem-se homens-bomba, se jogarem ao comando de um avião, repleto de inocentes, em cima de prédios cheios de pessoas igualmente inocentes, invadir salas de clinicas de aborto e traumatizar ainda mais, uma mãe adolescente que por mil motivos, não se sente preparada pra levar a termo uma gravidez e que por conta disso decidiu, malgrado a dor, passar pelo suplício de um aborto. Poderão apedrejar até a morte uma adolescente de treze anos, como aconteceu recentemente no Paquistão, por ela ter “cometido o erro” de ser estuprada. Poderão tentar fazer de tudo pra impedir a felicidade de homossexuais, poderão matar por causa da fé, pondo a premio a vida de uma pessoa por causa de uma simples caricatura de Maomé. É por isso que eu faço o que posso pra alertar as pessoas contra todos os males causados pelas religiões e por crenças sem fundamento.
 
Os pais dessas crianças, vão se justificar dizendo que o mais importante é o caminho para o céu, o paraíso, a palavra de Deus, a vida eterna e não a vida terrestre, pois essa vida aqui é apenas uma passagem. Quando na verdade. Ninguém, ninguém, ninguém, nunca, jamais, em tempo algum, PROVOU que existe vida após a morte. Dêem a desculpa que derem, falem do primo, da tia, do colega de um tal fulano, que conheceu um cara, que tinha uma vizinha, que teve uma tia, que ressuscitou, ou reencarnou, ou se comunicou desde o “outro lado”. Isso não existe! A vida é aqui, agora. Se fosse diferente já estaria provado de maneira irrefutável e não existiriam mais ateus. Ha apenas esta vida! Você pode achar que é duro, que é injusto, mas é assim. As pessoas não querem aceitar a idéia de ter que deixar de viver, de amar, de sentir prazer, alegria. E é aí, que dando falsas esperanças, as religiões conseguem atrair tanta gente.
Dentre as dificuldades que eu sentia pra dar o passo pra ser ateu, uma das maiores era aceitar que quando eu morresse tudo se acabaria par mim. O sucesso das religiões se baseia justamente nisso. A ilusão de uma vida eterna. Fica difícil pra um ateu competir com a religião, pois nós não agradamos a quem quer ser iludido com a promessa de outras vidas. Outras oportunidades. Uma “segunda chance”. Nós somos seres vivos, somos mamíferos tal qual também o é um cachorro. A grande diferença reside em nossa capacidade cerebral. Mas quando morrermos acabou-se. Você vai se sentir exatamente como se sentia antes de nascer.
 
Jeronimo Lemos de Freitas Filho. Bruxelas 11/10/2010.